Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Fantasma de novo apagão assusta Bolsonaro que teme ser o "FHC do século XXI" com novo racionamento

Presidente do BC, Roberto Campos Neto, diz que crise hídrica pode afetar a política monetária do país pois a questão da energia pressiona a inflação e o preço de alimentos.

Fernando Castilho
Fernando Castilho
Publicado em 02/06/2021 às 17:45
Notícia
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
PELA ÁGUA Do total exportado pelo Nordeste, 40% são das usinas da Chesf, como Sobradinho. Este ano, reservatório chegou a 94% de capacidade - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Foi assim. O ex-deputado, senador e ex-ministro do TCU, José Jorge era ministro de Minas e Energia quando, no começo de maio de 2001, recebeu um relatório sobre a situação dos reservatórios brasileiros. Matemático de formação e com Doutorado, Jorge pegou o documento e foi ao presidente Fernando Henrique Cardoso com um veredicto que se tornaria histórico: Presidente vamos ter um apagão.

O que aconteceu depois ficou na história. No mesmo dia, FHC retirou o ministro Pedro Parente da chefia da Casa Civil e foi coordenar o 'Ministério do Apagão!'.

Parece claro que, ironicamente, e exatamente 20 anos depois do apagão de FHC, o também ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque levou um relatório semelhante ao presidente Jair Bolsonaro.

E a maior prova disso foi que, no dia 10 de maio, numa conversa com apoiadores, o presidente levantou o tema com a frase “Demos mais um azar aí', comentou presidente a apoiadores sobre falta de chuvas no País.

Mesmo numa conversa informal, Bolsonaro resumiu bem a crise: “Estamos vivendo a maior crise hidrológica da história. Eletricidade. Vai ter dor de cabeça. Não chove, né? É a maior crise que se tem notícia.”

O que diferencia a atitude de Bolsonaro de Fernando Henrique e José Jorge de Bento Albuquerque é que, 20 anos depois, o Brasil tem um sistema muito mais robusto que tinham em 2001, a interligação de sistemas permite a transferência inter-regional de grandes blocos de energia e a própria matriz energética teve o acréscimo de novas fontes como eólica e solar.

Também estamos longe da necessidade, ao menos até agora, do externo do racionamento adotado a partir de 1º de julho de 2001 e que durou até fevereiro de 2002, ano em que o “Apagão do Governo FHC” ajudou o então candidato, Luiz Inácio Lula da Silva ganhar a eleição.

Jair Bolsonaro parece está assustado com a possibilidade de precisar gerenciar um racionamento de energia, ironicamente com o mesmo Lula acusando-o de não ter viabilizado os investimentos necessários para evitar uma crise grave de produção de energia.

Tanto que a primeira providência de Bento Albuquerque foi ir a imprensa afirma “categoricamente” que “O Brasil não está à beira de um novo apagão”.

Apagão não, mas a conta de energia já subiu a partir desse mês em R$ 6,24 por cada 100 kWh consumidos. Uma família que use 500kWh vai ter aumento de R$ 31,20 independentemente se a distribuidora fizer o reajuste anual.

Uma loja ou mercadinho que gaste 2.000 kWh por mês, como a maioria usa atualmente, vai ter a partir deste mês terá um acréscimo de R$ 124,80. Não há perspectivas de que até dezembro a bandeira vermelha, a mais alta, seja reduzida.

O problema é que isso é só o começo. Com o nível de reservatórios - a partir deste 1º de junho - já  começou a cobrança da bandeira vermelha. Mas esse parece ser o menor dos problemas. Na verdade, o governo Bolsonaro vai ter que enfrentar além dos problemas com a pandemia do coronavírus, a questão da seca nos reservatórios.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que gerencia o sistema elétrico brasileiro e monitora o quadro de água guardada para gerar energia o quatro é o mais grave em nove décadas. E é grave porque o período de chuvas terminou e o volume de água, que ele chama de energia armazenada é o mais baixo em 20 anos.

Em 1º de junho, por exemplo, o Subsistema Sudeste Centro Oeste estava como 32,03% de Energia Armazenada. Esse sistema é o que abastece a região de maior consumo. O melhor resultado está no subsistema Nordeste que neste 1º de junho tinha 63,21%. Nele, o lago de Sobradinho hoje guarda 96% da água para gerar energia, especialmente pela Chesf. Os sistemas Sul com 57.47% e Norte com 84,44% estão em melhor situação.

A diferença de 2001 para 2021 é que, hoje, a interligação dos sistemas permite o deslocamento de grandes blocos de energia o que Pedro Parente e José Jorge não podiam mover.

Também em relação a carga e geração o Brasil, hoje, já se pode contar com uma contribuição da energia solar e eólica que não existiam há 20 anos. Por exemplo, às 17h dessa quarta-feira (02), o Brasil estava consumindo 11,7% de energia eólica e 1,2% de energia solar.

Pode parecer pouco, mas isso quer dizer 7.194,7MW, o que significa toda a energia consumida pela Região Norte ou pela Região Sul.

O problema que o risco de racionamento agora significa aumento de custo da energia. Na semana passada, a diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou editais de dois leilões para contração, por 15 anos, de energia produzida por usinas termelétricas movidas a gás natural ou carvão mineral. Os dois leilões serão dia 25 de junho.

O que assusta o Governo Bolsonaro é que o armazenamento de água dos reservatórios bem próximo do registrado em 2001, quando o país passou por um racionamento de energia pois o volume de chuva registrado desde outubro é o menor dos últimos 91 anos.

Embora esse assunto não esteja no radar do Governo, oficialmente, o tema já preocupa. Nesta quarta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou que a crise hídrica pode afetar a política monetária do país.

Considerado o integrante da equipe mais bem informado de todo o Governo, Roberto Campos Neto alertou sobre os riscos inerentes à questão da energia e sobre a pressão na inflação e no preço de alimentos.

É uma combinação perfeita. Coronavírus, inflação em alta, 14 milhões de pessoas sem emprego, um racionamento de energia. Era tudo que Bolsonaro não queira.

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