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Mesmo sem Trump, Bolsonaro seguirá governo de "lacração" internacional

Bolsonaro acredita que poderá chegar suficientemente forte para disputar o segundo turno em 2022

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Fernando Castilho

Publicado em 11/01/2021 às 6:00 | Atualizado em 11/01/2021 às 7:01
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Por Fernando Castilho da Coluna JC Negócios, do Jornal do Commercio

O presidente Jair Bolsonaro não fará nenhum movimento de aproximação com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Não fará nada além de atos protocolares necessários às ações burocráticas decorrentes das relações entre os dois países, e só.

Esqueça a importância de um estreitamento dessas relações entre a primeira potência econômica, democrática e militar do mundo e um país que está entre as 10 maiores economia do planeta.

Ele não está preocupado com isso. Nunca esteve. Está preocupado em manter sua base de fiéis seguidores de 13,8 milhões no Facebook; 18 milhões no Instagram; 6,6 milhões no Twitter e 3,1 milhões no seu canal no YouTube.

E embora parte desses números sejam sobreposições entre as plataformas, ainda assim, são números suficientes grandes para transformá-lo num influenciador digital de primeira linha no Brasil e até fora dele.

A saída de Trump, com o banimento de suas contas em quase todas as plataformas na internet, preocupa muito Bolsonaro. Fora da presidência sem o @realDonaldTrump com seus mais 88 milhões de seguidores, apenas na conta fechada do Twitter, quase o deixa órfão.

Além de Trump estar fora das bases do Facebook, Snapchat, Twitch, entre outros, o aplicativo da rede social Parler, utilizada pelos trumpistas, foi banido das lojas de aplicativos do Google, Apple e até da Amazon, o que cria um problema operacional para o discurso de Bolsonaro.

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Ele terá que criar formas de "lacração" doméstica ainda que use também, de forma indireta, canais alternativos no Brasil e as contas da presidência da República. Trump lhe ajudava como um farol do que pensa ser o pensamento da nova direita. 

Bolsonaro precisa das redes sociais para se manter competitivo em 2022. Se mantiver ativa sua base digital, acredita que poderá chegar suficientemente forte para disputar o segundo turno. É nisso que se concentra.

O presidente sabe que, sem ancoras econômicas - programas com o Auxílio Emergencial - e um acordo no Congresso, poderá ver rapidamente erodida sua base. Inclusive nas Forças Armadas que procura agradar.

Isso o levará a ser mais acessivo digitalmente no Brasil. Nas pautas de costumes, de meio ambiente e segurança.

Ele sabe que ainda que Donald Trump consiga manter alguma plataforma, será um ex-presidente que atacou a instituição mais sólida dos Estados Unidos, o Capitólio. Como se costuma dizer no Brasil: será bananeira que já deu cacho.

Mas é importante não esquecer que para Bolsonaro, Donald Trump é o maior líder politico do mundo. Ele continuará a se inspirar nele.

Isso explica as provocações do presidente e do chanceler Eduardo Araújo para desespero do corpo tradicional do Itamaraty. Araújo continua fortíssimo com o presidente. Bolsonaro enxerga no seu ministro competência para fazer o que ele acha que precisa ser feito para manter o seu discurso.

Bolsonaro não está preocupado com o que pensam sobre ele Biden, Merkel, Macron ou qualquer dirigente internacional. Alguém acha que Bolsonaro está interessado na opinião sobre o seu governo da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen?

Claro que isso nos levará a dois anos de pura "lacração" do presidente. Falará todos os dias e no “cercadinho” do Palácio da Alvorada, olhando para apoiadores e divertindo-se em criticar a Imprensa, que virou seu esporte preferido.

Vai ser ruim para o Brasil? Vai! Afinal, como imaginar a performance de retomada da economia quando o presidente diz que o seu país está quebrado? Como imaginar uma retomada da economia quando ele colocar em dúvida a eficácia das vacinas dizendo que não vai se vacinar? Ou que declara seu desejo de armar a população contra a fragilizada esquerda brasileira?

Isso pode chocar muitos democratas, causar calafrios nos cientistas, frustrar milhares de empresários que, de boa-fé, apostaram num governo que ele prometia liberal. Mas como diz a música sertaneja de Adson e Alana, é “O Que Tem Pra Hoje”.

E sempre é bom lembrar aquela interpretação de alguns analistas de que Jair Messias Bolsonaro não imaginou ser presidente de República e muito menos se preparou para isso.

Seu desejo era encerrar a carreira de sete mandatos com um filho no Senado, outro na Câmara Federal e voltar para sua praia no Condomínio Vivendas da Barra, Rio de Janeiro e, quem sabe, disputar a prefeitura, hoje ocupada por Eduardo Paes.

De sua perspectiva, era o coroamento de um pai que deu futuro a seus filhos na política. Estava de bom tamanho. Mas aí veio a facada, tudo mudou e ele virou presidente. O resto, todo mundo lembra o que aconteceu.

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