Com quem Lula realmente deveria se preocupar para a eleição de 2026
Confira a coluna Cena Política deste sábado (25)
A pesquisa Genial/Quaest da primeira quinzena deste mês chegou a ser usada por alguns petistas como a prova de que “Lula (PT) está bem”. Pois, se fossem mais atentos, deveriam estar bem preocupados.
O levantamento mostrou uma hipotética disputa entre o atual presidente e nomes do bolsonarismo como Michelle Bolsonaro (PL), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União), entre outros.
Nos percentuais, o líder petista venceria todos os possíveis candidatos. Os dados também mostram que Romeu Zema (Novo), Ratinho Júnior (PSD) e Caiado teriam poucas chances.
Michelle
Michelle Bolsonaro (PL) tem um ônus e um bônus: ser esposa de Jair Bolsonaro (PL). O lado bom é que ela teria fidelidade absoluta de todos os bolsonaristas mais radicais. O lado ruim disso é que ela teria rejeição altíssima e irremediável de todo o restante da população.
Todos esses fatores são positivos para a ideia de que Lula pode ficar tranquilo. Mas existe um risco grande para o atual presidente caso tente a reeleição: o capitão da reserva do Exército que os paulistas chamam de governador, Tarcísio de Freitas.
Lula x Tarcísio
A Quaest foi específica e perguntou em quem as pessoas votariam caso a disputa de 2026 fosse entre Lula e Tarcísio. O petista vence com 46% contra 40%.
Acreditar que essa diferença é larga não é responsável. Isso porque faltam quase três anos para a eleição de 2026, a margem de erro é de 2.2 pontos percentuais (o que os deixaria quase empatados), Tarcísio praticamente não tem oposição forte no estado de São Paulo, e Lula já cometeu um erro grave de antecipação com a campanha da capital paulista.
Mudou
O erro grave de Lula foi dizer, meses atrás, que a eleição em São Paulo seria entre “ele e Bolsonaro”, tentando fomentar uma polarização e usar uma possível vitória de Guilherme Boulos (PSOL) como impulso para sua própria aura de vitorioso e para crescer em 2026.
De quando Lula fez essa declaração para cá, o candidato adversário de Boulos e atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), cresceu nas pesquisas e buscou descolamento de Bolsonaro. Colou em Tarcísio de Freitas, que tem boa avaliação.
Lula fundou o apadrinhamento da eleição paulista, mas quem pode aproveitá-lo é seu provável adversário em 2026.
Apertado
Voltando para a margem de erro da pesquisa, quando se diz que ela é de 2.2 pontos, significa que Lula, com seus 46%, pode estar até com 43.8%, e Tarcísio que aparece com 40% pode estar até com 42.2%.
Pode ser o contrário, 48.2% (Lula) x 37.8% (Tarcísio)? Pode. Mas ao longo dos últimos anos os resultados dos bolsonaristas sempre surpreenderam além do que era apontado nas pesquisas. Dá para os petistas ficarem tranquilos?
Maniqueísmo
Não acabou. Tem mais. Lula está sendo, constantemente provocado a assumir uma posição dentro de uma discussão maniqueísta (e imbecil, exatamente por isso) entre gastar para ter resultados rápidos na economia ou economizar para preservar a saúde fiscal e um crescimento sustentável do país.
O maniqueísmo é imbecil porque limita a condução de um país inteiro à ação de apertar o botão azul da implosão por ausência de movimento ou o botão vermelho da explosão por excesso de velocidade.
Se o leitor não percebeu, as duas opções são ruins e atrasam o país. É um defeito das mentes limitadas por ideologias: quem só gira para um lado tende a andar em círculos.
Aprovação
Tarcísio, em São Paulo, entendeu o que a população esperava dele e atuou para reduzir os índices de violência. Se os métodos não são os mais humanos e devem ser condenados pela truculência, a verdade é que o eleitor médio paulista queria uma resposta às facções criminosas e ele está entregando.
O governador hoje está com 62% de aprovação, não dá para ignorar que o presidente petista, com muito mais complexidades para tratar, patina em rejeição considerável.
Se Lula não mudar em nada a direção do seu próprio governo, Tarcísio é um candidato fortíssimo a impedir seu quarto mandato, ao contrário do que pensam alguns petistas.
Nem tentar?
Agora, junte tudo isso com outro dado da pesquisa Quaest, apontando que 55% dos entrevistados acham que Lula não deveria nem tentar um quarto mandato em 2026. Nem quando o PT enfrentou o escândalo do Mensalão, antes da reeleição de Lula em 2006, o ambiente era tão potencialmente negativo.