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Fim do carro popular já é realidade, e preços triplicaram. Veja lista

Oferta de carros mais simples e baratos têm diminuído com o tempo. Mudança na preferência dos consumidores por modelos maiores também colabora para o fim do carro compacto. Neste cenário, nem os os seminovos escapam

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Edilson Vieira

Publicado em 19/09/2021 às 8:00
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Comprar um carro zero quilômetro hoje no Brasil significa pagar, no mínimo, algo próximo a R$ 50 mil reais. Isso por um modelo com motor 1.0, sem ar-condicionado, direção hidráulica ou mesmo um simples rádio AM/FM. Como ninguém está disposto a passar calor e fazer força na hora de estacionar, os mesmos carros com ar e direção beiram facilmente os R$ 60 mil. E estamos falando basicamente de dois modelos, o Fiat Mobi e o Renault Kwid, os carros nacionais mais baratos do mercado. A opinião de especialistas é que a oferta de modelos mais acessíveis será cada vez menor. 

O quadro era bem diferente há 10 anos. Segundo pesquisa da KBB Brasil, empresa especializada em pesquisa de preços de veículos novos e usados, em 2011, nenhum modelo popular ultrapassava o limite de R$ 40 mil de preço médio das versões. O Chevrolet Celta era o carro que possuía o menor valor médio (R$ 24.735) e o Volkswagen Voyage, o maior (R$ 39.475). Em média, o preço dos 10 carros mais vendidos na época girava em torno de R$ 33.327. O Volkswagen Gol em 2011 custava cerca de R$ 34 mil. Hoje, a versão mais barata, sai por R$ 64.950 e se quiser um com câmbio automático, motor 1.6, pintura metálica e alguns acessórios, a conta chega próxima a R$ 90 mil.

PASSADO

Segundo a KBB Brasil,  o preço médio dos dez carros mais vendidos do Brasil é 189,6% maior do que o de uma década atrás. A título de comparação, a inflação oficial acumulada no mesmo período foi de aproximadamente 76,7%. Um dos motivos para a alta recente dos caros 0 km é a falta do produto no mercado. Segundo a Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), este ano, a falta de componentes eletrônicos reduziu a produção em 300 mil veículos no primeiro semestre (22%), se comparado ao mesmo período de 2019 (antes da pandemia), ocasionando a falta de carros em estoques nas lojas e o aumento na espera para receber o carro novo, que pode chegar a seis meses. A alta demanda puxou os preços para cima. A média de reajuste dos 10 carros mais baratos do país foi de 11% nos seis primeiros meses de 2021.

Outra mudança determinante que colaborou para a valorização do carro novo foi a preferencia dos compradores por modelos maiores e mais robustos. De acordo com o ranking dos modelos mais vendidos da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias, em 2011, todos os veículos listados da primeira à décima posição pertenciam às categorias compactas de entrada (hatch ou sedã). Atualmente o cenário é outro. Dos 10 carros mais vendidos em agosto, cinco eram SUVs, veículos utilitários com preços a partir de R$ 100 mil. O VW Gol, que liderou esse ranking por 27 anos, hoje aparece em décimo lugar. 

Os 10 mais vendidos em 2011: 

VW Gol R$ 34.098,00
Fiat Uno R$ 31.543,00
Chevrolet Celta R$ 24.735,00
VW Fox R$ 39.257,00
Fiat Palio R$ 33.260,00
Fiat Siena R$ 39.262,00
VW Voyage R$ 39.475,00
Ford Fiesta R$ 30.123,00
Renault Sandero R$ 35.520,00
Chevrolet Classic R$ 26.000,00
Preço médio  R$ 33.327

Os 10 mais vendidos em 2021:

Fiat Argo R$ 79.677,00
Hyundai HB20 R$ 78.447,00
Fiat Mobi R$ 53.472,00
Jeep Renegade R$ 146.000,00
Jeep Compass R$ 187.190,00
Chevrolet Onix R$ 78.566,00
VW Gol R$ 68.350,00
Hyundai Creta R$ 117.850,00
VW T-Cross R$ 106.394,00
Renault Kwid R$ 49.335,00
Preço médio R$ 96.528

MODELOS E PREÇOS

Alguns modelos de carros compactos deixaram de ser fabricados entre 2020 e 2021, como o Nissan March e o VW up!, diminuindo as opções para os compradores.  Fiat e Renault são as marcas que oferecem os modelos mais em conta atualmente.

