O problema dos funcionários cedidos e o erro que seria obrigá-los voltar
É como pegar um excelente jogador de futebol e obrigá-lo a jogar xadrez. O futebol perde um craque e o xadrez ganha um "perna de pau".
A governadora Raquel Lyra (PSDB) optou por liberar os servidores do Estado que estão cedidos à prefeitura do Recife. A cessão é um problema desde que Raquel assumiu o governo, e deriva de quando as gestões do PSB eram alinhadas entre Governo e Prefeitura. A questão é que, em alguns casos, o governo acaba pagando a diferença dos salários que são maiores do que na gestão municipal, sem usufruir do trabalho desses profissionais.
Quando estava todo mundo no mesmo partido, Paulo Câmara e, antes dele, Eduardo Campos fechavam os olhos para isso. Era como se o “bolso (político) fosse o mesmo”.
Imbróglio
A partir do momento em que Raquel assumiu, sendo oposição ao PSB, os desentendimentos tiveram início. Secretários de destaque na gestão do adversário político João Campos (PSB), como Maíra Fischer e Fred Amâncio, funcionários do Governo do Estado, acabam não ajudando a própria “casa” a que oficialmente são vinculados.
Politicamente é ruim e reagir a isso é natural. Mas esse é um entendimento limitado sobre o imbróglio.
Princípios
Tanto o princípio da impessoalidade quanto o da eficiência precisam ser observados nesse “julgamento”. Acontece que obrigar os servidores do estado a regressarem forçados para o vínculo original, se eles já mostraram sua eficiência com destaque notório no cargo em que estão cedidos, prejudica a administração pública na instância em que eles se encontram atualmente.
Xadrez
Na prática, é como pegar um excelente jogador de futebol e obrigá-lo a jogar xadrez. O futebol perde um craque e o xadrez não vai ter nada próximo de um mestre. No máximo seria um jogador mediano e desestimulado. A governadora teria todo o direito de fazer isso, mas ninguém ganharia nada.
Encerrou
A impessoalidade estaria implicada no caso da insistência, o que é preciso reconhecer que não houve já que a governadora optou por não forçar o retorno. A administração pública, embora dividida em instâncias diferentes, tem o mesmo objetivo que é ordenar e atender as necessidades dos cidadãos. Qualquer ato de um que prejudique a gestão do outro acaba tendo conotação pessoal. Isso deve ser evitado.
E a governadora agiu corretamente ao encerrar a questão.
Paralisia
Melhor assim para a gestão da Prefeitura do Recife que tem bons profissionais, mas que estava em paralisia nos últimos dias por causa da incerteza sobre quem vai continuar ou não no trabalho a partir do próximo ano. Alguns serviços estavam sendo tocados com um sofrimento vistoso.
Amâncio
Imediatamente após Raquel liberar os funcionários cedidos, o prefeito começou a anunciar o secretariado, aliviando a tensão em algumas secretarias. O primeiro a ser anunciado foi exatamente o titular da pasta de Educação, Fred Amâncio. Pelo jeito estava na agulha, só esperando.
Alguns outros anúncios chamaram atenção para o trabalho de aproximação política com partidos. É o caso de Raul Henry, que foi vice-governador de Pernambuco, é ex-deputado e vai assumir a pasta de Relações Institucionais da Prefeitura. Ele é presidente estadual do MDB.
Dema
Outra mudança já anunciada pegou muitos de surpresa. O secretário de Governo, Adelmar Santos, anunciou que não seguirá na pasta.
Ele organizou a relação política da prefeitura do Recife desde que ingressou na equipe, dando um sentido mais efetivo a ela. O que não é algo fácil, porque fazer política requer mais drible do que bola e mais bola do que corpo nas jogadas.
Dema, como é conhecido, provou ser um dos melhores na posição. Digno de nota.
Se completam
A coluna conversou com uma fonte na prefeitura para tentar entender a saída. Questionada se a missão de Dema com João Campos havia sido cumprida ou se uma nova missão estava para ser iniciada, a fonte respondeu que “as duas opções se completam”.
Ficou implícito que, longe de estar sendo afastado das funções, o auxiliar deve assumir uma atividade complementar de preparação do terreno para a possível candidatura de Campos ao governo. A ver.