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Subserviência de Paulo Skaf a Arthur Lira constrange empresariado e banqueiros que pedem paz entre os três Poderes

O mais constrangedor é que não foi o Skaf quem informou o adiamento da publicação da Fiesp e varias entidades. Foi Arthur Lira com o seu conhecido autoritarismo verbal

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Fernando Castilho

Publicado em 30/08/2021 às 12:15 | Atualizado em 30/08/2021 às 17:55
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A sabedoria popular ensina que se você não pode com a carga, não pegue na rudia. Por isso pegou mal, esta manhã quando, em Brasília, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que o manifesto que está marcado para ser publicado nesta terça-feira (31) seria adianto.

Como assim? Perguntaram os demais empresários que estão organizando a publicação de um documento. Nele, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) pede pacificação entre os três Poderes, que teve origem na Federação Brasileira de Bancos (Febraban), e já havia reunido mais de 200 assinaturas até esse domingo (29).

Signatários de manifesto empresarial são pegos de surpresa por decisão de Paulo Skaf de adiar o lançamento do documento

O mais constrangedor é que não foi Paulo Skaf quem informou o adiamento. Foi Lira com o seu conhecido autoritarismo verbal:

“Conversei com Skaf neste domingo e, como não tem um prazo para a divulgação do manifesto, ficou combinado que não será nesta semana. Vai aguardar as comemorações do Sete de Setembro.”

A construção verbal mostra a subserviência de Skaf. Ora, se como afirma Lira: “A nota não é da Febraban, é da Fiesp com a participação de mais de 200 entidades do setor produtivo. Virou uma nota da Febraban com reflexos para a Caixa Econômica Federal e para o Banco do Brasil, desproporcional aos seus interesses”, quem deveria informar o adiamento deveria ser o dono na nota.

Mas Skaf até o fechamento dessa matéria não se pronunciou. Pegou mal para ele e muito bem para Lira. Tipo, Lira mandou e Skaf obedeceu.

O problema de Paulo Skaf é que ele não decidiu se é político ou apenas dirigente de entidade.

A presidência da Fiesp projeta qualquer pessoa. Skaf sempre viu nisso uma possibilidade de disputar um cargo. Ele se aproximou de Jair Bolsonaro na ilusão de ser ungido como seu candidato em São Paulo. Bolsonaro escolheu o ministro Tarcísio Freitas e Skaf soube disso pelos jornais.

Desde que Bolsonaro tomou posse, que Paulo Skaf vai, todos os meses, a Brasília ter uma audiência com o presidente. Em vários meses, ele foi o único dirigente importante que foi ter com o presidente.

Mas desde que ele soube que não teria apoio de Bolsonaro, como desejava, que ele se movimenta. Conversou com Gilberto Kassab, tenta outros interlocutores, mas o problema dele é que não assume.

Ele vai deixar de ser presidente da Fiesp em janeiro. Poderia sair em grande estilo defendendo seus associados e ampliando sua presença num campo em que grande parte já desembarcou do governo. 

Mas Skaf não tem essa capacidade. Mesmo as demais federações não topam bancar suas atitudes. A ideia da nota foi engordada pelo time pesado do setor bancário. Skaf poderia ter negociado um adiamento. Já que começou a conversa, deveria terminá-la.

O futuro comandante da Fiesp é o empresário Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar, fundador da Coteminas, e apoia o documento. O alinhamento político entre o presidente da Fiesp e o Palácio do Planalto causou incômodo entre alguns industriais.

Mas a tibieza de Paulo Skaf o impede de ser mais assertivo. Enquanto o movimento o crescia, estava levando uma pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira, e não só aceitou como ainda permitiu que Lira anunciasse a “sua” decisão.

Skaf vai ficar assim. Explicando o que Lira já decidiu. E constrangendo as pessoas a quem procurou para marcar uma posição.

E confirmar a tese de que se podia mesmo com a rudia embora tenha sido o primeiro a pegar nela.

A história não perdoa quem não consegue se posicionar, ainda que não seja vencedor. Aliás, no Brasil, a história em grande parte tem sido contada pelos perdedores. Mas isso não vale para o presidente da Fiesp

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