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João Campos sanciona lei que reconhece o Festival Rec-Beat como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife

Rec-Beat acontece anualmente e é um dos espaços mais disputados do Carnaval de Pernambuco

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Cadastrado por

Rodrigo Fernandes

Publicado em 17/12/2023 às 9:01 | Atualizado em 17/12/2023 às 9:17
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O prefeito João Campos (PSB) sancionou a lei 19.157, que reconhece o Festival Rec-Beat como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. A decisão foi publicada no Diário Oficial do município do último sábado (16).

A proposta, de autoria da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), foi apresentada na Câmara Municipal no mês de junho e, após ser aprovada pelas comissões de Legislação e Justiça e de Educação, Cultura, Turismo e Esportes, foi aprovada em plenário no dia 27 de novembro.

No texto, Cida Pedrosa defende que o Rec-Beat oferece acesso gratuito a uma programação diversa e requintada, o que torna o evento democrático e acessível a diversas camadas da população.

O festival acontece anualmente e é um dos mais disputados espaços do Carnaval de Pernambuco, sendo realizado no centro do Recife.

"O evento promove um diálogo entre diferentes gêneros musicais, origens e gerações, contribuindo para a construção de um 'mosaico' sonoro rico e surpreendente. Através de suas atrações, tem impulsionado a carreira de Artistas e Bandas, além de reavivar nomes icônicos da música brasileira", diz a justificativa da vereadora.

Cida também diz que o Rec-Beat desempenha um papel relevante como formador de público, além de ser um espaço para lançamento de novos talentos e impulsionador da carreira de diversos artistas.

"O Rec-Beat se destaca como um espaço democrático em um tempo de tensões sociais, que busca promover a eliminação de preconceitos e estereótipos, criando um ambiente inclusivo e respeitoso para a diversidade cultural. Ao reunir diferentes estilos musicais, manifestações artísticas e públicos, se torna um exemplo de convivência harmoniosa e celebração da cultura", conclui a parlamentar.

Após a aprovação do projeto de lei, a vereadora comemorou. "Esse festival, que há tantos anos promove nossas e nossos artistas, abrindo as portas do Recife para o mundo, é bonito demais e merece todos os nossos aplausos", disse Cida Pedrosa.

A Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin) usou as redes sociais para parabenizar o evento. "Muito merecido esse título que celebra a potência cultural do nosso Rec-Beat! Parabéns ao Festival filiado", diz uma publicação.

A história do Rec-Beat

Veja a história do Rec-Beat, em texto fornecido pelo próprio festival e anexado ao projeto de lei da vereadora Cida Pedrosa.

A história do Rec-Beat está diretamente entrelaçada com a criação do Movimento Mangue. Pode-se dizer, sem medo de cair no exagero, que o festival serviu de suporte para o novo conceito sonoro, social e estético que nascia no Recife no início da década de 1990.

Antonio Gutierrez, mais conhecido como Gutie, acabava de desembarcar na capital pernambucana como correspondente da Gazeta Mercantil no Recife, no final dos anos 1980. Em meio à profusão do Movimento Mangue, Gutie começou a realizar festas temáticas na casa noturna chamada Franci’s Drinks, no Recife Antigo, e no Panqueca’s, bar localizado no bairro das Graças, na Zona Norte do Recife. Quase todas as bandas do Movimento Mangue tocaram nessas casas.

Duas festas montadas por Gutie fizeram história nessa época, já chanceladas pelo nome “Rec-Beat”: um evento em que Chico Science tocava músicas do Fellini, banda paulistana da qual Chico era fã; e uma noite em que foram reunidos Devotos do Ódio e Lara Hanouska para tocar o repertório do The Doors. Houve também uma expedição de 12 bandas pernambucanas à São Paulo em 1994, sob a chancela Rec-Beat. Não demoraria muito para Gutie largar o jornalismo e se dedicar exclusivamente às suas verdadeiras vocações: produtor de eventos e de bandas.

As festas temáticas, já batizadas de Rec-Beat, acabaram se transformando em um festival realizado no carnaval de Olinda. Em uma época em que o carnaval olindense era praticamente um evento diurno, Gutie percebeu a necessidade de criar um point em que as pessoas se encontrassem a noite para poder beber, trocar ideias e ver shows. Deu tão certo que passou a ser o grande destaque das noites do carnaval de Olinda, numa época em que a violência aumentava exponencialmente com o cair do sol.

