Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Vacina de Oxford, que faz Bolsonaro brigar com Dória, também será produzida na China

A industria chinesa Shenzhen Kangtai Biological Products vai produzir a vacina candidata contra a covid-19, feita em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido).

Fernando Castilho
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Publicado em 21/10/2020 às 16:30 | Atualizado em 21/10/2020 às 18:03
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PRESSÃO 'Não vou dizer que sou um excelente presidente', disse Jair Bolsonaro, alvo de pedidos de impeachment - FOTO: ABR

Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios

Numa de suas conhecidas mensagens na manhã desta quarta-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) bradou em letras maiúsculas, o que na linguagem de internet quer dizer estar gritando, que a vacina a ser produzida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, testada no Brasil pelo Instituto Butantan, "NÃO SERÁ COMPRADA".

Ainda na manhã, agora numa mensagem com mais detalhes, o presidente escreveu: “Para o meu governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população, deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa. O povo brasileiro não será cobaia de ninguém. Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina”.

Se o presidente ouvir o seu ministro da Saúde e mais os diretores da Anvisa vai ver que a vacina que ele considera segura e que está sendo adquirida pelo Ministério da Saúde produzida pelo farmacêutica britânica AstraZeneca também será produzida na China.

E esse fato reduz a sua briga com o governador de São Paulo a uma mera idiossincrasia política diante da possibilidade de João Doria se mostrar mais ágil na compra da vacina.

O que talvez ninguém tenha dito ao presidente, e aos seus apoiadores, é que a AstraZeneca fechou no último dia 6 um acordo com a chinesa Shenzhen Kangtai Biological Products, para que produza sua vacina candidata contra a covid-19, feita em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido).

Foi o primeiro acordo de fornecimento do imunizante firmado pela empresa com o segundo país mais populoso do mundo. A AstraZeneca já tinha assinado acordos similares com outros países, como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Coreia do Sul e o Brasil, onde a vacina está sendo testada em diferentes Estados.

A AstraZeneca e Universidade Oxford não fazem isso porque apoiam o governo de Pequim, mas porque tanto o Sinovac Biotech como o Shenzhen Kangtai Biological Products têm plantas que podem rapidamente serem acionadas para a produção em larga escala de vacinas. E podem rapidamente suprir essa necessidade de produção dos primeiros lotes.

Até porque produzem vacinas de diversos tipos para diversos países. E isso vai ser feito porque, no caso da Fiocruz, a nova infraestrutura médica e de equipamentos é financiada pela Fundação Lemann. Com os estudos do imunizante sendo liderados pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie) da Unifesp.

Atualmente, 133 vacinas contra o coronavírus estão sendo desenvolvidas ao redor do mundo, segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS. Os Estados Unidos são os responsáveis pelo maior número de vacinas, com 42 projetos, seguido pela China que está trabalhando em outras 19 tentativas de imunização.

Das 133 vacinas, dez estão na fase de testes clínicos, ou seja, estão sendo testadas em voluntários humanos, sendo que cinco delas são de projetos sediados na China. Portanto, a menos que o Governo decida comprar vacina feita apenas nos Estados Unidos ou na Rússia não terá muitos lugares para adquirir o imunizantes.

O problema é que para completar, a postura do presidente, um voluntário brasileiro que participava dos testes clínicos da vacina desenvolvida pela Universidade Oxford e pelo laboratório AstraZeneca morreu devido a complicações de covid-19, na última quinta-feira. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi formalmente informada do fato nesta segunda-feira.

Isso quer dizer que a companhia e a Universidade Oxford terão de parar os experimentos até que o caso seja esclarecido. E se ficar provado que foi por efeito da vacina, o projeto simplesmente será cancelado para desespero do presidente que ficará com ainda menos opções.

O que parece claro é que ao ler o noticiário pela manhã que deu destaque para a aquisição de 46 milhões de vacinas da farmacêutica chinesa Sinovac pelo Ministério as Saúde, Jair Bolsonaro sentiu-se traído pelo ministro Pazzuello ao fechar um acordo com o seu possível adversário nas eleições de 2020.

Na sua avaliação. o governador de São Paulo venceu o embate político pela vacina e decidiu reagir já na internet pela manhã onde um admirador identificado como Álvaro Fernando, questionou a decisão de Pazuello afirmando:

"Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor. Eu só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem interferência da ditadura chinesa". Ficou claro que o presidente apenas usou a mensagem para avisar a equipe que não aceitava o acordo.

O mais grave é que quando diz no comunicado que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém" e que "não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem” o presidente ataca a China. 

Com a frase está agredindo seu principal parceiro comercial o que não deve ter agradado em nada os chineses que, ainda nesta terça-feira, defenderam o Governo brasileiro e a corrente de comercio do Brasil com a China no embate com os Estados Unidos na questão do 5G.

Além disso, o governo federal assinou, em agosto, MP (Medida Provisória) que libera R$ 1,9 bilhão para produção, compra e distribuição de 100 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca que estão na mesma fase da AstraZeneca.

No Brasil, a pesquisa sobre esse imunizante é liderada pela Fiocruz o que enfraquece o discurso de que não vai botar dinheiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem.

O presidente passou dia dizendo que não vai comprar a vacina depois de Pazzuello ter comemorado o fato de que até ontem o Brasil "Temos 140 milhões de doses da AstraZeneca que chegam a partir de janeiro, mas pode ser fevereiro. Se o Butantã fornecesse 46 milhões de doses iniciais, a gente já consegue iniciar a vacinação”.

O presidente continua tumultuando, mas ele tem razão quando diz que toda e qualquer vacina está descartada. Tem que ter uma validade da Saúde e uma certificação por parte da Anvisa. Isso é obvio. Porque, de fato, nenhuma dose vai ser aplicada em definitivo antes da aprovação.

No fundo ele criou um factoide para se posicionar. Até porque hoje não poderia comprar nenhuma vacina pelo fato de não existir. E no fundo se daqui a alguns semanas o mundo tiver uma vacina ele vai comprar dizendo que agora está comprando porque a Anvisa aprovou.

O presidente não está a fim de explicar. Como dizia o velho guerreiro Chacrinha. Ele veio para confundir.

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