Na Fiat, o subcompacto Mobi 1.0, na versão Easy, ostenta o título de carro mais barato do País. Custa quase R$ 50 mil (R$ 47.990 para ser exato). Detalhe, o carro vem sem os itens de conforto considerados básicos hoje em dia, como o ar-condicionado e a direção com assistência hidráulica ou elétrica. Para ter um Fiat Mobi 0 km com esses "luxos", é preciso investir R$ 56.290 na versão Like.

O concorrente direto do Fiat Mobi é o Renault Kwid 1.0. O pequeno carrinho da marca francesa é muito utilizado por motoristas de aplicativos pela boa economia de combustível. Mas para ter um novo, o preço mínimo é R$ 48.290. É o que se paga pela versão Life que, assim como o Mobi Easy, também vem "pelado", sem ar condicionado ou direção assistida. O Renault Kwid mas equipadinho é o da versão Zen, que ultrapassa os R$ 50 mil (R$ 56.590) e vem até com rádio, além do ar-condicionado e a direção elétrica.

O consultor automotivo Alexandre Costa, diretor da Alpha Consultoria, e especialista em análise de mercado, acredita que o fim do carro popular já foi decretado. E não tem a ver necessariamente com a pandemia ou falta de componentes eletrônicos e sim, com a sofisticação dos carros atuais. "Se a gente pensar como o carro popular era no início, eram modelos muito básicos. O Fiat Uno dos anos 90 não tinha nem espelho retrovisor do lado direito e nem encosto de cabeça nos bancos. Por conta da legislação que obriga as fábricas produzirem carros mais seguros, hoje eles contam com airbags e freios eletrônicos antitravamento. Até 2024,todos os carros produzidos aqui terão que incorporar o controle eletrônico de estabilidade, isso é mais custo. Hoje, mesmo que o mercado ofereça carros sem ar condicionado, qual pessoa física vai fazer tal escolha? o modelo básico mais barato é vendido para empresas", afirmou Costa. Para o especialista, existe outro motivo para o carro no Brasil ser tão caro. "A carga tributária da indústria automotiva é alta? Sim, é. Mas enquanto houver consumidores dispostos a pagar caro por um carro novo, o preço vai continuar elevado".

Alexandre Costa disse ainda que a pandemia ensinou algo a indústria automotiva. Se o mercado está difícil, é mais negócio produzir carros com alto valor agregado. "Por que gastar energia produzindo modelos menores e mais simples se é possível produzir menos unidades de carros maiores, mais sofisticados e mais caros? A Jeep, por exemplo, é um sucesso de vendas com carros que custam a partir de R$ 93 mil e chegam a quase R$ 300 mil", concluiu Alexandre Costa.

USADOS

O carro seminovo está valorizado no Brasil. Em agosto último passado, foram comercializadas mais de um milhão de unidades (1.074.324), considerando automóveis e comerciais leves, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Aumento de 17,12% em comparação com agosto do ano passado. Mas, se o preço do carro novo está elevado, o do seminovo também sobe. Os dois mercados estão interligados, explica Antônio Selva, presidente da Assovepe, associação que reúne revendedores em Pernambuco. "Quem pensava em comprar um carro popular 0 km, hoje pensa duas vezes se não é mais negócio comprar um seminovo de categoria superior pelo mesmo preço", diz Antônio Selva. O mercado está aquecido, o problema é que, com a falta de carros novos, o mercado de seminovos fica desabastecido, já que o modelo com dois ou três anos de uso quase sempre é dado de entrada na troca pelo novo nas concessionárias e acaba indo parar nas revendas. "Antes trabalhávamos com estoque de 30, 40 carros na loja, em média, hoje as revendas estão trabalhando com 25 carros. Com pouco carro usado no mercado e o povo procurando, o percentual de desconto cai. Mas não deixamos de vender", diz Antônio Selva.



 

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