A ousadia foi tamanha e tão certeira que passou a fazer parte da programação oficial do carnaval de Pernambuco.

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No Rec-Beat cabiam nomes como Dona Selma do Coco, Via Sat, Mudhoney,  Funk como Le Gusta, Devotos, Matalanamão, Ira!, Jovem Guarda, Maracatus, Samba e Coco. Um aglomerado de culturas que criou outra; um público que passou a se habituar com um novo conceito; o de não existir música fora do padrão ditado/datado pelo calendário carnavalesco.

As 300 pessoas que circulavam pelo festival em suas primeiras edições se transformaram em 15 mil por noite. E, um pouco mais tarde, em quase 20 mil. Em 28 anos de história, o Rec-Beat passou por quatro endereços, até se instalar definitivamente no Cais da Alfândega, no sítio histórico do Recife, onde permanece nos dias de hoje, contribuindo para o fomento do Carnaval e para a projeção nacional e internacional da cidade.

Foi o festival que testemunhou o nascimento do Cordel do Fogo Encantado e o renascimento da Nação Zumbi, ressurgido das cinzas após a trágica morte de Chico Science. Que deu espaço para o inacreditavelmente transgressor Textículos de Mary. Um evento que investiu na pluralidade de nomes independentes e consagrados, sem nunca subestimar a inteligência do público.

De Rogério Skylab a Lenine. De MV Bill a Maria Alcina. De João Donato a Emicida. De Erasmo Carlos ao saudoso Luiz Melodia. Da música típica africana ao punk do Replicantes.

Com a certeza de que um festival é, também, um serviço de utilidade pública, oferecido gratuitamente, que gera empregos, amplia os horizontes, junta mundos que andam separados o resto do ano, mas que se encontram no fenomenal público flutuante do Rec-Beat: a pessoa que sai de casa só para ver seu grupo preferido; as hordas de fãs de punk e de rap que invadem o local a cada atração do gênero na programação. Finalmente, os estudiosos e apreciadores de música que buscam justamente conhecer o novo na mais velha das festas: o Carnaval.

Atualmente, com quase trinta anos de existência, o Rec-Beat prossegue sua trajetória sem perder o protagonismo, a originalidade e o frescor. Com um conceito artístico original, solidamente definido, e um público gigantesco conquistado ao logo dos anos e constantemente renovado, está entre os festivais de música referência no Brasil.

A cada edição, dezenas de atrações mobilizam jovens, adultos e crianças. No palco, a música transborda com toda sua exuberância e diversidade, onde tendências, modernidade e tradição se entrelaçam para formar um evento conceitualmente único.

Crianças também são contempladas através do Recbitinho, braço do festival com uma programação exclusivamente infantil, que transita pelo teatro, música, circo, com uma abordagem carnavalesca voltada para os pequenos futuros foliões, realizado em um espaço confortável e de fácil acesso.

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No que se refere a Pernambuco, o festival cumpre uma função estratégica adicional, que passa pela difusão e fortalecimento da identidade cultural pernambucana, no estimulo ao mercado turístico, à economia criativa e à cadeia da música do estado. Recentemente, Recife foi nominado Cidade da Musica pela Unesco, título merecidamente conquistado graças a potencia e tradição da nossa música e, certamente, de eventos como o Rec-Beat.

A realização do Rec-Beat causa um impacto positivo potente na economia criativa e na cadeia da música pernambucana. Durante sua realização, emprega, diretamente, mais de trezentas pessoas, entre artistas, produtores, técnicos e fornecedores diversos. Os empregos indiretos saltam para mais de 600 pessoas.

Nos últimos anos, o Rec-Beat vem participando de importantes feiras e festivais nacionais e internacionais de música, sendo seu diretor constantemente convidado a participar de seminários, debates, roda de negócios, e também como curador em alguns desses eventos. Isso reflete a importância do festival como referência na exposição de bandas brasileiras, ao mesmo tempo que se posiciona como porta de entrada no mercado brasileiro de bandas internacionais.

A expansão territorial tem sido outra conquista do Rec-Beat, que vem ampliando suas fronteiras por meio de edições especiais em outras cidades. Nos últimos anos, esteve presente com edições especiais em cidades como Curitiba, Fortaleza, Sobral, João Pessoa, Caruaru, Belo Horizonte e São Paulo, e tendo já assegurada para 2024 uma segunda edição especial em Salvador, confirmando o potencial do festival junto a novos públicos.

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