Cena Política

Quanto custa deixar alguém como Arthur Lira encantado com Lula?

Confira a coluna Cena Política deste domingo (12)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 12/03/2023 às 0:01
Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Um dos articuladores do Centrão, Arthur Lira (PP-AL) reina imperioso na falta de lideranças na Câmara - FOTO: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Há um mito sobre Lula (PT) como se ele fosse um encantador político capaz de vender areia no deserto e receber em ouro. O presidente é, realmente, um extraordinário resolvedor de arestas, que consegue convencer um interlocutor com facilidade fora do comum.

Mas, para figuras pragmáticas, conversa mole e cerveja gelada não bastam. Por isso não dá pra resolver uma guerra da Ucrânia sentando Putin e Zelensky numa mesa de bar, como sugeriu o próprio Lula em 2022 durante a campanha eleitoral.

O encantamento dos pragmáticos é muito mais material, e isso o presidente brasileiro só consegue quando está no poder.

O rei dos pragmáticos brasileiros, atualmente, atende pelo nome de Arthur Lira (PP).

O presidente da Câmara já estava impaciente. Lula conversou, conversou e não conseguia garantir uma base consistente para aprovar projetos no Congresso.

Lira alertou, deixou claro que o papo encantador do petista não resolve e indicou a solução: dinheiro, através de emendas.

Lula, finalmente, jantou com Lira na última quinta-feira (9). Todos saíram animados e o presidente da Câmara foi até convidado para viajar com o presidente da República à China no fim do mês.

Se mais dinheiro for liberado para os deputados nas próximas semanas, saberemos que Lira convenceu o presidente. Caso contrário, Lira “foi encantado” sem que o contribuinte tenha gasto nem um centavo.

Você aposta em qual opção?

Não é piada

Aconteceu em 2021, e parece muito uma anedota, mas não é. O proprietário de um abatedouro que funciona no Sertão do estado investiu bastante para deixar a empresa adequada tecnicamente para o funcionamento.

Havia o interesse de vender não apenas dentro de Pernambuco, mas também para outros estados como Piauí e Ceará. Para isso, era necessário ter tudo regularizado, inclusive junto à Adagro.

A Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco é a autarquia responsável pela saúde dos animais e vegetais e a qualidade de seus produtos e subprodutos no estado.

O problema é que esse empresário ligou várias vezes, fez ofícios e requisitou a presença do órgão em seu estabelecimento, mas a Adagro não ia.

A estrutura da autarquia é precária, faltava carro, faltava funcionário e nada de a inspeção acontecer.

Neste país, e neste estado, tem coisas que os empresários precisam fazer que parecem ficção. O dono do estabelecimento pensou e decidiu ir ao extremo: ligou para o Ministério Público e denunciou a própria empresa.

Disse que "um abatedouro, naquela cidade, estava funcionando de maneira irregular, sem passar pela fiscalização da Adagro e que aquilo podia prejudicar a saúde da população".

A denúncia mobilizou um promotor, que acionou a Adagro para “fiscalizar o matadouro com urgência”.

Chegando lá, estava tudo certo e o local foi liberado. Mas, só assim, o problema se resolveu.

Gripe

Apesar de engraçado, o caso é um alerta para outra situação, bastante séria. A Adagro é a principal barreira para evitar que a Gripe Aviária ou a Doença da Vaca Louca cheguem e se instalem em Pernambuco.

No caso da Gripe Aviária, por exemplo, um único caso significa uma tragédia para toda a economia local, porque todas as aves num raio de três quilômetros precisam ser imediatamente sacrificadas.

Hoje, a Argentina, vizinha do Brasil, passa por uma séria crise com a doença que se espalha através de aves migratórias e se instala em ambientes que não têm a devida proteção.

Quem fiscaliza essa proteção é a Adagro. A mesma que alguém já precisou se denunciar ao Ministério Público para poder receber uma visita dela.

Há uma preocupação muito grande com os nomes que vão ocupar cargos de segundo e terceiro escalão no governo nos próximos dias e a Adagro é um desses casos. Independente do nome, é preciso trabalhar uma reestruturação desses órgãos também.

E isso é urgente.

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