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Prefeitos fizeram política com CoronaVac e agora quase 5 milhões não tem segunda dose assegurada

Prefeitos como o de Paulista, Yves Ribeiro, anteciparam o uso das vacinas que deveriam ser guardadas para a segunda dose da CoronaVac

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Fernando Castilho

Publicado em 18/05/2021 às 16:35 | Atualizado em 18/05/2021 às 18:04
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No dia 21 março, Ministério da Saúde orientou que estados e municípios usassem todo o estoque de vacinas contra a Covid-19 para a primeira dose da imunização. Anteriormente, a instrução expressa era de que 50% dos imunizantes fossem mantidos como estoque de segurança para a segunda etapa da vacinação. Foi um das últimas determinações do então ministro Eduardo Pazzuello.

Foi uma festa, com prefeitos vacinando quem aparecesse nos postos de vacinação, apenas para dizer que, nas suas cidades, a imunização estava mais adiantada que noutras.

De acordo com o Ministério, a ação deve ampliar o número de vacinados no Brasil e é válida também para os imunizantes entregues neste final de semana - um total de 5 milhões de doses do Butantan e da AstraZeneca, produzidas pela Fiocruz.

Naquela época, especialistas já divergiram sobre os riscos que a medida para acelerar o ritmo da vacinação contra a covid-19 no País poderia provocar. Mas os prefeitos não ouviram e aceleraram suas campanhas.

Um mês depois, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já admitia que não havia vacina para garantir o reforço da imunização a todos, em razão dos atrasos na importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA).

Queiroga justificou que o problema se deu pela liberação de todas as doses para aplicação e, posteriormente, um atraso da chegada dos insumos da China, inviabilizando a entrega de uma nova remessa capaz de suprir a demanda para aplicação das segundas doses. Mas o estrago já estava feito.

Nesta terça-feira, o presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Glademir Aroldi, afirmou que o principal motivo do alto número de segundas doses em atraso é a falta de imunizantes.

“Em março, veio uma orientação do Ministério da Saúde para que as prefeituras usassem todas as doses enviadas para a aplicação de D1 e não reservassem mais as D2 daqueles que já tinham tomado. Isso prejudicou muito”, diz ele.

De fato, o ministério orientou, na ocasião, os gestores municipais a utilizarem todas as doses disponíveis para acelerar a campanha, sem considerar que o cronograma de entrega da Coronavac poderia sofrer atrasos, impactando a oferta de vacinas para a conclusão do esquema vacinal.

É verdade. Mas o problema é que os prefeitos não respeitaram as advertências dos especialistas e muitos deles só sobream que tinham vacinado a mais agora.

Esse é o caso de Yves Ribeiro, de Paulista, que segundo a secretaria do Estado está devendo 8 mil doses da CoronaVac. Ele vacinou mais 5 mil pessoas de outros municípios, sem exigir nenhum comprovante de residência.

A secretaria do município não fez nenhum controle. Yves mandou vacinar quem aparecesse nos Drive Thru, e agora o governo vai mandar as vacinas.

O Governo de Pernambuco não orientou as prefeituras a fazer a segunda dose. Mas os prefeitos preferiram aplicar as vacinas. Esse é um bom exemplo do que o Brasil está passando.

O Ministério da Saúde não divulgou nenhuma estimativa do que de fato vai faltar. Mas o problema é que mais de 500 mil pessoas já estão há mais de três semanas sem conseguir ter a segunda dose, o que pode simplesmente anular a vacinação dessas pessoas.

Uma pesquisa feita pela confederação com dados de 2.972 municípios e divulgada na última quinta-feira, 13, mostra que ao menos 1.140 cidades relataram ainda sofrer com falta de vacina para a aplicação da segunda dose. A grande maioria (1.140) relata escassez da Coronavac, mas há também 90 prefeituras que responderam estar desabastecidas do imunizante de Oxford/AstraZeneca. No caso da Oxford/AstraZeneca, as entrega que está sendo feita pode resolver a questão.

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