A empresa pernambucana Noronha Pescados anuncia, nesta quinta-feira (20), a implantação de uma nova planta de processamento de pescados e frutos do mar, em São Lourenço da Mata, onde pretende desenvolver uma nova linha de produtos empanados prontos para serem levados a mesa. O investimento é de R$ 35 milhões e deve ficar pronto em 2024.
A Noronha é líder regional do setor de processamento de pescados, salmão fresco do Alaska e de cativeiro no Chile. Ela tem uma linha de mais de 300 itens de frutos do mar, além de parceira de várias indústrias, entre elas a Seara, para quem processa uma linha de frutos do mar.
A nova planta também abrigará uma nova CD da companhia. A nova planta terá incentivos do Prodepe e deve gerar aproximadamente 500 novos empregos. O lançamento foi na manhã desta quinta-feira no gabinete do governador Paulo Câmara.
HOBBY DE IMIGRANTE VIROU COMPANHIA NACIONAL
A história da Noronha está ligada ao imigrante alemão Wilhelm Blanke, que chegou ao Brasil em 1938 e ficou maravilhado com todas as possibilidades de pesca que viu naquela que seria sua nova terra natal. Ele veio para Pernambuco, se tornou um pescador apaixonado e essa paixão contaminou, anos mais tarde, o filho Guilherme que mais depois transformou o hobby do pai em um negócio.
Guilherme Blanke ainda está na empresa até hoje e se anima a falar sempre que a conversa é pescaria. Ele já se envolveu em empreitadas na costa de vários estados do Brasil e na Amazônia, de onde passou a comprar pescados. Depois de 50 anos, o "velho" Blanke se orgulha de ter lançado o anzol em dezenas de áreas pesqueiras e mergulhado em vários pontos da costa brasileira.
Na década de 70, Wilhelm Blanke e seu filho começaram uma empresa cujo nome é uma homenagem ao arquipélago de Fernando de Noronha. Eles chegaram a operar oito barcos de pesca e, por muitos anos, venderam seu pescado para atacadistas locais para processamento.
Mas Pernambuco é um estado cuja costa é frágil na produção de peixe. Foi aí que o filho do imigrante alemão tomou uma medida radical. Vendeu os barcos e foi para Belém. Ele comprou lá mesmo, um caminhão de peixe e veio dirigindo para o Recife. A empresa saiu da pesca para entrar na distribuição.
Somente em 1980 eles começaram a processar seu próprio pescado pensando em ampliar o negócio mirando o abastecendo empresas de serviços alimentícios, hotéis, hospitais e supermercados. E, assim como ele entrou no negócio aos 15 anos com o pai, o neto também Guilherme, entrou no negócio aos 18 anos. Guilherme Blanke Filho virou o CEO da Noronha Pescados.
Esta semana, Guilherme Filho está iniciando a transformação da companhia numa empresa de alimentos apostando no segmento de empanados que se apresenta como uma tendência de enorme potencial. Estamos virando uma empresa de alimentos.
Será um passo importante. A Noronha Pescados tem sede no Recife, emprega cerca de 250 pessoas, vende seus mais de 300 itens para mais de 3.000 varejistas, distribuem seus produtos e tem representantes no Sudeste e no Nordeste nos estados da Bahia, Ceará, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Paraíba.
É a evolução empresarial daquele passo dado em 2008, quando pensando aumentar sua capacidade industrial e atender a uma demanda cada vez maior, eles expandiram e construíram uma nova instalação industrial.
A Noronha Pescados virou indústria de porte depois que Guilherme Filho assumiu a operação da empresa transformando-a na maior processadora de pescados do Nordeste.
Ela também virou a retaguarda de processamento de empresas como a JBS, para quem processa e embala produtos do mar prontos para o consumo como salmão, lula, mexilhão, polvo e camarão.
CAMARÃO, PESCADA AMARELA E SALMÃO DO ALASKA
Depois de 50 anos no mercado, os Blanke dizem que o foco da companhia sempre foi operar com matérias-primas de qualidade. Eles se orgulham de ter trazido ao Brasil, em 2014, o primeiro contêiner de salmão do Alaska, produto que o país passou a consumir regularmente com importações de 1.000 contêineres/ano de vários importadores após a operação pioneira da Noronha Pescados.
Naquele ano, Guilherme Filho participou diretamente de um projeto do Alaska Seafood, que viu o enorme potencial para o salmão fresco no Brasil e competir com o salmão de cativeiro criado no Chile. Hoje, a Noronha processa os dois peixes.
