Do quarto de um pensionato no Agreste de Pernambuco, Carina Moura,18 anos, conquistou seu objetivo: tirou a nota 1.000 na redação do Enem. A pontuação máxima, segundo ela, foi fruto de estudo árduo e constante, sem ‘fórmulas’ ou firulas para conseguir escrever bem, mas uma bagagem cheia de ‘repertório sociocultural’.
Natural do município de Frei Miguelinho, Carina sempre se dedicou aos estudos. “Eu sempre fui a nerd da família, sempre gostei muito de estudar. Mudei para Limoeiro e passei a morar num pensionato para estar mais perto da escola, porque era muito longe (a distância entre Frei Miguelinho e Limoeiro). Saía todo dia às 4h30 e voltava às 14h30”, relembra.
Filha de um comerciante e de uma cabeleireira, a estudante passou a ver soluções onde apresentavam-se dificuldades para continuar estudando. “Morar no pensionato acabou sendo muito bom. As pessoas que conheci lá, os momentos que tinha, ajudavam a desopilar”, conta.
Se para ter acesso a pré-vestibulares, a distância entre o Agreste a capital, Recife, era um fato impeditivo, a experiência de aulas remotas, adquiridas no meio da pandemia de covid-19, serviram de incentivo.
“Eu tinha acesso à banca no colégio que estudava e também ao pré-vestibular online, que optei por causa da distância e trânsito para sair de Limoeiro para o Recife. Mas era o curso online mais presencial possível”.
A rotina de estudos para conseguir uma nota máxima na redação era definida pela necessidade. “Dependia. Passava até três horas para escrever uma redação porque não gostava do que eu estava lendo. Eu sempre busquei estudar de acordo com a demanda do dia. E me dedicava ao que tinha de ser estudado naquele momento”.
Além de treinar a gramática, ter conhecimento sobre o tema que estava escrevendo foi fundamental. Para Carina nunca bastava apenas ter uma referência sobre um autor ou uma frase decorada para fazer uma citação. “Terminava a aula e eu continuava estudando tudo o que foi falado. Eu anotava tudo”, revela ela, que mergulhou pela história e obra de mais de 30 intérpretes do Brasil.
Com desejo de cursar Medicina na UFPE, a estudante agora se sente mais confiante para disputar uma vaga no Sisu. “Eu estava até meio desanimada com o Enem, mas uma nota mil muda tudo. Claro que as outras notas são importantes, mas estou confiante, sim, e ansiosa. Vi a nota por volta das 23h30 e saí ligando para todo o mundo. Eu ficava pensando e mandando mensagem: ‘acorda, ‘acorda’, eu tirei nota mil”, afirma.
Segunda da família a buscar uma vaga em universidade pública para o curso de Medicina, Carina agora tenta conter o nervosismo e a ansiedade, mas, com razão, já se sente uma vencedora. “Meus pais sempre se dedicaram e trabalharam muito para que eu tivesse acesso a bons professores e uma boa educação [...] e nossa, todos eles ficaram muito felizes”.
A professora do cursinho onde Carina fez pré-vestibular, Fernanda Pessoa, corrobora o sentimento. “Carina representa muito bem esse desejo dos jovens que querem mostrar o seu potencial intelectual. É importante a gente dizer que o Nordeste é celeiro intelectual, sim. Temos conseguido no Enem ter as melhores notas do Brasil”.
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