FINANÇAS

Cerca de 79% das famílias pernambucanas estão endividadas, diz pesquisa da Fecomércio

Números são relativos ao mês de fevereiro e é o maior percentual para este mês desde o ano de 2010.

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Edilson Vieira

Publicado em 09/03/2021 às 16:22
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O percentual de famílias endividadas em Pernambuco atingiu os 79,3% em fevereiro, ante 78,1% do mês de janeiro de 2021. Os números são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) pernambucano, realizada pela Federação do Comércio, Bens, Serviços e Turismo de Pernambuco (Fecomércio-PE). Este é o maior percentual de endividados para os meses de fevereiro desde 2010 quando foi iniciada a série da pesquisa. Os números confirmam um início de ano difícil para as famílias.


Segundo a pesquisa, a renda média vem caindo devido ao fim de programas emergenciais e a pouca geração de vagas de trabalho. Outra questão que também limita o orçamento familiar é a inflação, que ainda pressiona itens de consumo básicos. Este nível de endividamento é o maior entre os meses desde julho de 2011, quando o percentual de endividados atingiu 81,3% das famílias.

Em números, o percentual de 79,3% equivale a 409.271 famílias endividadas, aumento de 6.736 lares em um mês, já em relação ao mesmo período de 2020 houve uma alta de 40.247 famílias. As famílias que possuem contas em atraso atingiram os 29,8%, alta em relação a janeiro de 2021 e a fevereiro do ano anterior, que registraram percentuais de 29,3% e 29,5%, respectivamente. O movimento é negativo e esperado pois o cenário econômico crítico contribui para que o percentual de famílias nesta situação continue a apresentar deterioração, comprovando a importância dos programas emergenciais de distribuição de renda, dos empregos formais, dos informais e dos contratos temporários para evitar o descontrole no endividamento das famílias.

Já a parcela da população com a situação mais crítica, que são aquelas que informam não ter mais condições de pagar as suas dívidas, mostrou percentual de 12,2%, o que corresponde a 62.771 mil famílias inadimplentes. Diferente do comportamento deste tipo de endividado nos semestres anteriores, este grupo apresentou o segundo crescimento, com alta mensal de 1.601 lares. Já na comparação anual o percentual de famílias inadimplentes mostrou alta de 9.023 lares.

O tipo de dívida mais comum continua sendo o cartão de crédito, atingindo 94%, apresentando alta quando comparado a janeiro onde o percentual era de 93.9%, seguido pelo endividamento com carnês, que representa 20,1%, ante 17,2% do mês anterior, o que já reflete as dificuldades para acesso a crédito mais barato. A maioria das famílias endividadas (57,4%) informam também que as dívidas comprometem entre 11% e 50% da renda, o comprometimento médio em janeiro de 2021 atingiu 28,9% da renda.

Para o mês de março se espera um novo aumento do endividamento, por conta do pagamento de impostos, reajustes dos serviços e compra de material escolar. O quadro poderia mudar se o novo auxílio seja aprovado e concedido ainda este mês.

ANÁLISE

Segundo Rafael Ramos, economista da Fecomércio, a continuidade deste movimento de alta das dívidas já era esperada, visto que o orçamento das famílias pernambucanas vem apresentando restrições ainda maiores. “Além da renda já ser comprometida por três meses seguidos, com período de incentivos ao consumo como novembro e dezembro, e por um início do ano sazonalmente com elevação de despesas, não existe resposta na geração sustentável de renda devido a continuidade de dificuldades do setor produtivo”.

Para Rafael Ramos, a falta de trabalho é o grande complicador. "O trabalho gera uma renda sustentável que permite planejar a médio e longo prazo", diz Ramos. O economista lembra que grande parte dos setores que precisam de grande número de funcionários, como é o caso do comércio, serviços e turismo, ainda passam por um processo de queda de demanda, recuo do faturamento, maiores restrições, elevação de endividamento, além da queda na confiança da recuperação da economia limitando possíveis investimentos. "Desta forma o mercado de trabalho não reage e contribui para a limitação orçamentária das famílias e da piora do quadro de endividamento. O reflexo vai se dar na queda de  movimento do próprio comércio e também do setor de serviços", segundo a análise de Rafael Ramos.

EFEITOS

O segundo mês do ano foi afetado pela ressaca criada pelo fim do auxílio emergencial. O programa injetou mais de R$ 16 bilhões de reais no Estado, contribuindo para amenizar a queda do consumo e até a puxar para cima as vendas de atividades mais ligadas ao isolamento social, como móveis, eletrodomésticos, material de construção e alimentação. Com a distribuição de renda direta e para praticamente 40% das famílias do Estado, o projeto incentivou a elevação do consumo com o aumento do poder de compras da população. O período foi oportuno para a elevação do bem-estar social de parte das famílias com a aquisição de bens duráveis mais modernos, contribuindo para uma adesão maior ao financiamento do consumo e consequentemente a um maior endividamento familiar.

A retirada dos recursos do auxílio emergencial do orçamento dos mais vulneráveis e dos trabalhadores informais acaba incentivando o uso de financiamento para manter o padrão de consumo adquirido nos meses de pandemia. “Parte das famílias que receberam o auxílio já compraram a prazo, sobretudo móveis e eletrodomésticos, e agora com o fim do programa o endividamento pode ser levado para níveis mais críticos, como mostra o endividamento por carnês de lojas, que subiu de 17% em janeiro para 20% em fevereiro”, alertou Ramos.

O aumento da desocupação que ocorre nos dois primeiros meses do ano contribui para o aumento do endividamento. Por coincidir no estado com o fim de safras importantes como a de cana-de-açúcar, além da finalização dos contratos temporários, falta de contratações de setores tradicionais do período como o de hospedagem, bares, restaurantes, transportes, papelaria, que ainda estão sendo afetados pela continuidade da pandemia e pelas restrições para evitar um colapso na rede de saúde pública.

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