O salmão se tornou uma parte substancial da produção de Noronha Pescados, em média, 10 toneladas por dia. Mas no total eles processam cerca de 30 toneladas por dia de diversas espécies de água salgada, água doce, peixes do rio Amazonas, moluscos e crustáceos.
Em 2019, ainda antes da pandemia, a companhia processou produtos de alto valor, como atum e lagosta, para serem exportados para Europa e Estados Unidos. Mas hoje 100% dos produtos de Noronha Pescados são destinados ao mercado interno brasileiro. Em 2020, a empresa cresceu 30%.
A diversidade de suas espécies permite que a empresa atenda às mais diversas necessidades dos consumidores com a marca Noronha. De restaurantes de frutos do mar a grandes empresas de refeições e indústrias de alimentos em embalagens personalizadas.
“Nossos clientes reconhecem qualidade quando a veem”, afirma o CEO da Noronha Pescados. “Quando compram nossos produtos, eles podem ter certeza de que estão obtendo a mais alta qualidade disponível no mercado. Há uma razão para estarmos no mercado há 50 anos!”
O empresário revela que o fornecimento para diversos fornecedores de alimentos prontos para serem levado a panela e desenvolvimento de receita levou a empresa ao mercado de pratos prontos empanados.
Agora, em parceria com a gigante Seara, a empresa aposta em novas opções de empanados depois que, este ano, fez a marca entrar no mercado de peixes e crustáceos em embalagens porcionadas. As duas empresas vão desenvolver pratos empanados juntas.
NOVA PLANTA PARA FAZER EMPANADOS
A nova planta, em São Lourenço da Mata, terá capacidade para processa 500 toneladas/mês de alimentos, mas só deve ficar pronta em 2024. Isso obrigou a empresa a locar uma instalação provisória para adiantar a produção da nova linha de alimentos empanados. Quando a nova planta ficar pronta, a produção será deslocada para lá.
O projeto inclui ainda uma nova Central de Distribuição que abastecerá o mercado com os produtos da sua marca e de terceiros. A companhia vai manter sua indústria de processamento de pescado na planta no Curado, próxima ao TIP, que hoje processa 30 toneladas/dia de mais uma dezena de peixes, inclusive da Amazônia e, especialmente, camarão que a empresa também lidera no mercado local.
Guilherme Filho revela que, para se manter competitiva, a Noronha teve que investir constantemente em tecnologia. Como muitos processadores na área, a Noronha Pescados tinha uma longa história de processamento manual, mas precisou se automatizar.
Isso porque, na medida que a produção aumentava, ficava mais difícil cortar manualmente porções de peso fixo com precisão e rapidez para atender às demandas do setor de varejo de consumo.
A empresa precisou implantar novas processadoras incluindo um Target Batcher e uma linha de corte, que foi buscar em 2017 Seafood Expo, em Bruxelas. Agora, está trazendo mais equipamentos para o negócio de empanados.
“Eu me acostumei a visitar fábricas na Inglaterra e na Escócia e nos Estados Unidos para ver máquina de perto em fábricas internacionais atrás de equipamentos para ajudar a impulsionar nossas operações no futuro. Hoje, a companhia automatizou os processos de pesagem e corte de porções e atinge porções de peso fixo precisas; um resultado que você simplesmente não pode alcançar com o corte manual”.
Para o empresário, os brasileiros estão optando por comer mais peixe como uma alternativa mais saudável. Mas não querem comprar um peixe inteiro e ter que processá-lo.
“Com o enclausuramento da pandemia do coronavírus eles foram para a cozinha. Mas querem a conveniência de porções prontas para cozinhar e não querem desperdiçar as partes do peixe. O porcionamento congelado é uma tendência que veio para ficar. Os novos 'chefs' não querem perder tempo.”
PIONEIRA NA IMPORTANDO O SALMÃO DO ALASKA
Em 2014, depois de um trabalho de dois anos para vencer a burocracia do governo brasileiro, a Noronha Pescados Ltda., em associação com agência de promoção Alaska Seafood, iniciou as importações de salmão selvagem, capturados nos mares daquela região visando oferecer no Brasil um tipo de pescado que o consumidor só conhecia fora do País.
O salmão selvagem capturado no Alaska, no hemisfério Norte, é reconhecido como o peixe mais nobre dos mares pelo mercado internacional. A proposta da Noronha foi oferecer o salmão do Alaska sob a forma de filet e postas, embalados a vácuo e prontos para o preparo de forma que a dona de casa possa trabalhar após o descongelamento. Mirou o mercado Premium destacando a diferença entre o salmão de cativeiro e o selvagem.
