Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios
Diferentemente de Geraldo Julio, há oito anos, e Paulo Câmara (no caso do Governo do Estado), há seis, o deputado João Campos assume a prefeitura da cidade do Recife numa condição econômica bem melhor que seus correligionários que, antes de pensar em gastar, tiveram que reorganizar as finanças das administrações deixadas em condições caóticas ou vítima de uma crise econômica que a campanha escondeu.
É importante deixar claro que João Campos assume uma prefeitura com dinheiro, capacidade de contratação de empréstimos e uma equipe de gestão financeira que poucos prefeitos no Nordeste terão. Isso não quer dizer que assuma com uma botija que Geraldo Julio encontrou e vai deixá-la para ele, mas João Campos não vai ter problemas para fechar as contas no final do primeiro mês.
Calma. Também não quer dizer vai poder sair gastando num pacote de obras. Mas é bom lembrar que durante a pandemia, Geraldo Julio conseguiu contratar empréstimos de R$ 200 milhões na Caixa Econômica Federal, numa modalidade que pode ir sacando as parcelas de R$ 50 milhões na medida em que vai apresentando as faturas e que Geraldo Julio só sacou a primeira de quatro.
Também poderá contar com linha do Banco do Brasil para projetos mais ousados como a que, por exemplo, permitiu a Geraldo construir o Hospital da Pessoa Idosa a despeito dele não ter dito a população onde foi buscar o dinheiro para entregar o segundo equipamento de porte (o primeiro foi o Hospital da mulher).
Além disso, João Campos assume com o Recife com um orçamento de recursos próprios que outras capitais não tem, especialmente, no IPTU e no ISS. É importante reconhecer. Geraldo Julio soube, lá trás, azeitar a máquina na secretaria de Finanças onde Roberto Pandolfi (com a motivação da equipe interna), alavancou a arrecadação que em dois anos por no caixa de Geraldo Julio, R$ 120 milhões, de modo a formar um colchão de dinheiro que o ajudou fazer muita coisa.
Da mesma forma que Ricardo Dantas na administração da secretaria de Finanças, conseguiu elevar a arrecadação dois tributos municipais (IPTU e ISS) para R$ 1 bilhão, cada, fazendo do Recife uma das capitais do Nordeste que arrecada mais que recebe de FPM e FPE.
O cidadão, eleitor, contribuinte pode fazer a pergunta: Com tanto dinheiro, como é que Geraldo Julio tem a pior avaliação entre os prefeitos do Nordeste.
Talvez uma boa resposta seja o fato de elogiar muito a receita sem mostrar o que faz como despesa. E de não ter um conjunto melhor de obras de impacto. A mesma prefeitura de jacta-se de arrecadar 81% do IPTU cobrado no exercício, nunca deixou claro que isso aconteceu porque, lá trás, contratou a atualização da Planta Geral de Valor que, naturalmente, faz a atualização das áreas construídas e eleva o imposto.
Da mesma forma que não devolveu em obras básicas como como cuidado de praças, iluminação publica e limpeza urbana um serviço que a presença na prefeitura tornasse visível.
Isso não quer dizer não tenha feito, mas que a população não percebeu. Talvez porque a PCR nunca tenha feito uma campanha de serviços públicos destacando a necessidade não se jogar lixo na rua.
É impressionante como o Recife não estimula o cidadão a não sujar sua cidade a ponto de no centro serem necessário seis varrições diárias porque a população joga lixo no chão. Geraldo Julio simplesmente não cuidou da educação ambiental. Gastou o dinheiro da publicidade dizendo que o Recife era a capital do Nordeste quando não mostrava como mantê-la limpa.
Outra coisa de pode ajudar a João é não se encantar pelo discurso de fazer obra nova sem cuidar de manter o que já existe. Quando a prefeitura faz uma Upinha esquece o posto de saúde do bairro. Esse é uma reclamação recorrente. A Upinha tem serviço de qualidade e o posto não tem medicação básica nem médico que atue em conjunto com as equipe de saúde básica.
Uma dificuldade que ficou patente no Recife é a questão do trânsito. A prefeitura simplesmente não conseguiu mostrar ao cidadão que só existe multa se o motorista comete infração.
Sem campanhas de educação de trânsito que mostrasse com o motorista do Recife dirige de forma errada e tem uma absurda tendência de cometer infração, o que sobrou para a comunidade foi a ideia de que existe uma indústria de multa quando na verdade existe uma avalanche de infrações sendo praticadas.
Sem educação no trânsito, como ações que levem o cidadão a travessar na faixa, o que sobrou foi o guarda de talão na mão. Isso sem falar na absurda lei aprovada que permite o motorista a avançar sinal vermelho depois das 10h.
João Campos tem a vantagem de assumir sem ter que fazer o que Paulo Câmara fez há seis anos após a crise econômica perpetrada por Dilma Rousseff. A crise o obrigou ter que refazer o orçamento deixado por Eduardo Campos para sobreviver. E ele paga por isso até hoje.
E deve rezar para não ter a mesma falta de sorte do governador que, este ano, se preparava para voltar a ter capacidade de tomar dinheiro emprestado e terminar sua administração quando a veio a covid-19 e fez a suas contas explodirem anulando o esforço que vinha fazendo junto a secretaria do Tesouro Nacional. Mas deve cuidar desde já da questão dos servidores que está inviabilizando a gestão de Paulo Câmara.
Geraldo Julio teve uma enorme dificuldade de mostrar alguma eficiência da sua gestão na ponta. Nunca conseguiu mostrar serviços que fizesse a comunidade sentir que o prefeito cuidava do detalhe, embora, ele estivesse de alguma forma fazendo isso. Sua comunicação simplesmente falou de um conjunto de obras que o cidadão não consegui perceber.
Isso talvez sirva de alerta a João Campos que precisou mostrar obras de Geraldo na sua campanha eleitoral. E enfrentar a questão das palafitas, certamente, um marco negativo na atual gestão.
Então, talvez a grande missão de João Campos seja mostrar obras que a população torne visível a ação da prefeitura e que se sinta atendida. Vai levar muita pancada e será cobrado 24 horas, por dia sete, dias por semana durante os próximos quatro anos e precisara vencer o preconceito de que ganhou um brinquedo chamado Prefeitura da Cidade do Recife.
Mas e daí? Não queria ser prefeito?
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