As possibilidades de Dirceu num Brasil diferente do que ele conheceu no poder

Liberado pela Justiça, o ex-ministro de Lula quer voltar a ser deputado ou até senador e quer ter influência outra vez na gestão petista. Terá?

Publicado em 30/10/2024 às 20:00

José Dirceu (PT) está sendo reabilitado politicamente pelo STF e entrou de vez nas discussões sobre as mudanças internas do PT. Sendo assim, será preciso avaliar o quanto ele vai entrar de vez no próprio governo Lula e nas discussões que envolvem a economia e a popularidade da gestão petista.

Dirceu não era o todo poderoso dos primeiros governos do atual presidente por ser amigo dele. Aliás, eles nem eram tão amigos assim. Havia uma imagem descrevendo a relação dos dois como dois homens com mãos no coldre o tempo todo, prontos para sacar as armas em duelo.

Pragmático

Mas Dirceu assumiu toda a culpa no mensalão, garantindo que Lula não caísse logo na primeira gestão. Depois, foi envolvido em novas condenações que o STF tratou de anular. Agora, livre para ser candidato, ele vai querer compensações eleitorais do partido e de Lula. Quer ser deputado, mas quer ajudar também, porque ajudar um governo dá poder.

Dirceu era forte no primeiro mandato, no início deste século, porque é o mais pragmático dos petistas e sempre teve pouco escrúpulo desde que o resultado compensasse.

Método Dirceu

A interlocução dele com grandes empresários que aceitaram entrar no esquema petista rendeu sintonia entre o mercado privado e a gestão pública. É algo que está faltando agora. Mas o método de Dirceu na época terminou em escândalo, prisões e condenações. Bezerra da Silva dizia que malandro só é bicho feroz com revólver na mão. Cada um tem sua ferramenta para atuar.

O poder de articulação do então ministro José Dirceu envolvia propinas, em corrupção. Com todo mundo de olho, fiscalizando melhor, ele até pode conseguir um mandato eletivo, mas vai ajudar Lula se não dispuser das ferramentas habituais?

Camisa de força

Ditadores deveriam ser, todos, presos. Nicolás Maduro, o da Venezuela, está começando a dar mostras de que é preciso ir além. No caso dele, uma camisa de força também se encaixaria.

A ditadura na fronteira brasileira agora está irritada com o Brasil governado por Lula (PT) por não ter sido aceita no Brics, e emitiu um comunicado afirmando que o assessor internacional do governo brasileiro, Celso Amorim, era um “mensageiro do imperialismo norte-americano”.

Reconheçam isso aqui

Celso Amorim, que esta coluna carinhosamente costuma chamar de “relativizador geral da república”, exatamente por fingir que enxerga democracias onde as ditaduras campeiam, ser um representante dos EUA é mais ou menos como o Bloco da Saudade cantar brega funk no São João.

Só faz sentido na cabeça de quem tenta encontrar inimigos externos em sua busca para justificar os abusos internos contra a população. Coisa de ditador em república de bananas mesmo. É mais uma para o PT nacional e parlamentares que vivem nos anos 1970, incluindo uma pernambucana que esteve com Maduro recentemente, escreverem notas de apoio reconhecendo a Venezuela como um paraíso democrático.

Campos e a Venezuela

Por falar nisso, João Campos (PSB) nem titubeou quando foi questionado sobre a Venezuela na entrevista que concedeu ao programa Roda Viva, da TV Cultura. "Você vê o governo Lula com muita entrega e muitas vezes cai em eventuais armadilhas que criam cortinas de fumaça que cobrem as entregas do governo”, disse.

Em seguida, provocado a completar a resposta detalhando se uma dessas armadilhas era a relação com Maduro. Aí ele foi bem direto: "Você faz uma agenda super positiva de 30 dias, com presença, com anúncios, aí faz uma visita estruturada enorme de chefe de estado de Nicolás Maduro no Palácio do Planalto, isso aniquila a conquista. Você recebe alguém de um regime ditatorial, como é o caso da Venezuela, dentro do palácio, com honras de chefe de estado naquele momento", arrematou.

Sem Campos e…

Por falar no Roda Viva, a polêmica das últimas horas no fogo cruzado que se quer criar com a rivalidade entre João e Raquel Lyra (PSDB) foi a afirmação de que a TV Pernambuco, que exibe aqui o programa da TV Cultura, o teria tirado do ar para que ninguém visse a entrevista do prefeito.

A TV Pernambuco emitiu uma nota explicando que tem um contrato de transmissão do Campeonato Brasileiro da Série B e o último jogo do Sport, contra o América Mineiro, aconteceu no mesmo horário. Não teria havido censura, como alguns gritaram.

…com Sport em campo

Quem cuida da programação numa emissora precisa fazer escolhas e a audiência com mais volume era a do jogo do Sport, naturalmente. Mas para uma emissora pública, controlada por uma gestão ligada a um grupo político, num programa de entrevistas tendo como personagem central o principal adversário e também prefeito da capital, esse questionamento deveria ter sido previsto.

Rápido e primeiro

Alguma alternativa, como a exibição de uma reprise após o jogo ou no dia seguinte, poderia ter sido buscada. Em último caso, bastava reforçar o anúncio de impossibilidade de exibição do programa, antes que os adversários o fizessem. Em comunicação, quem fala primeiro comanda a narrativa. Quando é bom é preciso falar rápido, quando é ruim é preciso falar primeiro.

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