Quando as mulheres decidem entrar na política, enfrentam gradações de isolamento que sufocam suas atuações de maneira cruel. O ambiente partidário é masculino, o ambiente eleitoral é masculino e quando são eleitas, os ambientes legislativos, principalmente, são masculinos.
Como exemplo, podem-se citar os percentuais de participação feminina nos cargos de poder da Câmara Federal em 2022 como o destino de um longo processo de exclusão.
Primeiro é preciso lutar, nas siglas partidárias, por verbas para fazer campanha. Nem as leis obrigando uma distribuição mais justa dos recursos garantem que elas terão condição para pedir votos em pé de igualdade. Quase nunca garantem.
Quando conseguem ir à rua pedir voto, encontram um paradoxo esquisito. A maior parte do eleitorado é feminino, mas ao longo dos anos a regra era que mulher não votava em mulher, necessariamente. Então, não há qualquer garantia de vantagem nesse ponto.
Somente nos últimos anos isso começou a mudar um pouco, mas é coisa rara ainda.
Quando ultrapassam, finalmente, todas essas barreiras, as mulheres chegam em minoria num ambiente que mais parece uma festa para a qual elas estão sempre sem convite. Os homens ficam mais à vontade entre homens e, sendo maioria, acabam se fechando em grupos prioritariamente masculinos.
Em 2022, os homens representavam 85,19% da Câmara Federal e as mulheres eram 14,81%.
Na Mesa Diretora, de 11 cargos, as mulheres ocupavam três assentos.
Quando a análise se estende para as comissões permanentes, piora: 92% eram comandadas por deputados homens e só 8% ficaram com as mulheres.
Na eleição de 2023, o número de eleitas aumentou, mas ainda é muito baixo. A representação feminina passou de 14,8% para 17%. As comissões ainda estão sendo definidas, mas não há indicativo de que os espaços terão muito mais mulheres.
É o resultado, ainda, de uma cultura que não entende a mulher como formuladora de soluções dentro da vida pública, já que até o voto feminino tem menos de 100 anos no Brasil.
Agora, quer um fato que é sintoma inconteste desse desprezo pela participação feminina na política? Brasília foi construída no fim dos anos 1950 e inaugurada no início dos anos 1960. Naquela época, o voto feminino já tinha quase 30 anos. Mulheres podiam votar e podiam ser votadas.
Mesmo assim, somente durante uma reforma, em 2016, é que um equipamento essencial foi instalado no plenário do Senado Federal: um banheiro feminino.
No projeto original não tinha. Ninguém lembrou. Só 55 anos depois da inauguração da cidade e do Congresso Nacional, perceberam que uma senadora precisava fazer xixi.
O básico é revelador
Aliás, um exercício interessante é procurar em casas legislativas espalhadas pelo país em que ano os banheiros femininos foram construídos ou definidos para uso das vereadoras e deputadas. Não há nada mais revelador dentro de uma sociedade do que a construção e o suporte àquilo que é básico. O Brasil ser péssimo, por exemplo, na cobertura de saneamento, é sinônimo de nosso desprezo pela saúde, principalmente das populações mais pobres, num país em que a desigualdade galopa. A construção de banheiros femininos para parlamentares é sintoma também. O da Câmara Municipal do Recife, só para ilustrar, é obra recente, de pouco mais de 10 anos. Depois de muita briga de parlamentares como Marília Arraes (SD), em sua passagem pela Casa.
Responsabilidade
A eleição, em Pernambuco, da primeira mulher governadora na História, pode representar mais uma virada de página nesse sentido. Raquel Lyra (PSDB) foi eleita numa disputa em que, pela primeira vez, percebia-se nas pesquisas eleitorais uma tendência de que mulheres teriam vantagem na campanha. Duas mulheres foram ao segundo turno e a atual gestora assumiu com as chaves do Palácio do Campo das Princesas uma responsabilidade grande também com as mulheres e com a representação feminina na política.
Na Rádio Jornal
Raquel Lyra estará hoje no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal. Ela será entrevistada pela bancada sobre os desafios das mulheres na política e os dela, como mulher, no governo de Pernambuco. Quem também participa do programa é a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que chamou a atenção do Brasil ao participar da CPI da Covid, em 2021, junto com a hoje ministra Simone Tebet (MDB). O Passando a Limpo começa às 9h na Rádio Jornal.
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