Jaime Alheiros*
A Inovação vem se popularizando nos últimos anos como um termo que cristaliza a transição da nossa sociedade para a era digital. Muitas vezes é também associada a uma ruptura do estilo de vida, das ferramentas de trabalho e traz nas suas entrelinhas uma promessa de que nada será como antes. Meio assustador, não? Imagine hoje um mundo sem Smartphones, Uber, Facebook, Instagram, Waze, IAs (inteligências artificiais) e o onipresente WhatsApp... Conseguiu visualizar? Importante lembrar, aos representantes das gerações pré-millenials, que essas tecnologias desembarcaram em nossas vidas profissionais e pessoais há menos de uma década e antes dessa avalanche tecnológica, vivíamos num estilo de vida menos conectado e mais presencial. Entretanto, esses exemplos citados são sucessos indiscutíveis e já fazem parte do nosso cotidiano. Para uma solução tecnológica ser bem sucedida, dificilmente, esta será o fim em si mesmo. Caso não resolva um problema real do dia-a-dia, muito provavelmente irá naufragar. Esse é um caso clássico de Startups que investem numa solução e depois vão procurar um problema para chamar de seu. Não funciona dessa maneira! Ao tratarmos de "Inovação Objetiva", estamos trazendo uma percepção de que essas soluções precisam trazer resultados práticos e palpáveis, conectados com as necessidades do mundo real, ou não conseguirão se inserir no mercado, e no cotidiano, dos seus potenciais clientes. Quando falamos de mundo real, olhamos para setores produtivos e segmentos econômicos com participação efetiva na composição do nosso PIB, mas que estão praticamente marginalizados das soluções digitais nascidas aqui em Pernambuco. Costumo brincar que mesmo num mundo hiperconectado, virtualizado e cada vez mais disruptivo, continuaremos a comer pão na chapa, beber café com leite e fazer aquele churrasco no final de semana! A sociedade digital já é uma realidade, mas isso não significa que todos os processos serão digitais ou virtuais; continuaremos a precisar ordenhar vacas, sovar massa, torrar grãos e acender churrasqueiras. Por outro lado, esse mesmo ambiente de facilidades, com ênfase na figura do usuário consumidor, acaba criando ameaças para alguns setores mais tradicionais com pouca capacidade de adaptação, ou mesmo percepção, de que o mundo e os hábitos de consumo, estão mudando num ritmo vertiginoso. Tanto podemos fazer uma leitura de risco, como de oportunidade. Ao promovermos os matchs (encontros de negócio) entre os setores tradicionais e o ecossistema de inovação, promovemos um ambiente de troca e geramos a massa crítica de onde poderão surgir soluções inovadoras, que resolvem problemas reais e poderão ser escaláveis globalmente. Segundo um artigo recente publicado no NYT tratando da nova geração de unicórnios (empresas com faturamento de bilhões), eles identificam que boa parte dessas empresas serão de “startups sujas”, ou seja, ligadas a setores produtivos tradicionais como agricultura, logística, agropecuária e da indústria; que fornecem produtos e serviços essenciais para nossas vidas e precisarão se manter competitivas para sobreviver. Precisamos desembarcar nossa tecnologia nos campos, nas estradas e nos rebanhos, com o perdão de Wiston pela péssima analogia ao seu call to action (chamamento para a ação) no início da Segunda Guerra Mundial. As iniciativas de Inovação Aberta, Match Day, maratonas de inovação e desafios tecnológicos promovidos de maneira focada, e resolvendo problemas relevantes, nos ajudarão a tirar proveito do que esse admirável mundo novo pode trazer. Essas iniciativas ajudarão tanto na competitividade da nossa economia, quanto na manutenção e qualificação da massa salarial das centenas de milhares de empregos vinculados a esses segmentos. Como Chico Saboya, ex-presidente do Núcleo Gestor Porto Digital e atual superintendente do Sebrae/PE, costuma citar em suas falas – “precisamos trazer o futuro para o presente!”* Jaime Alheiros é diretor de Inovação e Fomento na AD Diper