O Alaska Seafood ajudou e aplicou US$ 1 milhão numa campanha de promoção do pescado nas regiões onde o produto processado pela Noronha estiver, sob a forma de degustação, informação nutricional e distribuição de livros de receitas para quem adquirir quantidades mínimas dos produtos.
Segundo Guilherme Filho, a estratégia foi um marco, num momento que o consumidor do pescado no Brasil estava procurando produtos mais qualificados e de maior valor agregado.
Nos últimos cinco anos, o brasileiro saiu de 6,5 quilos/ano per capita de peixe consumido para 10,5 quilos/ano no ano passado, estimulados, especialmente, para oferta de filets importados da China, especialmente com peixes mais populares congelados.
O Brasil, segundo Blanke, virou um grande importador de pescados de vários países embora sua indústria esteja passando por sérios problemas pela falta de competitividade internacional.
"O que nós fizemos foi aproveitar a janela de oportunidade com o produto do Alaska porque o consumidor brasileiro é receptivo a um pescado mais sobre nutricionalmente e está disposto a pagar mais, se ele estiver ofertado em embalagens que facilite o preparo", lembra o empresário.
O desafio foi organizar a importação. Segundo o empresário, foi necessário, após toda a negociação com o Alaska Seafood, esperar que no Brasil lhe concedesse o “Selo Dipoa” mesmo que a Noronha Pescados fosse a responsável pelo processamento do peixe na sua fábrica no Curado, no Recife.
A proposta da Noronha é ter o produto (no caso do salmão e do bacalhau) em lojas de maior poder aquisitivo das redes, lojas gourmet, além de vendê-lo a restaurantes que já fazem parte da grande gama de clientes da companhia.
A empresa atua em nível nacional na venda de produtos prontos para o preparo em linhas que vão dos tradicionais (Atum, Meka, Dourado, Cavala e Bejupirá) filetados a produtos importados, como sardinha, galo, cavalinha, castanha, merluza, cação e rosado.
Também processa vários de tipos de crustáceos e moluscos além de ter uma série especial com peixes do Amazonas como pirarucu, pescada amarela, surubim, tucunaré aruanã e piramutaba sempre oferecido em porções prontas para o preparo.
Ela também entrou no mercado de camarão com uma nova linha de embalagens de 400 gramas inteiro, sem cabeça e descascado, ocupando o espaço de empresas regionais que se retiraram devido a problemas operacionais.
A proposta no Salmão, como âncora dessa estratégia da Noronha Pescados, se deve ao fato do apelo dele seja para pratos light no cardápio de restaurantes, comida japonesa e lojas gourmet, além da facilidade que o peixe pode ser trabalhado pela dona de casa por vir limpo e tratado.
Segundo o empresário, o salmão do Chile abriu um grande mercado no Brasil, mas há uma grande vantagem em termos de sabor entre ele o do Alaska por ser um produto selvagem, capturado em área delimitado e controlada pelo governo da província do Alaska, que não programa inundar o mercado.
Mesmo sendo um produto Premium, Guilherme Blanke diz que, na gondola das lojas, ele chega a preço iguais ao do Chile, especialmente, porque a indústria vem reduzindo a oferta nível internacional. Além disso a grande vantagem do Salmão fresco é sua quantidade de gordura na carne muito menor que a encontrada no salmão de cativeiro.
CD AMPLIA DISTRIBUIÇÃO PARA TODO O BRASIL
Como mais de 50 anos no mercado, a Noronha Pescados é considerada uma das maiores empresas de processamento de pescados do setor no Brasil, especialmente pela quantidade de itens que manipula e pela atuação no segmento de supermercados, food servisse que abastece restaurantes e refeitórios industriais.
Mas, nos últimos anos, a companhia decidiu apostar da criação de uma linha de produtos prontos para o preparo com sua marca, mirando nichos mais exigentes e interessado sem produtos de maior qualidade mesmo que com preço mais altos.
Surgiu a série Oceano que trabalha espécies de peixes conhecidos nacionalmente pelo consumidor, apresentados em embalagens de 800 gramas sob forma de file, inclusive a tilaria.
A Noronha desenvolveu também uma linha somente com peixes do Amazonas, sempre acondicionadas em embaguem easy-lock de 800 gramas com espécie que forma a Região Norte despertam interesse pelos nomes de peixes de água doce como Tucunaré, Piramutaba e Arunã além do conhecido Surubim e pescada Amarela.
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