TECNOLOGIA

Uso da tecnologia para ensino e aprendizagem ainda é desafio na educação brasileira

De acordo com os dados apresentados no Censo Escolar 2023, a disponibilidade dos recursos tecnológicos no ensino médio é maior do que nas escolas de ensino fundamental

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Mirella Araújo

Publicado em 28/02/2024 às 15:47 | Atualizado em 28/02/2024 às 16:38
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Embora o acesso à infraestrutura tecnológica seja essencial para o progresso dos alunos, a forma como esses recursos são utilizados no cotidiano estudantil requer uma avaliação mais aprofundada.

De acordo com os dados apresentados no Censo Escolar 2023, a disponibilidade dos recursos tecnológicos no ensino médio é maior do que nas escolas de ensino fundamental, no Brasil. Quando observada a rede estadual, que detém o maior número de escolas de ensino médio, nota-se que 86,6% das unidades têm acesso à internet banda larga.

Apesar disso, o percentual correspondente ao uso da internet para ensino e aprendizagem diminui para 79,5% no caso das escolas de ensino médio e para 79,1% nas escolas de ensino fundamental. Outro resultado que aponta na mesma direção é o de acesso à internet para estudantes, que está em 78,5% para ensino médio e 74,6% para ensino fundamental, considerando apenas as redes estaduais.

“Quando olhamos os dados com relação a disponibilidade puramente de internet, a gente vê que até há nas escolas, um acesso alto dos pontos estão sendo reforçados no Censo. No entanto, muito desse acesso ainda está pautado no uso administrativo, o que significa que a escola pode ter ali uma conectividade para fazer sua gestão no dia a dia, mas isso não se traduz ainda numa realidade que pode ser usada nos professores em sala de aula”, explica a Lia Glaz, diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo.

No recorte regional, fica evidenciado uma desigualdade muito grande no país referente ao acesso à internet para o ensino e aprendizagem, por exemplo. Enquanto na região Norte, o acesso no ensino médio corresponde a  47,1% , seguido do Nordeste com 72,2%. Na região Sul, esse percentual é 92% e no Sudeste de  89,2%.

“Isso é uma realidade tanto no ensino médio, que tem usualmente uma gestão dos estados, e é um pouco pior quando olhamos no ensino fundamental, que tem uma gestão feita pelas redes municipais normalmente. É importante que possamos pensar na inserção qualificada de tecnologia dos estudantes, que também está correlacionada com o nível de influência digital dos docentes. Na questão da tecnologia na sala de aula é importante garantir a infraestrutura (internet, acesso a computadores e tablets,etc.), e existe uma questão que é garantir que os professores tenham fluência digital, as competências e habilidades para uso dessa tecnologia”, destaca a diretora da Fundação Telefônica Vivo.

Divulgação
Lia Glaz, diretora presidente da Fundação Vivo Telefônica - Divulgação

QUALIFICAÇÃO TECNOLÓGICA PARA PROFESSORES

A Fundação Telefônica Vivo realizou recentemente uma pesquisa, em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), que mostra que a realidade ainda nos municípios é de que ainda não há um currículo voltado para inserção qualificada de tecnologias.

A Fundação também desenvolveu junto ao Centro de Inovação da Educação Brasileira (CIEB) uma medição, por meio de uma autoavaliação de professores,  que mostra de forma bem representativa no Brasil, que se tivermos uma escala de um a cinco, nossos professores ainda estaria no nível de influência digital mais próximo do nível um e dois, do que para três e quatro.

“O que significa que ainda é um nível de influência muito incipiente e muito básico. Para que possamos dar conta dos desafios de inserção tecnológica nas nossas escolas, não só para o uso mas para o ensino sobre tecnologia, é imprescindível que se trabalhe essas competências e habilidade dos professores como parte estratégica da formação deles”, destacou a diretora presidente Lia Glaz.

O professor (provocador) do Centro de Educação da UFPE, Marcos Barros, aponta que há alguns gargalos sobre a aplicação destes recursos. Um deles é a formação inicial dos professores sobre o uso de tecnologia nas escolas.

“Nós temos hoje três escolas funcionando no Brasil. A gente tem uma escola que funcionou antes da pandemia da covid-19, uma escola que funcionou durante esse período, e outra pós-pandemia. E nestes três recortes temos como ver muito claramente o lugar da tecnologia na Educação”, afirmou Barros.

Ele citou como exemplo o uso de aplicativos como o Whatsapp, em 2020, que “salvou a educação no campo, na zona rural”, porque era basicamente o único meio de comunicação entre os professores com os pais e alunos.

“O professor formador que está na universidade formando professores, ele não se apropriou da tecnologia. Então estamos formando professores que mesmo sendo de uma nova geração que nasceu na tecnologia, ela não consegue fazer relação do que podemos possibilitar com isso”, avalia o professor da UFPE.

O docente também defende que dentro desse movimento formativo, os alunos possam estar integrados nesse aprendizado, assumindo esse lugar de também poder ensinar sobre as ferramentas tecnológicas que eles têm domínio. A tecnologia, neste caso, afirma Marcos Barros, precisa ter sua utilização muito bem pensada e sem ser de forma indiscriminada.

Dalvaneide Araújo
O professor do Centro de Educação da UFPE, Marcos Barros, defende que o uso da tecnologia para o ensino e aprendizagem possa ser feito sob o viés de trazer facilidade para os alunos e para os professores - Dalvaneide Araújo

ACESSO A TECNOLOGIA É UM DIREITO DO ALUNO

O acesso da tecnologia é um direito do aluno e quando ela é feita desde o início da vida escolar, a criança começa a aprender a pensar e organizar melhor suas estruturas cognitivas. “A grande premissa do uso dos vários recursos tecnológicos desde a programação até a produção pelo design, é ensinar o aluno a tomar decisões melhores, a trabalhar com variáveis de forma melhor”, destacou o professor Marcos Barros.

No Censo Escolar 2023,  quando o recorte trata dos recursos tecnológicos disponíveis nas escolas por localização diferenciada, os percentuais nas escolas indígenas e quilombolas mostram o quanto esse cenário ainda está muito distante de muitos alunos. Na Educação Indígena, o acesso a internet para ensino e aprendizagem no ensino médio corresponde a 48,5% enquanto nas escolas Quilombolas é de 61,6%. 

Tanto a diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo quanto o professor do Centro de Educação da UFPE defendem a criação de políticas públicas que possam chegar nestes espaços. 

“Esse é um cenário que se correlaciona muito com o que vemos numa realidade de Norte e Nordeste, que é onde muitas dessas escolas estão. Mas existe também uma necessidade de uma política e não só para questão de tecnologia, mas para várias outras questões de olhar para essas escolas quilombolas e indígenas com intencionalidade para de fato estabelecer metas porque exigem demandas diferentes”, pontuou Lia Glaz.

"Tem que se pensar em políticas públicas que cheguem muito próximo desse aluno, desse professor e dessa comunidade. Porque neste caso, temos que focar em recurso, infraestrutura e formação. Estamos pecando nas minorias e cito aqui os quilombolas, ciganos, indígenas, a população negra, primeiro nessa questão do acesso ao recurso financeiro porque estas escolas não tem infraestrutura", declarou o professor Marcos Barros, pontuando ainda que é preciso pensar na formação destes professores também.

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