Por Leonardo Spinelli, para a coluna JC Negócios
Pernambuco é um Estado racista, é preciso reconhecer para enfrentar o problema que a cada ano se repete. Os indicadores sociais mostram que a situação não muda, em qualquer recorte social. Emprego, saúde, violência... A população negra sairá em desvantagem em relação aos brancos, mas vamos focar apenas na educação.
É mais difícil para uma pessoa negra ter mais tempo de estudo e, para muitos deles, o analfabetismo ainda é uma realidade. Inclusive entre as novas gerações: 8,9% das pessoas pretas ou pardas com 15 anos ou mais são analfabetas. Entre os brancos, o índice cai pela metade.
Os números são todos de Pernambuco e constam na Síntese de Indicadores Sociais de 2019 divulgados no dia 12 de novembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mesmo aquelas pessoas que conseguem seguir nos estudos, o caminho dos livros ainda é menor para os pretos, que estudam, em média, 8,5 anos, contra 10 anos dos brancos. Esse menor tempo de estudo, claro, repercute no nível de instrução. Só 10% dos pretos com mais de 25 anos têm nível superior completo. Entre os brancos a taxa mais que dobra, 22%. Na realidade, metade dos negros acima dessa faixa etária chegam até o fundamental... incompleto.
Entre os mais destacados, a diferença de raças também se impõe. Apenas 2,7% dos negros pernambucanos chegam a um mestrado ou doutorado, contra 7,1% dos brancos.
O acesso à educação e os anos de estudo são importantes para vencer a barreira do racismo e conhecer com destaque a história dos negros e indígenas no Brasil também é fundamental para muda uma sociedade que privilegia uns em detrimento dos outros apenas pela cor da pele. Os negros precisando trabalhar mais cedo para sobreviver e repetem as mesmas ocupações de pouca qualificação e trabalhos informais ao longo dos anos. Em Pernambuco, na média, os negros ganham 50% a menos e, no Recife, a disparidade aumenta, com os brancos tendo uma renda 70% superior.
O ganho para sociedade, como um todo, pode ser percebido com pequenos exemplos também tirados dos dados sociais. No recém-divulgado Ranking de Competitividade dos Municípios, do Centro de Liderança Pública (CLP), Gove e o Sebrae, alguns municípios do interior do Ceará se destacam, estão entre os cinco do Brasil com o melhor desempenho no acesso à educação, como Quixeramobim e Iguatu. O Ceará é um estado que se tornou referência em políticas educacionais. Ainda tem Sobral, que fica no top 5 em relação à qualidade do ensino.
O resultado disso, é que essas cidades dispõem de uma melhor inserção econômica, tornando-se competitivas na atração de capital privado. Quixadá, no Ceará, está entre os cinco municípios do País com a melhor qualidade de capital humano, aponta a compilação do CLP. Apesar de todas as dificuldades da Região, Sobral é o terceiro município mais competitivo do Nordeste, fica atrás de João Pessoa e Recife, duas capitais, e na frente de Fortaleza.
Um vídeo da repórter Sônia Bridi viralizou recentemente. Nele a jornalista usa as escadas de uma estação de metrô para dar uma abordagem crítica à meritocracia no Brasil. Enquanto algumas pessoas sobem de escada rolante, mostra ela, outras vão pela escadaria. Outros seriam obrigados a subir pela escada rolante que desce, o que torna o objetivo de chegar ao topo praticamente impossível. O racismo, no caso de Pernambuco, e claro, do Brasil, pode ser representado por essa escada rolante que empurra pra baixo quem tenta progredir. Enquanto o acesso e a qualidade da educação para população negra não melhorar, a maior parte dos negros estará condenada a subir pela contramão.
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