O camelódromo foi construído para acomodar vendedores ambulantes, mas está cercado deles, como mostra a foto feita na Avenida Dantas Barreto.
Foi só o Secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, anunciar a construção de shopping centers populares, e os leitores começaram a questionar a iniciativa. Terão os novos "camelódromos", o mesmo destino daquele, tão feioso e mal conservado, que fica na Avenida Dantas Barreto? Será que ele está cumprindo o seu papel, que era o de retirar os ambulantes das ruas do centro? A coluna foi lá conferir. A julgar pelo que viu, camelô no entorno é o que não falta. As calçadas, o asfalto da vizinhança e até os seus corredores centrais, encontram-se tomados por tabuleiros. Os corredores, aliás, são um capítulo à parte. Destinados apenas a pedestres, viraram pista até de moto. Os usuários comemoram o abrigo, que lhes protege "do sol e da chuva", que enfrentavam ao ar livre. Mas se queixam da sujeira, dos banheiros insuficientes, da falta de manutenção, e da concorrência com os camelôs da rua. Também reclamam do pouco movimento e da insegurança. Afirmam que muitas mercadorias são roubadas por menores, e "vendidas" em uma feira de troca-troca, perto da Avenida Sul. E que aliás, estava bem ativa na quarta-feira, quando a equipe do JC esteve no local.
Amável de Oliveira Santos está no camelódromo desde o seu início, mas se queixa do movimento e da violência: mercadorias roubadas reaparecem em feira de troca-troca, que fica perto do local.
Depois de passar quinze anos negociando na Rua Direita, Amável de Oliveira Santos ganhou, finalmente, um box no camelódromo, onde está desde sua fundação. "Aqui é bom, porque não tem chuva nem sol. Mas em compensação, o movimento é muito ruim. Na rua vendia mais. Há dias, que fecho o box sem ter vendido nem uma calcinha de um real. Como se isso não bastasse, ainda tem uns 'trombadinhas' que roubam mercadoria. E vendem lá na feira do troca troca". Ela reclama, também que, com a rua tomada por camelôs, os que ficam confinados no edifício terminam por vender menos. "Logo no início, as ruas da Imperatriz, Livramento e todas as outras do bairro de São José ficaram limpas. Mas hoje estão tomadas de novo por ambulantes, que botam barracas de todo jeito, enquanto a gente fica aqui dentro. Faltam organização e fiscalização", reclama André Antônio de Sena, que negociou nas ruas entre 1989 e 1994, quando foi para o camelódromo. Os donos dos boxes ainda se queixam da invasão dos corredores do camelódromo, por tabuleiros, bicicletas, motos, carroças. Os vãos deveriam ser usados só por pedestres. O camelódromo tem seis módulos, um dos quais está desativado. A prefeitura não informou o número de boxes vazios. Mas eles foram observados na parte interna e na externa. Eles dizem que o último módulo, que fica no final da Dantas Barreto, já próximo à Avenida Sul não era frequentado, por conta do excesso de violência na área.
Na terça (na coluna) e na quarta (na primeira página do Caderno Cidades, do JC), a construção de novos centros populares de compra foi noticiada. A Prefeitura informa que adquiriu oito terrenos para construção de shopping centers, dos quais quatro ficam no centro. Cerca de R$ 12 milhões foram investidos na aquisição desses imóveis. Para o leitor Carlos Calábria, ao invés de construir um novo camelódromo, a Prefeitura deveria sim, requalificar o primeiro."Quem construiu aquela geringonça foi o próprio João Braga, quando era secretário do então Prefeito Jarbas Vasconcelos (PMDB). Na minha opinião, ele deveria incrementar, requalificar o que já existe. Deixaram o prédio cair no esquecimento", diz. Realmente o camelódromo virou um monte de "puxadinhos", perdeu toda sua estética e só enfeia a já degradada paisagem dos bairros de São José e Santo Antônio.