Quando a realidade bate à porta da formalidade de um governo

"O poder formal é do governo. Mas o poder real está com o mercado, com os setores produtivos da economia", foi o que Lula ouviu de seis economistas.

Publicado em 03/07/2024 às 19:56

Bastou Lula (PT) falar em responsabilidade fiscal para que o dólar caísse e a Bolsa subisse. O poder de uma fala presidencial continua intacto no Brasil, é bom. Falta a prática. A moeda americana poderia cair ainda mais, caso o presidente brasileiro tivesse a necessária credibilidade para falar nisso.

Credibilidade, é bom lembrar, não é algo que se conquista repetindo indefinidamente que é responsável, mas agindo para sê-lo. 

Prática

O mercado, esse monstro inanimado e cruel pintado pelo petista todos os dias, está lhe dando um voto de confiança. As revisões fiscais precisam acontecer e as respostas continuarão chegando. Caso essa confiança seja quebrada, o dólar chega fácil aos R$ 6,00.

E não adianta fazer jogo de cena, não adianta ameaçar, tentar jogar o “povo contra as elites” como subterfúgio para irresponsabilidade. É preciso agir de maneira efetiva. 

Formal e real

O presidente teria “caído em si” após ouvir o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e outros cinco economistas na manhã da quarta-feira (3) sobre a crise no câmbio. Após reclamar muito escutou uma verdade e foi obrigado a aceitar. “O poder formal é do governo. Mas o poder real está com o mercado, com os setores produtivos da economia”, teriam dito a ele.

Em resumo, o esperneio lulista para não economizar em ano eleitoral só piora a situação.

Conversa antiga

O fato também é que o discurso que Lula ensaiou nos últimos dias, de uma luta de classes, pobres contra ricos, trabalhadores contra mercado financeiro, filé mignon contra acém, não se encaixa mais como argumento de persuasão política.

Há uma maior consciência, fruto de uma educação geral um pouco mais aprofundada e um acesso maior à informação do que havia nos primeiros governos Lula. Isso serve de vacina contra esses tipos mais primitivos de discurso sindical demagógico.

Agora é esperar a prática.

Biden

Por falar nessa sensação de ser tomado pela realidade, o presidente americano Joe Biden admitiu a um aliado político que está tentando salvar a própria candidatura. É o primeiro sinal de que pode desistir.

Não há dúvidas sobre Biden ser uma opção mais segura para o mundo do que Donald Trump. E não se trata de posição ideológica, mas de personalidade, temperança para lidar com pressões e até honestidade intelectual.

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Mas essa ideia só vale com Biden funcionando no total domínio de suas capacidades. Não é caso, pelo que se viu no último debate por lá.

O poder corrompe ideias

A situação de Biden lembra um fato. Há uma série de derrotas na política que poderiam ser evitadas quando são respeitadas decisões que o próprio derrotado tomou antes de ter o poder em mãos.

Para quem não lembra, Jair Bolsonaro (PL) defendia o fim da reeleição quando era candidato em 2018. Ao assumir o poder deixou de falar no assunto. Foi candidato e perdeu.

Biden foi candidato admitindo que pretendia fazer apenas um mandato. Depois que assumiu, resolveu ficar. Deu no que está dando. 

Escutar “nãos”

O poder vinculado à política eleitoral, quando não é bem administrado, transtorna a capacidade de avaliação que as pessoas fazem sobre suas próprias capacidades e sobre a realidade do seu entorno.

Os constantes elogios, a ausência de contrapontos, o “puxa-saquismo” inerente a esse tipo de função podem encaminhar mal qualquer um.

Certa vez, este colunista ouviu um antigo político dizer que precisava de um funcionário só para lhe negar as coisas. “É bom ter alguém de mau humor por perto. Se não você se perde”, brincava.

O ex do vizinho

Pernambuco já deve muitos agradecimentos a um ex-governador que está, ajudando a transformar realidades que pareciam sem solução no estado.

Estamos falando do ex-governador de Alagoas. Renan Filho (MDB), hoje ministro dos Transportes. Graças a articulação entre ele e a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), a duplicação da BR 104, entregue pela metade no governo Eduardo Campos, está sendo concluída.

Um trecho de quase 8 km foi liberado esta semana. 

Desatou

É preciso dizer que essa execução estava travada por trâmites burocráticos e administrativos que não se desatavam por causa da relação ruim que as gestões anteriores tinham com os presidentes da República no período.

O PSB brigou com Temer (MDB), com Bolsonaro (PL) e já havia brigado com Dilma (PT) nesse período.

Cooperação

Durante o programa Passando a Limpo, da última quarta-feira (3), o professor de Direito Constitucional Marcelo Labanca falava exatamente sobre a obrigatoriedade legal de cooperação entre União, estados e municípios. Essa atual relação Pernambuco-Brasília é um bom exemplo de como é possível deixar posições ideológico-partidárias em segundo plano para cuidar do que interessa ao povo.

Que dure.

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