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Bolsonaro revela que queda da Bolsa influenciou na nota recuando nos ataques ao STF. Será?

O Brasil vive uma situação tão tensa que qualquer atitude do presidente em menor embate com os demais poderes repercute potencialmente

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Fernando Castilho

Publicado em 10/09/2021 às 13:35 | Atualizado em 10/09/2021 às 14:54
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O presidente Jair Bolsonaro disse, o falar seus apoiadores na tradicional live das quintas-feiras, que um dos motivos que o levaram a mudar de posição foi a forte queda no índice da Bovespa (B3), no dia seguinte aos seus discursos no 7 de setembro.

É uma afirmação surpreendente para um presidente que, ao tomar posse, terceirizou as questões relacionadas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, a quem ele próprio nominou de Posto Ipiranga.

Para quem se acostumou a um Jair Bolsonaro que quase não fala de economia e que, nas vezes que interferiu, ajudou a derrubar cotações na B3, é difícil imaginar o presidente preocupado com o Ibovespa e com as cotações das estatais. Especialmente Petrobras, Eletrobrás e Banco do Brasil. Mais difícil ainda quando, na última quarta-feira, o derretimento dos ativos chegou a R$ 180 bilhões com a desvalorização de quase 4% (3,78%) no pregão.

Pode ser. Mas se for, seria uma notícia surpreendente positiva. A começar pelo fato de que tudo que justificou a queda das cotações está relacionada com o descuidado de seu governo com as contas públicas.

O presidente, de fato, ouve Paulo Guedes. Ele confessa que não entende nada de economia e que o Posto Ipiranga deveria resolver tudo. O problema é que o Posto Ipiranga está muito ruim na gestão das contas públicas.

Depois de dois anos e meio, o mercado já percebeu que Paulo Guedes não tem capacidade de gerenciar a crise econômica de um país como o Brasil. Como dizem, em privado, os analistas do mercado: O Paulo Guedes não tem embasamento teórico e prático para liderar uma economia complexa como a do Brasil. O ministro, como sabemos, se comporta mal, se comunica mal e atua mal politicamente na hora do “vamos ver”.

Mas ele tem a confiança do presidente. E talvez tenham sido as análises de Paulo Guedes sobre a repercussão das suas falas, em Brasília e São Paulo, ainda na quarta-feira, que o tenha levado a pedir ajuda do ex-presidente Michel Temer.

O problema é que Michel Temer também não é bom de economia. E, certamente, não foi pela queda da Bolsa que ele pautou sua atuação no episódio. Cuidou de resolver um problema político do presidente com o STF. Não estava interessado na queda das ações na B3.

O presidente voltou a falar como analista de mercado na sua live dizendo que "o que aconteceu às 3 [horas] da tarde de ontem? A Bolsa foi lá para cima e o dólar caiu. Cada um fala o que quer, mas tem gente que não lê a nota e reclama", afirmou o presidente.

Quem ler esse comentário pode mesmo ter a impressão de que o presidente falou com propriedade, mas de fato não foi em três horas. Foi em apenas 15 minutos que a bolsa subiu 3 mil pontos, reproduzindo um sentimento de todo mundo de ter um Bolsonaro mais moderado.

Na verdade, o Brasil vive uma situação tão tensa que qualquer atitude do presidente moderada no embate com os demais poderes repercute potencialmente alto. Ou seja: o país acredita em qualquer coisa de Bolsonaro afirme sobre governar o país com seriedade.

Talvez por isso o mercado tenha acreditado num Bolsonaro preocupado com as cotações das ações. Num Brasil tão conflagrado politicamente, até mesmo num Bolsonaro falando de cotação de ações passa a ser um fio de esperança.

 

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