Entenda os impactos da transformação digital na educação e o uso de IA em sala de aula
Temáticas foram abordadas por especialistas sob a perspectiva da formação de professores durante evento realizado pela Fundação Telefônica Vivo
São Paulo (SP) - A inclusão de tecnologias digitais no currículo é fundamental para capacitar os alunos a compreender e interagir com a Inteligência Artificial de forma ética e eficaz. Isso envolve não apenas a promoção da aprendizagem contínua dos estudantes, preparando-os para o mercado de trabalho, mas também a qualificação dos professores, que devem estar alinhados a essas competências em sala de aula.
Esse cenário foi amplamente debatido durante o evento “Transformação Digital na Educação: Desafios e Tendências” promovido pela Fundação Telefônica Vivo, nessa terça-feira (1º), na Zona Sul de São Paulo, em celebração aos seus 25 anos de atuação no Brasil. Na ocasião, especialistas abordaram quais caminhos precisam ser trilhados na educação pública a partir desse universo digitalizado.
Diante dos atrasos tecnológicos, das desigualdades sociais e dos desafios cognitivos que enfrentamos, é importante entender a necessidade de aprimorar a educação. Isso envolve o uso eficaz das ferramentas disponíveis para melhorar a qualidade do ensino. O presidente do Center for Curriculum Redesign (CCR), e professor visitante em Havard e MIt, Charles Fadel, aponta que os professores não estão preparados para a era da Inteligência Artificial, porque os próprios currículos não foram adaptados para isso.
Durante o evento, Charles Fadel destacou em sua palestra sobre "Educação e Inteligência Artificial: transformando o ensino e a aprendizagem", antes de mais nada é preciso garantir o acesso à tecnologia, para que só então os currículos desenvolvidos em alto grau de dificuldade sejam aplicados de forma versátil a todas as disciplinas. "Os governos ao redor do mundo devem reconhecer a necessidade de criar currículos mais detalhados, incluindo planos de aula, e investir na capacitação dos professores", pontuou Fedel.
Ele é autor do livro "Educação para a era da inteligência artificial", cuja tradução foi realizada por meio de uma parceria entre a Fundação Telefônica Vivo, a Fundação Santillana e o Instituto Península, e está disponível para leitura gratuita.
Repensar a educação básica
Para a presidente e cofundadora do Todos pela Educação, Priscila Cruz, sob uma perspectiva mais otimista, a educação brasileira está passando pela construção de uma série de reformas educacionais que evidenciam a necessidade de uma visão mais sistêmica das políticas educacionais no Brasil. Embora não exista uma solução simples para garantir bons resultados aos alunos da educação básica, é fundamental considerar que eles enfrentarão uma sociedade complexa, não apenas em termos tecnológicos, mas também em relação às mudanças climáticas e ao aumento das desigualdades.
Durante a mesa "Como repensar a educação básica na era digital", Priscila Cruz chamou a atenção para duas importantes políticas públicas. A primeira diz respeito aos investimentos na Primeira Infância. "É nesta etapa que começamos a construir a cognição cerebral, além de aspectos físicos, sociais e psicológicos, assim como uma série de competências de desenvolvimento. No Brasil, enfrentamos um desafio: quanto mais pobre a criança, menos oportunidades ela tem para desenvolver essas competências", declarou a cofundadora do Todos pela Educação.
Nesse contexto, Cruz acredita que a inteligência artificial (IA) pode ser um grande impulsionador de novas conexões e brincadeiras. "Temos uma proposta de Governo Digital, que pode ampliar a colaboração da tecnologia na gestão educacional. O Recife apresenta uma boa experiência nesse sentido", afirmou.
E esse olhar para as boas práticas que existem dentro do próprio território brasileiro, é defendido pelo professor titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e relator no Conselho Nacional de Educação (CNE) sobre a BNCC Computação, Ivan Siqueira.
"A gente precisa olhar para dentro de nós mesmo e também para o passado, de experiências que deram e que dão certo, mas que elas ficam localizadas e que a gente não consegue utilizar essas boas experiências para contaminar positivamente o sistema todo", afirmou.
Segundo Siqueira, a maneira de fazer educação no Brasil "espelha parcialmente o que é o país". "A educação não é o retrato do Brasil, porque ela não é o retrato de uma parte significativa, sobretudo, uma parte criativa do país, de uma parte que consegue produzir muito com muito pouco", disse.
Nesse sentido ouvir as populações, as partes que compõem a sociedade seria fundamental. "Precisamos melhorar a qualidade do nível da informação. As pessoas tem uma formação de péssima qualidade, então se você dá um insumo muito ruim, não pode querer que ele depois reverbere coisas que não são da multiplicação do que foi oferecido", declarou o professor da UFBA.
Conectividade nas escolas
Aqui vale destacar uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), divulgada em maio deste ano, revelou que apenas 11% das escolas municipais e estaduais do país dispõem de acesso à internet com velocidade adequada. O estudo mostrou ainda, com base em dados do Censo Escolar da Educação Básica, que, das 137.208 escolas estaduais e municipais em todo o país, 89% estão conectadas à internet.
No entanto, apenas 62% desse total afirmam ter acesso à internet para o processo de ensino e aprendizagem. Além disso, apenas 29% das escolas dispõem de computadores, notebooks ou tablets para que os alunos possam acessar as redes. Entre as instituições que possuem equipamentos, a média é de um dispositivo para cada dez estudantes no turno escolar mais frequente.
Sobre os desafios da conectividade, o secretário de Educação do Recife, Fred Amancio, que também esteve presente no evento, afirmou que é necessário entender que a integração de tecnologia e inovação com a educação não é uma solução que abrange apenas um eixo. "Você precisa construir uma estratégia bem definida. Em 2021, estávamos em um contexto de pandemia e precisávamos ter uma estrutura capaz de atender a todos os nossos estudantes da rede municipal do Recife", disse.
"Tomamos a decisão de não criar apenas uma estratégia para o momento da pandemia, mas algo que pudesse ser permanente e deixar um legado de curto, médio e longo prazo. O primeiro eixo do nosso programa é o mais básico, relacionado à infraestrutura, que inclui a conectividade, trabalhando em três grandes dimensões: estudantes, professores e escolas.", relatou Amancio, afirmando ainda que hoje 100% das escolas da rede municipal do Recife são 100% conectadas.
O secretário de Educação do Recife também pontuou que as ações para além da garantia da conectividade, passa pela preocupação da integração curricular, ou seja, que o uso da tecnologia seja transversal. "É importante que nossos estudantes aprendam sobre tecnologia e com tecnologia. Porque é algo que está presente na vida deles, não é só uma questão de currículo", afirmou Fred Amancio.
Um dos exemplos práticos é a introdução de novas disciplinas que conversam com esse entendimento, como a disciplina de Tecnologia, Inovação e Pesquisa, e Raciocínio Lógico articulado com a disciplina de Matemática. O Recife inclusive tem uma parceria com a Fundação Telefônica Vivo por meio do programa Matemática ProFuturo, que tem como foco nos estudantes do ensino fundamental.
*A titular da coluna Enem e Educação viajou a convite da Fundação Telefônica Vivo