Quando o Golbery da ditadura pensava igual ao PT de hoje em dia

Corria o ano de 1981 quando Golbery tentava melhorar a popularidade do governo militar e Delfim, ministro do Planejamento, dizia não ter dinheiro.

Publicado em 20/08/2024 às 20:00

Em artigo no Jornal do Commercio desta quarta-feira (21), o professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRPE, Josias Vicente, traz uma história interessantíssima envolvendo o ex-ministro da Fazenda e do Planejamento Delfim Netto e o ex-ministro da Casa Civil Golbery do Couto e Silva. Hoje, Delfim seria Haddad e Simone Tebet. Golbery seria o PT.

O relato dos embates entre os dois lados é interessante porque acaba sendo muito parecido com o que acontece hoje dentro do governo Lula (PT), com uma parte da gestão querendo gastar mais em nome da popularidade enquanto o outro lado tenta conter os gastos e arrecadar mais.

Briga

Corria o ano de 1981 quando Golbery tentava melhorar a popularidade do governo e Delfim, então ministro do Planejamento, avisava que não tinha dinheiro. Os dois brigaram muito, até que as teses de Delfim saíram vencedoras. Golbery saiu do governo na mesma época. Nunca disse quais eram os motivos, mas nos bastidores todo mundo comentava que ele jogou a toalha por causa da briga.

Gasto é vida

O autor do artigo lembra que, nos últimos anos, somente Michel Temer (MDB) não trabalhou sob essa perspectiva e conseguiu segurar o custo da máquina. “Os governos se sucedem - exceção feita ao período de Michel Temer - num furor de gastos, com os olhos voltados para as urnas, num desfile contínuo de propostas e ações populistas. Lula, Dilma, Bolsonaro, Lula de novo… A mentalidade de que ‘gasto é vida’ parece dominar os cérebros dos incumbentes”, analisa o professor.

É o mesmo dinheiro

Vale a pena ler a história completa aqui nesta edição. E é impressionante como a ideia de aumentar gastos sempre está relacionada a uma busca por popularidade, desde muito tempo atrás, até durante a ditadura. Significa que antes, como hoje, o brasileiro ainda tem dificuldade para entender que o dinheiro público é o mesmo dinheiro do pagador de impostos.

Água e café

Certa feita, durante um período recente de crise econômica no Brasil, ao criticar as compras dentro do gabinete de um determinado político com gosto para camarões, lagostas e licores caros, recebi uma observação de um leitor. A justificativa era que, “por ser uma autoridade, o tal gestor precisava mesmo oferecer certos luxos aos que o visitavam, para demonstrar sua posição”. Não é algo razoável, ponderei à época. Na crise, líderes precisam dar exemplos. E que melhor exemplo do que servir água e café?

Império

Além de tudo, há uma mentalidade trazida do ambiente imperial brasileiro, de que o dinheiro que se usa nas ações públicas é propriedade do grupo que está no poder, como se fosse uma família real investindo suas próprias posses na melhoria da vida popular. Essa ligação entre o dinheiro que pagamos em impostos e os gastos do governo ainda é difícil de fazer para a maior parte da população. E que maravilhosos são os governantes que gastam o dinheiro “sob sua propriedade” para distribuir com a população. Gasto é vida, como citou o professor Josias.

Golbery

Ver Golbery do Couto e Silva, uma das figuras mais odiadas pela esquerda brasileira, descrito como alguém que, à época, tentava gastar mais dinheiro e segurar a arrecadação para melhorar a popularidade do governo militar, igualzinho ao que a cúpula do PT faz hoje de olho em seus possíveis resultados eleitorais, é um cenário curioso. Mas aconteceu, como nos traz o artigo do professor Josias.

Delfim

Sobre Delfim Netto, outro tão criticado pela esquerda brasileira por causa de sua posição no regime militar, não parece ser um acaso que ele tenha se tornado conselheiro até do próprio Lula nas últimas décadas. E não parece ser um acaso que Fernando Haddad (PT), atual ministro da Fazenda de Lula, tenha tido posições tão parecidas com as que Delfim sustentou no início dos anos 1980.

Não é Dilma

O presidente petista, apesar de também querer votos, sabe que seu partido tem compromisso apenas com a eleição seguinte, mas o pescoço colocado em risco depois, com a crise que os gastos desenfreados provocam, é o dele próprio. Esse foi o principal erro político de Dilma Rousseff (PT) entre 2014 e 2016. Nesse ponto, é preciso lembrar que Lula também é petista, mas não é Dilma Rousseff. Por isso, até agora, prevaleceu Delfim… quer dizer.. Haddad.

Quem vigia os guardiões?

“Os poderes do STF. Quem vigia os guardiões da Lei?” É o tema do Debate, a ser exibido hoje às 11h na Rádio Jornal. O programa é apresentado por Natália Ribeiro, com participação do jurista José Paulo Cavalcanti, o ex-diretor da FDR Francisco Queiroz e Ernani Carvalho, cientista político especialista no judiciário brasileiro. E a promessa é de uma análise profunda sobre o papel do Supremo Tribunal Federal no Brasil.

Debate

Recentemente, o professor Ernani Carvalho, que estuda o judiciário brasileiro há mais de duas décadas, falou no Passando a Limpo, também na Rádio Jornal, e apontou um empoderamento expressivo dos magistrados desde a Constituição de 1988 que pode ser prejudicial ao equilíbrio dos poderes. O jurista José Paulo Cavalcanti poderá trazer ainda muita informação sobre os modelos utilizados em outras nações do planeta para o funcionamento da Suprema Corte. O debate é às 11h, na Rádio Jornal.

Tags

Autor