O turismo no Brasil em 2021 será voltado ao mercado interno, com foco em um novo filão: o turismo de luxo. As diretrizes foram apresentadas em uma conferência online, nesta quarta-feira (10), pela diretoria da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav). A ideia é oferecer opções locais ao turista de alto poder aquisitivo, que está impedido de viajar ao exterior por conta do fechamento das fronteiras. E o Nordeste tem bons atrativos neste segmento, segundo os operadores de viagens.
A presidente da Abav Nacional, Magda Nassar, iniciou o webinar falando que 2020 foi um ano “difícil e complicado” e que 2021 não será muito diferente, embora com melhores perspectivas. “Quando a pandemia começou, por volta de março do ano passado, achamos que as dificuldades iriam terminar em dois, três meses. Já se vai quase um ano e os desafios continuam. A diferença é que agora sabemos lidar melhor com a doença. Temos leis, temos protocolos, e temos a esperança de que parte da população esteja vacinada no segundo semestre deste ano”, pontuou. A Abav Nacional tem hoje 2.200 empresas associadas que em 2020 faturaram cerca de R$ 14 bilhões. Um resultado 58,7% menor do que em 2019. “Entre os nossos associados apenas 1% encerraram a empresa por conta da pandemia. 25% fecharam temporariamente. Mas a grande maioria, 62%, conseguiu se adaptar operando de forma on-line durante o ano passado”, revelou Magda.
RICOS
A Abav criou um grupo de trabalho que reúne operadoras de turismo nacional e internacional para desenvolver internamente o chamado turismo de luxo, um segmento para ser visto com atenção em 2021. “Antes da pandemia o turismo doméstico respondia por 60% das viagens feitas por brasileiros, e o turismo internacional ficava com 40%. Em 2020 esses 40% caíram a praticamente zero. Enquanto os maiores destinos internacionais, como Estados Unidos e Europa, não reabrem suas fronteiras é esse público que a gente quer atrair para o turismo interno”, explicou a presidente da Abav.
Frederico Levy, diretor do segmento de turismo de Luxo da Abav Nacional, é o coordenador do grupo de trabalho para desenvolvimento do turismo de luxo no Brasil. Ele tem como missão, juntar os agentes de viagens filiados a Abav com experiência no setor para troca de experiências com quem ainda precisa se capacitar para atender um público muito específico. “É difícil definir o que é luxo e o que não é. Às vezes não é só uma questão de ter carpete no hotel ou uma louça requintada no restaurante. O luxo pode estar numa experiência diferente, inédita para o turista”, explicou Frederico. Ele acredita que o Brasil, e o Nordeste especificamente, tem destinos pouco conhecidos do público das classes A e B.
“De repente, quem costumava viajar todos os anos para os Estados Unidos para fazer compras, pode encontrar lojas semelhantes em São Paulo. Ou quem vai em busca de turismo de aventura em algum país distante, descobre Foz do Iguaçu ou as praias do Nordeste, Tudo isso sem precisar viajar 8, 9 horas de avião”, apelou Levy.
Marcos Teixeira, empresário pernambucano do setor de eventos e receptivo, e vice-presidente da Abav de Pernambuco, concorda que o turismo de luxo é um segmento que precisa ser melhor aproveitado, embora sejam poucas as opções disponíveis localmente. “No segmento de alto luxo, em Porto de Galinhas, podemos citar o Nannai. Em Olinda eu citaria a Pousada do Amparo, que é diferenciada mas ainda não é de alto luxo. Próximo ao Recife tínhamos o Sheraton, do Paiva. Mas este, fechou. Já em Alagoas, algumas pousadas da Praia do Patacho são de alto nível. E no interior do estado não temos nada”. Marcos observou que nas opções existentes as diárias ficam em torno de R$ 2 mil a 2.500, dependendo do período do ano, e contam com serviços diferenciados, como café da manhã personalizado ou champanhe na piscina.
“Um transfer do aeroporto para o Nannai não pode ser feito em uma van comum. Tem que ser um carro de uso exclusivo, que sai por volta de R$ 500, ou R$ 1.200 se for o caso de um veículo blindado. Não é exagero considerar que um cliente vip pode preferir se deslocar de helicóptero. Fiz um transfer desses há algum tempo e o valor foi de R$ 7 mil”, revelou Teixeira.
Marcos conta que é preciso entender que há um público disposto a pagar por uma experiência diferenciada. “É gente que vem para Pernambuco e em 10 dias de hospedagem gasta R$ 40 mil, R$ 45 mil”, diz Marcos. Ele conta que no mês passado, um empresário hospedado em Porto de Galinhas solicitou um passeio especial com a família. “Ele me pediu uma lancha de médio porte, com tripulação, bebidas geladas e um churrasco privativo para ele, a esposa e filha. Consegui montar o passeio e o churrasco com fornecedores locais e o cliente pagou por essa exclusividade R$ 20 mil”, comentou.
EVENTOS
A Abav Nacional espera retomar esse ano a realização do seu maior evento, a ABAV Expo & Collab, que ano passado foi cancelado e em 2021 vai acontecer de 29 de setembro a 1º. de outubro em São Paulo. “Será um evento híbrido, que pode ser acompanhado presencialmente ou online. É uma feira de negócios, a maior da América Latina, onde os produtos e serviços do setor de turismo serão apresentados para a temporada de 2022. Em 2019 atraímos cerca de 30 mil visitantes. Claro que este ano será um evento bem menor e com todo o controle de acesso. Até porque eu respeito muito essa pandemia”, disse a presidente da Abav.
Outro evento que deve marcar o turismo no Brasil este ano é o retorno dos navios de cruzeiro. A temporada 2020/2021 foi cancelada mas a de 2021/2022 começa em novembro e termina em abril do ano que vem.
“No Brasil quem viaja são as classes A e B. A classe C não viaja. Para que esse mercado se mantivesse e pudesse crescer de maneira sustentável seria preciso melhorar a economia do País. Mas isso, não depende de nós”, concluiu a presidente da Abav.
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