SOCIOEMOCIONAL

Entenda como os pais podem contribuir positivamente para resultado dos filhos no Enem

Professores e especialistas dizem ser necessário compreender como a interferência dos pais pode contribuir de forma positiva para essa fase preparatória

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Mirella Araújo

Publicado em 24/09/2023 às 7:00 | Atualizado em 25/09/2023 às 9:08
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O processo preparatório para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, que neste ano ocorre nos dias 5 e 12 de novembro, não envolve só os estudantes e os professores, a família também desempenha um papel importante.

No entanto, é necessário compreender de que forma essa relação pode contribuir de forma positiva. A cobrança excessiva e uma rotina de estudo desequilibrada podem impactar negativamente o desempenho dos vestibulandos. A pressão para obter um bom resultado pode levar os estudantes a enfrentarem ansiedade e estresse, comprometendo sua qualidade de vida.

É crucial que os responsáveis e professores estejam atentos aos sinais de dificuldades enfrentadas pelos estudantes. Entre os "sintomas" que podem indicar estresse e ansiedade com o Enem, estão: falta de motivação, perda de sono e a dificuldade de concentração.

"O projeto de ser aprovado no Enem no curso desejado é individual, mas não precisa ser vivido de modo solitário. É importante que o adolescente tenha um apoio coletivo: tanto da família, quanto da escola", explica a psicóloga Joana Lins, do Colégio Saber Viver.

A profissional explica que é preciso "apostar no desenvolvimento da autonomia do adolescente". "É essencial haver confiança e acreditar que ele ou ela é capaz de gradualmente ir desenvolvendo essa autonomia e seu jeito próprio de gerir seus estudos e seus planos para o futuro. Isso implica em consentir com o crescimento dos filhos - algo que pode ser vivido com alguma (ou bastante) dificuldade por alguns pais, pois implica em uma perda e em mudanças na relação entre pais e filhos", afirma Joana Lins.

Para o professor de Matemática José Maria dos Santos Batista, da Escola Técnica Estadual (ETE) Miguel Batista, os professores desempenham um papel de colaborador e canalizador dos estímulos recebidos pelos alunos, mas é fundamental que os os pais acompanhem esse processo preparatório.

"Essa interferência será prejudicial quando os pais querem realizar seus sonhos subjugando os dos seus filhos, tentando condicioná-los a seguir uma profissão que não condiz com o desejo dos mesmos", afirmou o professor José Maria. 

Jailson Jr. / JC Imagem
A estudante Larissa Leandro conta que o acolhimento dos pais é fundamental para acabar com essa "pressão pela perfeição", que pode prejudicar o aluno em sua rotina de estudos - Jailson Jr. / JC Imagem

Rotina de estudos

A estudante Melissa Rebeca Bacalhau, de 16 anos, é aluna do terceiro ano da ETE Miguel Batista, e divide sua rotina entre o modelo de ensino integral e um cursinho para se preparar para o Enem. Entre os simulados e exercícios, Melissa afirma que está focada nos estudos para passar no curso de Medicina, mas deixa claro que não tem se cobrado para ir além do que pode fazer.

"A minha relação com meus pais nesse meu processo, tem sido muito importante e não só de agora, mas desde alguns anos anteriores, porque eles sempre me ajudaram muito nessa questão dos estudos. Eles sempre me deram muito apoio, principalmente a partir do ano passado, que foi quando começou essa parte dos estudos mais focados para o Enem", explica Melissa.

A jovem também conta que esse suporte dos pais não diz respeito só a ela tirar dúvidas sobre os exercícios, existe também um apoio emocional. "Às vezes você está cansada, e só precisa conversar e distrair a mente. Então eles são minha base em tudo, eu sei que posso contar com eles. Se o processo não fosse dessa forma, tenho certeza que essa preparação seria mais difícil", disse.

O pai de Melissa, o representante comercial José Rauriano Bacalhau, reconhece que a participação da família na rotina de estudos dos filhos faz muita diferença no desempenho deles. "A família é a base de qualquer ser humano e que vai dar sustentação em todos os momentos. Nós acompanhamos de perto como ela está se sentindo com relação aos estudos para não colocar nenhum tipo de pressão. Sempre conversamos aqui que a gente faz o que está ao nosso alcance", afirmou José Bacalhau. 

