As transformações na educação do mundo todo seguem o rumo de uma didática que prioriza a elaboração de projetos multidisciplinares, reunindo formas de teorizar e, especialmente, praticar diversos conteúdos aplicados juntos e de forma colaborativa.
É por isso que cada vez mais escolas particulares e o ensino público têm investido em espaços de realização, chamados de "espaços makers" – laboratórios onde é possível entender na prática o que no passado era ensinado apenas com um quadro e um giz de cera.
O professor de design e ciência da computação da Cesar School, Henrique Foresti, trabalha nessa área há vários anos e tem acompanhado a inserção desses espaços de realização e aprendizado no ensino público em Pernambuco.
"Há alguns anos a gente podia dizer que havia uma hegemonia das escolas privadas e as escolas públicas pouco apareciam nesse cenário. Atualmente, escolas e universidades públicas se destacam em competições nacionais e internacionais. A maior dificuldade, no caso das escolas, é capacitar os professores em larga escala para trabalhar com os kits de robótica e tecnologia", explica.
Foresti lembra que Pernambuco tem tradição de parcerias entre entes públicos e privados para tornar mais democrático o ensino com ferramentas de tecnologia e inclusão digital.
Ele cita exemplos da Prefeitura do Recife, de Belo Jardim e do Governo do Estado, em parceria com empresas como Baterias Moura e entidades como o Instituto JCPM, Cesar, Softex, Instituto Unimakers e o Fablab – que têm conseguido mudar essa realidade.
INOVAÇÃO
Para ele, o mais importante é a mudança de mentalidade dos alunos que, ao invés de receberem um conhecimento repassado pelos professores, na verdade, constroem um conhecimento com professores e colegas e exploram as diversas possibilidades oferecidas na era da informação e da tecnologia.
Com os espaços de prática, é possível estimular a busca por conhecimento em diversas áreas, não apenas no ambiente das exatas, mas também em humanidades, saúde e em atividades que envolvam arte e relações interpessoais.
"Temos o exemplo de uma aluna da Rede Estadual de Ensino que desenvolveu um projeto de um exoesqueleto e, para isso, teve que estudar metodologias de design, robótica, precisou estudar inglês para conseguir comprar um motor específico que não era vendido no Brasil, entre outros conhecimentos. Ao final do projeto, essa aluna apresentou o trabalho no Ciência sem Fronteiras e mostrou um aprendizado incrível e multidisciplinar", conta o professor Henrique Foresti.
SOLUÇÕES
O coordenador da graduação em design da Cesar School, Luiz Francisco de Araújo, destaca que a cultura de construir e montar projetos é antiga. O que acontece agora é que o aluno é visto como protagonista do processo de aprendizado.
Ele pontua que, num ensino trabalhado em "cases", é possível unir conhecimentos de áreas totalmente distintas para encontrar uma solução que envolva pesquisa em cultura, economia, sociedade e a viabilidade do projeto.
"A partir do estudo multidisciplinar, é possível apresentar uma solução muito mais ampla do que apenas decorando fórmulas", explica Araújo, considerando não ser mais possível trabalhar dentro de "caixinhas".
"A gente encerra uma era de um ensino de fórmulas, para esse campo amplo de possibilidades. O estudante entende que tem que correr atrás do conhecimento, ou de especialistas, para concluir os projetos propostos. E isso vale para toda a vida profissional. Não existe mais algo como 'vou resolver a minha parte'. A 'sua parte' é o projeto entregue. E de repente, a gente tem alunos muito mais integrados, adaptáveis e que conseguem transitar e dialogar com várias pessoas em áreas distintas", pontua Luiz Fernando.
O conceito de espaço maker é o que está sendo adotado pelo Grupo SEB e pelo Colégio Santa Maria. Para o head do Grupo SEB, Alessandro Marques da Luz, a possibilidade de pegar os conceitos de sala de aula e aplicá-los praticando oferece novas perspectivas de aprendizado, tornando a escola mais dinâmica.
"A tecnologia é um vetor do aprendizado, que pode tornar a sala de aula um ambiente mais agradável e desafiador para os estudantes. A gente está se preparando para formar cidadãos para o mundo e para profissões que ainda serão criadas. Será preciso ser cada vez mais flexível e adaptável", considera Alessandro.
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