Queda no PIB Agropecuário revela dificuldades que analistas econômicos não sabiam da existência
Relatório do IBGE afirma que três importantes culturas caíram em percentuais assustadores: o café, -21,0% sobre o ano passado; algodão, -16,7%; e milho, -11,3%.
No texto distribuído na manhã desta quarta-feira (1º), o IBGE - que faz as contas do PIB - informa que o Produto Interno Bruto (PIB) "apresentou estabilidade (-0,1%) no segundo trimestre de 2021 (comparado ao primeiro trimestre de 2021), na série com ajuste sazonal".
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Estabilidade é uma forma educada de dizer que o País parou de crescer e que, comprado ao desastre de 2020 (o segundo trimestre foi o pico da crise do coronavírus), a economia não se recuperou.
O problema é que cair -0,1% põe por terra toda a expectativa de o País se recuperar até o final do ano da queda de -4,1%, e revela que a economia real está cada vez mais difícil de ser percebida e avaliada pelos analistas das consultorias, boa parte influenciados pelos números gerais das comodities.
Desagregada, a queda de -0,1% embute um dado assustador, exatamente do setor que é o xodó dos analistas: o agropecuário, que caiu -2,8%.
"Como assim?", devem estar se perguntando os analistas. Uma queda desse tamanho no agronegócio? Isso mesmo! O relatório mostra que três importantes culturas caíram em percentuais assustadores: o café, -21,0% sobre o ano passado; algodão, -16,7%; e milho, -11,3%.
Os pesquisadores agrícolas ainda vão fazer análises mais consistentes. Certamente já é um efeito da seca, que atingiu principalmente a lavoura de milho no primeiro semestre. Mas os estudos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), analisando o primeiro trimestre de 2021, quando o setor teve alta de 5,35%, já avisavam que as coisas não estão tão exuberantes como os analistas de bancos informam.
O relatório do primeiro trimestre avisou.
Culturas
Para a cultura do café, a queda esperada no faturamento é de 5,74%, devido à menor produção anual esperada (-22,62%), visto os preços reais 21,83% maiores.
Com relação à cultura do algodão, a elevação no faturamento anual esperado (22,98%) é reflexo, exclusivamente, dos maiores preços reais (51,14%) na comparação entre trimestres, visto que se espera importante queda da produção em 2021 (-18,63%).
No caso do milho, o maior faturamento esperado (53,30%) reflete a alta de 47,78% nos preços reais, na comparação entre períodos, e o crescimento de 3,73% esperado para a produção anual.
Ou seja, o crescimento era só de preços. Não era de aumento de produção.
A agropecuária cresceu 1,3% em relação a igual período de 2020. Este resultado pode ser explicado, principalmente, pelo desempenho positivo de alguns produtos da lavoura com safra relevante no segundo trimestre, como a soja (9,8%) e o arroz (4,1%).
Em contrapartida, houve recuos nas estimativas de produção anual das culturas de café (-21,0%), algodão (-16,6%) e milho (-11,3%). As estimativas para Pecuária e Produção Florestal apontaram contribuição positiva para a Agropecuária neste trimestre, informa o IBGE.
Segundo um relatório do site Canal Agro, as cotações do café para 2021 estão oscilando principalmente em consequência de complicações nas plantações brasileiras, e a queda de produção vai gerar um aumento no preço do grão.
A perspectiva apresentada pela Agência Reuters é de que o valor siga subindo até o fim deste ano – arábica, por exemplo, deve terminar o ano 8% mais caro. Em 2021, a produção nacional entra em um ano negativo no ciclo bienal da safra 2021/2022.
No caso do milho, existe uma estimativa divulgada na última semana de maio, pela consultoria Safras & Mercado, mostrando que a produção brasileira de milho 2020/21 deve alcançar 95,2 milhões de toneladas. Mas a projeção é 10,85% menor do que a feita em abril, por conta da estiagem que comprometeu a produção do milho safrinha em maio.
Finalmente, no caso do algodão, as informações dão conta de que os principais motivos que levaram os produtores a reduzir a área cultivada foram a queda brusca na demanda global causada pela pandemia do coronavírus, a oscilação de preços em 2020 e o atraso no plantio da soja no Centro-Oeste brasileiro.
Mas nem só de queda agrícola o PIB estagnou.
Indústria
Entre as atividades industriais, o desempenho foi puxado pelas quedas de 2,2% nas Indústrias de Transformação e de 0,9% na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos. Essas quedas compensaram a alta que houve de 5,3% nas Indústrias Extrativas e 2,7% na Construção.
De qualquer forma segundo o IBGE, o PIB acumulado nos quatro trimestres terminados em junho de 2021 cresceu 1,8% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Esta taxa resultou da alta de 1,6% do Valor Adicionado a preços básicos e de 2,8% nos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios.
O resultado do Valor Adicionado nesta comparação decorreu dos seguintes desempenhos: Agropecuária (2,0%), Indústria (4,7%) e Serviços (0,5%).