Quem vai fazer o Enem ou outro tipo de vestibular para ingressar em uma universidade, não começa a se preparar somente no terceiro ano do Ensino Médio. A estudante do Colégio Saber Viver, Larissa Leandro, de 15 anos, está no primeiro ano e tem estabelecido um cronograma de estudos focado na preparação para o Exame Nacional.

"Mesmo sendo do primeiro ano, a gente já tem uma preocupação, principalmente por causa do Enem, então já estamos praticando para saber como vai ser. Como rotina de estudos nós temos a escola que nos auxilia bastante com as aulas de monitoria, mas em casa eu sempre estudo muito os assuntos que caem mais, pego as questões dos anos passados para tentar ver a base, e quando tenho muitas dúvidas meus pais me ajudam muito", afirmou Larissa. 

Ela explica que não sente nenhum tipo de pressão porque sempre ouviu dos seus pais que, caso o resultado não seja o esperado, é importante saber que o esforço foi feito. "A gente sabe que o resultado nem sempre é o que queremos, até mesmo por algum nervosismo ou algo que está acontecendo naquele momento. Então, vindo deles e de mim mesma, não temos essa pressão", disse. 

A mãe de Larissa, a gerente financeira Patrícia Magnólia de Almeida Leandro, diz que tem se adaptado à rotina da filha para que ela possa se sentir bem acolhida nos próximos dois anos finais do Enem.

"Essa participação da família nessa rotina tem sido feita de uma forma bem contínua, não estamos só esperando o resultado final, então tento acompanhar bem de perto, é de suma importância nossa participação em reuniões escolares, nossa contribuição em relação a respeitar os cronogramas da escola, o acompanhamento não só de cobranças de notas, mas do aprendizados. Essa parte é que acho fundamental, de acompanhar essa nova fase da vida escolar de Larissa", 

Habilidades socioemocionais

Antes de falar do apoio dos pais ou responsáveis, a consultora de Produção de Conteúdo e Tecnologias Educacionais na Mind Lab, Thaís Lenhardt, explica que é importante entender o contexto em que se encontram os alunos que estão se preparando para o Enem.

"Nós estamos falando sobre um exame que tem como objetivo avaliar o desempenho escolar do estudante no final da educação básica, então estamos falando de um período que, embora ele seja referenciado pelo ensino médio, estamos falando de uma trajetória que passou lá pela educação infantil e passou pelos anos iniciais e finais do ensino fundamental, e finalizou no ensino médio", explicou a especialista.

Isso significa que o aluno está passando por um processo de transição em que ele vai pleitear caminhos diferentes por meio da nota obtida pelo Enem, precisando lidar com várias questões sistêmicas como as questões que ele não tem afinidade ou ainda o fato de que ele vai fazer a prova fora do ambiente familiar, neste caso fora escola, ter que gerir o tempo e a própria questão da avaliação.

"Então o pai pode apoiar na construção de um cronograma, na ajuda da identificação de gaps e potenciais, de organização do espaço e não estamos falando de um espaço suntuoso e super bem estruturado, mas um ambiente que possa familiarizar aquele estudante com o espaço que ele tem de estudo sem fatores de distração", pontua Thaís Lenhardt.

A consultora da Mind Lab também chama atenção para a importância de se ter habilidades socioemocionais desenvolvidas. A comunicação aberta com a família, receber empatia e liberdade para que o jovem possa falar sobre seus sentimentos sem se sentir fracassado, caso a meta não seja cumprida, é uma forma de obter o equilíbrio nessa preparação que naturalmente desperta ansiedade e estresse nos estudantes.

"O aluno está num processo e numa trajetória, por isso que a comunicação aberta, essa empatia e alinhamento de objetivos é essencial. Se o filho precisa atingir uma determinada nota, para pleitear uma vaga numa universidade pública ou pleitear um financiamento, temos que avaliar sobre o que ele precisa para atingir essa nota", questiona Thaís. 

"O papel dos pais tem que ser nessa orientação tanto em relação ao acolhimento de lidar com a frustração, de conhecer o filho, porque alguns têm autonomia de refazer esse planejamento, mas outros precisam de um apoio maior. Não existe caminho único para todos os estudantes", conclui a especialista. 

 

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