Alunos do câmpus Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), localizado na Cidade Universitária, Zona Oeste da cidade, reivindicam a reabertura do Restaurante Universitário (RU). O equipamento foi fechado em março de 2020 por causa da pandemia de covid-19. E no início deste ano começou a ser reformado para ampliação do espaço, com previsão de conclusão da obra no próximo mês de setembro, segundo a gestão da universidade.
Para pressionar a retomada da oferta de refeições, os estudantes farão um ato, na próxima quinta-feira (11), data em que a UFPE comemora aniversário de 76 anos. Os discentes ligados aos diretórios acadêmicos, com apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE), vão servir feijoada, a partir das 11h30, em frente ao RU. Será cobrado um valor simbólico de 1 real por prato.
A UFPE é formada por cerca de 40 mil alunos, 2.500 professores e 3.400 técnicos, juntando os três câmpus (Recife, Vitória de Santo Antão e Caruaru).
"O RU é muito importante. Foi fechado na pandemia. Voltamos a ter aulas presenciais no início deste ano e são muitos alunos que passam o dia na universidade. Estamos em contato com a reitoria, que mantem diálogo conosco. Mas não nos foi dada previsão de quando o restaurante reabrirá", diz a vice-presidente da UNE em Pernambuco, Débora Silva, 25 anos. Ela está no 9º período de pedagogia na UFPE.
Débora ressalta que a UFPE paga uma bolsa mensal, no valor de R$ 300, para os alunos mais vulneráveis custearem a alimentação. "O problema é que há mais estudantes carentes que podem ser beneficiados com o RU aberto", observa a universitária, que também integra o DA de pedagogia. Ela passa o dia na universidade. Chega por volta das 7h e fica até 22h, pois estuda e trabalha na UFPE.
PRECARIEDADE NAS REFEIÇÕES
Marjory Williams, 24 anos, está no 8º período de farmácia. O curso é integral, portanto ele passa também o dia na UFPE. À noite ainda integra um grupo de pesquisa. Não recebe bolsa de assistência estudantil. Diz que várias vezes tem que escolher entre almoçar ou jantar devido ao custo. Paga uma média de R$ 10 por uma quentinha. A segunda refeição acaba sendo um lanche, como coxinha ou tapioca.
"Isso acontece com vários colegas da universidade, principalmente os que são do interior. Alguns chegam a passar mal porque não comeram. E os que trazem de casa não têm onde armazenar a comida. É difícil estudar com fome", comenta Marjory, que ainda pegou o RU funcionando, em 2019. Pagava R$ 3 pela refeição. "Hoje é complicado ter R$ 20 por dia para almoçar e jantar. Por isso o RU aberto é uma necessidade urgente", destaca.
Ele é de Belém de São Francisco, no Sertão. Divide um apartamento com dois alunos, um de cinema e outro de publicidade, que igualmente não têm condições de bancar a alimentação. "Minha família ajuda a pagar o aluguel, mas para pagar o restante das despesas tenho que me virar. Faço produção cultural", explica Marjory.
O QUE DIZ A UFPE
Segundo o pró-reitor de Assuntos Estudantis da UFPE, Fernando Nascimento, a reforma no RU começou em janeiro e deve acabar em setembro. Setenta por cento do serviço está pronto. O investimento é de R$ 2 milhões, fruto de uma emenda parlamentar.
"Com a ampliação, o RU vai mais que dobrar a capacidade de atendimento. Passará a ter 900 lugares. Hoje são 350. Significa que além de atender mais gente, terá mais qualidade, com menos filas", observa Fernando.
O equipamento oferecia, antes de fechar, 1.800 almoços por dia. A meta é chegar agora a 4 mil. "Entre café da manhã, almoço e jantar, servíamos 4 mil refeições. Com a ampliação, teremos capacidade para 7 mil por dia", destaca o pró-reitor.
Atualmente, 3.030 alunos recebem o auxílio alimentação, no valor de R$ 300 mensais. São justamente os estudantes que seriam beneficiados caso o RU estivesse funcionando. No geral, a UFPE investe mensalmente R$ 2,7 milhões em assistência estudantil, com bolsas diversas, contemplando 5 mil universitários.
NOVO MODELO
Fernando informa que a reforma deve terminar em setembro. Mas o plano da UFPE é retomar o restaurante com um novo modelo para que atenda toda a comunidade universitária (alunos, docentes e servidores), além de visitantes.
"No atual formato, o RU atende somente aluno em situação de vulnerabilidade. Nossa proposta é que seja aberto a todos, como espaço de alimentação e convivência", diz o pró-reitor.
Segundo ele, já começaram as discussões sobre esse novo modelo. A ideia é manter a gratuidade para alunos mais pobres e estipular valores diferenciados para o restante da comunidade.
Sobre o ato na próxima quinta-feira, ele diz que "faz parte do processo democrático e formativo dos estudantes reivindicarem. Concordamos que é muito melhor o RU aberto que o pagamento do auxílio alimentação".
"Sabemos da importância do RU e faremos o possível para que reabra no menor tempo", assegura Fernando.
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