Um passo em falso pode colocar João Campos e o PT como "reféns" um do outro
Confira a coluna Cena Política deste domingo (10)

A relação entre o PT e o PSB em Pernambuco nunca foi de muitas alegrias sinceras. Agora, até que se prove o contrário, os petistas estão embarcados na gestão João Campos (PSB) no Recife, porém o comportamento é mais de incômodo e desconfiança do que de fraternidade.
O que quer o PT
Tirando os que estão no exercício de suas secretarias, os petistas não estão felizes, porque acham que merecem mais para 2024. Querem uma candidatura própria ou ao menos o posto de vice na chapa de João à reeleição.
Verba
A lógica é que se João for disputar o governo em 2026, deve acabar deixando a prefeitura para seu vice por dois anos, deixando também boa parte do dinheiro que o atual prefeito conseguiu por empréstimo, R$ 2 bilhões, para investimentos na cidade. Vem disso a expectativa do PT.
Amarrados
Mas a vice de João pode acabar se transformando em uma armadilha para os dois lados, socialistas e petistas. Como? O que se comenta nos últimos tempos é que Campos não será candidato em 2026, porque não iria arriscar uma campanha difícil, contra a governadora em reeleição, e abandonar a prefeitura abrindo mão dos investimentos que poderia fazer.
Se isso for realidade e o PT estiver na vice do PSB, petistas e socialistas se tornam “reféns” uns dos outros em 2026.
Apoio resolve?
Campos seria obrigado a apoiar o nome de um petista para o governo ou o PT seria obrigado a apoiar um nome socialista. Qualquer dessas candidaturas seria apoiada por Lula em Pernambuco, mas isso não adiantou para Marília Arraes (SD) em 2022 e pode surtir ainda menos efeito contra Raquel em 2026 se ela estiver bem avaliada até lá.
“Lulaquel”
Pesa ainda o fato de que Raquel e Lula se dão muito bem nos bastidores e ela ainda deve migrar para um partido mais próximo ao presidente nos próximos meses. Uma aliança mais formal entre o PSB e o PT no Recife em 2024 pode acabar atrapalhando os dois grupos em 2026.
Lula apoiaria, mas não faria muita força, não transformaria isso em ponto de honra, porque a vitória de Raquel numa reeleição não seria ruim pra ele.
Risco para João
Há ainda outro aspecto, esse o mais importante, a ser considerado por João antes de colocar o PT numa eventual vice no ano que vem. O perfil do eleitorado recifense carrega uma boa parcela de conservadorismo e isso ficou evidente em 2020, quando João precisou até atacar o PT para conseguir votos no segundo turno e vencer Marília Arraes.
Ter o PT no palanque é bom até certo ponto, mas entregar a vice, com a desconfiança de que ele vá ser candidato ao governo em 2026, pode virar tragédia.
Cresceu
A coluna teve informações sobre uma pesquisa encomendada pela equipe do prefeito do Recife, avaliando a gestão dele. Os números são muito bons, mas o que chamou a atenção de todos foi um crescimento entre os eleitores de classe média.
A classe média no Recife sempre foi um problema para o PSB e Campos conseguiu conquistá-la após organizar as contas e engrenar obras na cidade.
Abandonar ao PT
Colocar o PT na vice pode fazer com que o prefeito perca completamente o eleitor de classe média que custou tanto a conquistar nos últimos anos. Os adversários conservadores vão lembrar ao eleitor que “João pode ser candidato ao governo” e que vai “abandonar a prefeitura ao PT”.
Todo o trabalho de construção de aprovação que o prefeito fez pode acabar se perdendo. É um risco alto demais.