A pernambucana Fabrícia Marques, 26 anos, está entre os mais de 200 mil pesquisadores prejudicados, no País, com o não pagamento das bolsas de mestrado e doutorado vinculadas à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O órgão do Ministério da Educação (MEC) informou que devido aos cortes orçamentários promovidos pelo governo federal, mais de 200 mil bolsas não serão pagas. O dinheiro deveria ter sido repassado nesta quarta-feira (07).
É com os R$ 2.200 que recebe por mês que Fabrícia custeia moradia, alimentação e transporte no Recife, onde faz doutorado em química na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Filha de agricultores, a doutoranda é natural de Iguaraci, no Sertão do Estado.
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Cursou licenciatura em química no câmpus da Rural de Serra Talhada, na mesma região de sua cidade natal. Depois veio para a capital fazer mestrado e agora doutorado. Começou o doutorado em fevereiro deste ano. Sua pesquisa é na área de síntese orgânica (área da química orgânica responsável pela construção de moléculas orgânicas através de processos químicos).
"Já não pagarei o aluguel deste mês. Vou conversar com os donos para informar que infelizmente vou atrasar o pagamento. Também não tenho como pagar contas de energia, internet e do cartão de crédito. Eu e outros colegas na mesma situação estamos angustiados", diz Fabrícia.
O pai dela mora na zona urbana de Iguaraci e a mãe na área rural. "Eles não têm condições de me ajudar financeiramente. A bolsa é essencial para eu fazer o doutorado. É com ela que custeio todas minhas despesas no Recife", explica a bolsista da Capes.
Fabrícia lembra que os bolsistas assinam um contrato em que se comprometem a não ter nenhuma outra remuneração. "É dedicação exclusiva. Somos impedidos de exercer qualquer atividade financeira", diz.
Na UFRPE o não pagamento de bolsas afeta 572 alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, conforme a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PRPG).
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"Deixamos nossas famílias para nos dedicar à pesquisa e acontece uma coisa dessa. A nossa situação é desesperadora. Estou no Recife porque gosto da pesquisa, faço por amor. Se a bolsa não for paga logo terei que voltar para o interior. O pior é que caso o bolsista abandone o programa precisa devolver os valores que recebeu das bolsas anteriores. Como farei isso?", afirma Fabrícia.
Seus pais só estudaram até o 5º ano do ensino fundamental. Uma irmã dela cursou faculdade privada. "Sou a única que cursou universidade federal e cheguei até o doutorado. É um orgulho para minha família. Espera de todo coração que o pagamento das bolsas seja normalizado. Pretendo esperar até o dia 15. Se não pagarem vou voltar para Iguaraci", relata a doutoranda.
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