Os debates são importantes por colocar todos em igualdade e sem auxílio

A importância do debate para a democracia está na crueza de sua essência. Estar à frente de uma câmera, com microfone e luzes pode ser avassalador.

Publicado em 30/09/2024 às 20:00

A campanha no Recife foi tão fria, com a oposição demonstrando uma capacidade de reação tão diminuta frente à reeleição do prefeito que o grande fato novo desse pleito talvez esteja para acontecer somente agora, na última semana da eleição, exatamente no debate do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação.

Será a primeira vez que todos os candidatos estarão frente a frente, sem ensaio, com todas as possibilidades em aberto. O tempo é igual para todos e a maneira como as regras foram organizadas premia aqueles que forem mais perspicazes, sem vantagem de partido, seja de tempo ou de dinheiro.

Pense rápido

Em um dos blocos do debate, por exemplo, temas de interesse da cidade serão sorteados e os candidatos terão que fazer perguntas dentro daquela temática. Esses temas, que incluem mobilidade, educação, saúde, entre outros, se originam do especial produzido por este JC com os Desafios para o Recife. As questões que importam no debate tem como origem a cidade e seus problemas.

Não haverá espaço para consultar equipe e decidir como responder melhor. Cada um dos participantes terá segundos para pensar nas respostas. E isso é muito importante para testar a habilidade dos postulantes. Erros, nessas situações, têm consequências.

EUA

Até alguns minutos antes de começar o primeiro debate com os candidatos a presidente dos EUA, no fim de junho, a candidatura de Joe Biden à reeleição estava confirmada, fortalecida e com a ida às urnas garantida.

Ninguém pode dizer que o presidente americano não tem uma das melhores estruturas do mundo para sua campanha, os melhores profissionais, o maior volume de recursos e especialistas em todas as áreas para dar suporte ao candidato. Mesmo assim, aquele debate foi decisivo para definir que ele não tinha condições de disputar o cargo.

O adjetivo mais utilizado pela opinião pública após o encontro de Biden e Trump sobre o democrata era “desastroso”.

Lula e Collor

No Brasil em 1989, na primeira eleição pós redemocratização, Lula e Fernando Collor disputavam a presidência do Brasil. No último debate da campanha, Collor usou de um artifício mental para desestabilizar o petista. O candidato espalhou para quem quisesse ouvir nos bastidores que faria denúncias gravíssimas contra o adversário durante o debate.

No dia, ao entrar no estúdio, Collor carregava várias pastas lotadas de documentos e as colocou empilhadas sobre a bancada. Lula ficou nervoso, passou todo o tempo sem conseguir responder as perguntas, algumas bem simples, que eram feitas. Foi um desastre.

No fim, Collor não tinha nenhuma denúncia e tudo não passava de estratégia, porque os papéis dentro das pastas estavam em branco. Lula perdeu aquela eleição.

Por aqui

Em Pernambuco aconteceu algo parecido, numa eleição de décadas atrás. Um determinado candidato estava se preparando para um debate quando, antes de se dirigir à emissora, recebeu um recado da esposa: “quando você voltar, vamos conversar”, naquele tom que é mais uma ameaça do que uma afirmação carinhosa. Alguma coisa ela havia descoberto.

Foi o suficiente para o candidato esquecer tudo o que ensaiou para o debate, ficou nervoso e cometeu erros que foram percebidos pelos eleitores. Perdeu a eleição.

Pouco artifício

A importância do debate para a democracia está na crueza de sua essência. Por mais que existam regras bem definidas, estar à frente de uma câmera, microfone na lapela, luzes sobre a testa, sem um estrategista político para lhe dizer como responder cada uma das perguntas que vêm dos adversários pode ser avassalador.

Uma das regras do debate é a garantia isonômica, o mesmo espaço, com as mesmas condições, sem auxílio externo em tempo real. O candidato não pode parar e consultar um marqueteiro sobre a melhor forma de responder cada pergunta. Ele até pode ter ensaiado as perguntas possíveis, mas não há como adivinhar o que virá.

Democracia

A importância disso para a democracia é testar o futuro gestor público em situações de estresse parecidas com as quais ele irá, no exercício do cargo, enfrentar com frequência diária no caso de ser eleito.

Quando é pressionada, a figura ali exposta se torna agressiva ou mantém a calma para dar respostas? Se for atacado, vai responder com perspicácia ou fugir do assunto?

Pode parecer aleatório, mas o comportamento de um candidato ou candidata em uma hora de debate no rádio ou na TV podem ser mais reveladores do que várias semanas de campanha na rua e de programas eleitorais.

Por isso é uma pena que mais debates não tenham sido realizados no Recife e por isso o debate do Sistema Jornal do Commercio é tão importante nesse pleito.

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