CORRELAÇÃO DE FORÇAS

Com vitória de João Campos no Recife, PSB ganha fôlego na busca pela manutenção da hegemonia em 2022

Segundo analistas políticos, a vitória socialista na capital, porém, não é suficiente para alçar o partido à condição de franco favorito na disputa pelo Governo de Pernambuco

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 29/11/2020 às 21:49 | Atualizado em 30/12/2020 às 15:50
Brenda Alcântara/ JC IMAGEM
João Campos conquistou 56,27% dos votos válidos no segundo turno das eleições 2020 - FOTO: Brenda Alcântara/ JC IMAGEM

Principal aposta do PSB para as eleições deste ano, o deputado federal João Campos saiu das urnas vitorioso com 56,27% dos votos válidos — depois de uma disputa de quase 60 dias, se somados o primeiro e o segundo turno. Em meio ao acirramento da disputa na reta final, João subiu o tom contra sua adversária, a também deputada Marília Arraes — que obteve 43,73% dos votos — e liquidou a fatura. A vitória do socialista, além de cacifá-lo dentro do próprio partido, turbina o projeto político do PSB para o governo em 2022, quando cogita-se que o atual prefeito da capital, Geraldo Julio (PSB), se lance na disputa pelo Governo de Pernambuco. Eleger Campos era prioridade da legenda, por isso ele foi um dos candidatos que mais recebeu recursos do fundo partidário em todo o País.

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Na avaliação do cientista político e professor da Faculdade Damas Elton Gomes, a vitória de João Campos representa a manutenção daquilo que o especialista chama de “subsistema de poder regional” do PSB. “Muito embora desgastado pela fadiga do material político, o PSB ganha fôlego com essa vitória eleitoral do jovem deputado herdeiro de um clã política forte”, afirma Gomes.

Na mesma linha, a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho) Priscila Lapa diz que a vitória dos socialistas na capital assegura o significativo capital político do PSB e também garante visibilidade para as lideranças da legenda. “A vitória de João representa uma sobrevida para o projeto do PSB no que se refere às eleições 2022 em Pernambuco”, pontua ela.

Avaliação parecida faz o cientista político Isaac Luna. Para ele, a vitória de João Campos mantém os socialistas fortalecidos para a disputa pelo governo do Estado. “A vitória de João prolonga a sobrevivência do PSB no poder central do Estado e mantém o partido como competitivo na disputa de 2022, principalmente pela possibilidade de manter os espaços de acomodação política propiciados pela máquina da prefeitura recifense.”

Apesar disso, é consenso entre analistas políticos ouvidos pelo JC que a eleição de João Campos não significa que o PSB chega como franco favorito nas eleições para o Governo de Pernambuco daqui a dois anos. Isso porque, o principal nome do partido para a disputa é o prefeito Geraldo Julio, que deixa a administração da capital com 62% de reprovação pela população, segundo a pesquisa Ibope/JC/Rede Globo. “Isso não é empecilho, mas certamente será usado pelos adversários contra o socialista”, diz o analista político e professor da Unicap José Alexandre.

De acordo com o especialista, esse fator já fez acender o alerta nas hostes socialistas. “Diante desses números ruins para Geraldo, que deve ser o nome do partido daqui a dois anos, o PSB, certamente, já está revendo algumas práticas dentro do partido.”

Além de isso, a vitória de João Campos impôs ao socialista um papel essencial nos próximos dois anos: ele precisa imprimir sua marca na gestão e resgatar bons índices de popularidade para o partido na capital para fortalecer o PSB na disputa pelo governo do Estado. “João vai tentar imprimir a sua identidade a esse governo, mas acho que ainda é muito difícil porque a experiência dele ainda é muito incipiente na política. Sem contar que ele será comparado com o pai e precisará de muita desenvoltura para apresentar resultados que revertam a crescente reprovação ao PSB”, diz Vanuccio Pimentel.

FRAGMENTAÇÃO DAS BASES

Se não fizer isso, diz o cientista político Alex Ribeiro, os socialistas correm sério risco de ver o arco de alianças diminuir para as eleições ao governo estadual. Isso porque, para fortalecer o palanque que garantiu a vitória de Campos no Recife, o PSB precisou abrir mão de importantes prefeituras no interior do Estado para permitir que aliados ganhassem mais espaço. “Como a legenda comanda o Estado, o partido ainda será o protagonista nos diálogos com outras siglas. No entanto, as negociações internas e novas alianças serão refeitas até 2022, principalmente porque eles perderam cidades chaves no Estado”, pontua Ribeiro.

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“O PSB não vislumbra a saída de nenhum aliado da base, nem mesmo do PT. E, se depender de nós (do partido) e do governador Paulo Câmara, a Frente Popular vai chegar forte e unida em 2022”, afirma o deputado estadual Isaltino Nascimento (PSB), líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Ele, porém, faz uma ressalva: “Tudo depende de como estará a legislação daqui para lá. Por isso, devemos falar das alianças para 2022 apenas em 2022.”

Embora os aliados neguem a dispersão na Frente Popular, as eleições deste ano já apontam para rompimento por parte algumas legendas. Segundo o cientista político e professor da UFPE Ernani Carvalho, um dos partidos que hoje integram o governo Paulo Câmara e que devem deixar a base socialista nos próximos dias é o PT. “PSB e PT já vinham tendo uma relação de altos e baixos desde 2014, mas hoje, após uma campanha muito focada no antipetismo e acusada pelos petistas de ser baseada em fake news, é muito difícil pensar que não haverá uma ruptura entre essas legendas”, argumenta Carvalho.

MARÍLIA, UMA NOVA LIDERANÇA

Carvalho, ressalta, porém, que a depender do cenário em 2022, as legendas podem voltar a se encontrar e superar a fratura aberta neste pleito. No entanto, para isso, ambas as legendas precisarão vencer alguns empecilhos e o maior deles tem nome e sobrenome: Marília Arraes. Segundo a cientista política Priscila Lapa, a petista se consolidou como uma importante liderança política no Estado após o fechamento das urnas nesse segundo turno e será uma peça chave para redefinir a correlação de forças em Pernambuco. “As eleições mostraram que Marília é um novo e competitivo quadro, que teve fortalecida suas bases eleitorais e que deixa a disputa pela prefeitura, apesar de ter perdido, como uma liderança capaz de dar dor de cabeça ao PSB”, argumenta Lapa. “Marilia sai da eleição maior do que entrou e se consolida como a nova cara do PT e das esquerdas”, completa.

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A petista pode ser considerada, também, uma pedra no sapato da tradicional oposição à direita em Pernambuco, que teve importantes nomes declarando apoio a Marília, na tentativa de derrotar o PSB no Recife. Para o grupo, a vitória da neta de Arraes era importante, pois “matava dois coelhos com uma cajadada só”: enfraquecia o PSB e tirava Marília da disputa estadual. “É possível que ela chegue em 2022 como um player importante, e aí a gente precisa ver como vai se formar essa conjuntura. Por isso, para a centro-direita era importantíssimo que o PSB perdesse esse espaço, o que não aconteceu”, afirma o cientista político Vanuccio Pimentel, explicando que com a visibilidade da disputa na capital, Marília tem chances de ter seu nome na disputa pela sucessão de Paulo Câmara.

BRENDA ALCÂNATARA/JC IMAGEM
João Campos conquistou 56,27% dos votos válidos no segundo turno das eleições 2020 - FOTO:BRENDA ALCÂNATARA/JC IMAGEM

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