Um bastidor palaciano de 2022 que ainda mexe com as eleições em Pernambuco
Tem a ver com a recusa do PSD em apoiar a candidata do PP, Clarissa Tércio, na disputa pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes.
O Partido Progressista, de Eduardo da Fonte, deixou para a última hora a definição sobre o apoio que terminou dando ao candidato Daniel Coelho (PSD) no Recife. Até o horário do almoço da segunda-feira (5), Michelle Collins (PP) seria candidata à prefeitura, embora todo mundo soubesse que ela não seria.
O impasse aconteceu porque o PP ainda insistia com o apelo para que a governadora Raquel Lyra (PSDB) e o PSD de Daniel Coelho declarassem apoio à Clarissa Tércio (PP) em Jaboatão dos Guararapes. A governadora deu um basta no meio da tarde. Deixou claro (com mais energia do que das vezes anteriores) que isso não era possível e abriu espaço para que o PP fizesse o que bem entendesse. Assumindo consequências, claro.
O PP recuou e declarou apoio a Daniel no fim do dia. Também declarou apoio a Rodrigo Pinheiro (PSDB) em Caruaru, com um evento expressivo na Capital do Agreste.
Promessas
A impossibilidade de atender aos desejos do PP em Jaboatão tem o protagonismo da governadora, que já tinha um acordo com o atual prefeito, do PL, também é aliado, mas passa ainda por algo que aconteceu em 2022 entre André de Paula, presidente estadual do PSD, e Eduardo da Fonte, presidente do PP.
Na época, ainda na Frente Popular, André de Paula resolveu que estava na hora de ser candidato ao Senado. O PSB prometeu que ele seria o nome para a vaga, mas negociou com o PT em paralelo, buscando o apoio de Lula (PT).
Planos
Quando conseguiram apoio e receberam a indicação de Teresa Leitão (PT), os socialistas tentaram convencer André de que iria conseguir votos para que ele fosse reeleito deputado. Mas ele não aceitava desistir de ser senador.
Ao mesmo tempo, o PSB prometeu ajudar na votação de vários deputados federais em troca de apoio. As promessas não foram cumpridas e muitos estão sem mandato até hoje.
Mas, o fato é que Eduardo da Fonte pretendia ser reeleito deputado federal e também eleger o filho, Lula da Fonte (PP), junto à Câmara Federal. Para garantir as duas eleições, seria necessária uma ajuda do PSB.
O combinado…
Dudu da Fonte, então, teria convencido André de Paula a sair da Frente Popular e se lançar senador com Marília Arraes (SD), o que aconteceu. O problema é que o presidente do PP garantiu que iria junto, reforçando o palanque, mas na última hora voltou à Frente Popular, quando o PSB garantiu votos para eleger o filho, deixando André com Marília no Solidariedade.
…saiu caro
Nunca houve oficialização de nada, é verdade, mas o movimento foi visto como um dos maiores e bem executados “dribles” daquela eleição.
André de Paula, que agora negou a possibilidade de apoiar o PP em Jaboatão, não deve ter esquecido o prejuízo político da época. E tem suas razões, convenhamos.
Bolsonaro…
Bolsonaro chega ao Recife nesta quarta-feira (7) para cumprir uma longa agenda em Pernambuco. Além da capital, o ex-presidente passa por Caruaru, Gravatá, Vitória de Santo Antão, Carpina e Itambé. Haverá eventos em todas as cidades. No Recife, os bolsonaristas marcaram um evento para o Clube Português, no sábado (10).
Este ponto específico da agenda tem sido visto como um tipo de provocação ao prefeito João Campos (PSB). Os socialistas fizeram sua convenção lá, uma semana antes. A ideia é colocar mais gente no espaço e forçar uma polarização esquerda x direita usando as imagens nas redes sociais.
…em Pernambuco
Essa polarização seria muito boa para Gilson Machado (PL), reforçando o nome dele e seu protagonismo na eleição para o objetivo mais importante da campanha dele, que é a disputa por uma vaga na Câmara Federal em 2026.
Mas, como a rejeição a um “candidato de Bolsonaro” também é alta na cidade, segundo as últimas pesquisas, essa redução da disputa a dois polos também seria muito boa para Campos.
Cidade excluída
Quanto mais polarizado, mais fácil vai ser terminar a eleição já no primeiro turno para o atual prefeito. A polarização é uma armadilha para o Recife, porque se vai deixar de discutir a cidade. E é uma armadilha para a oposição, porque limita a variação de votos e facilita o término da disputa no primeiro turno.
Numa briga política entre dois polos, só quem ganha são os dois polos. A cidade é esquecida.