Coluna JC Negócios

Governo apresenta crédito popular como ação de apoio aos 1.000 dias Bolsonaro

Os empréstimos terão valores de R$ 300 e R$ 1.000, com taxa de juros de 3,99% ao mês e pagamento em até 24 vezes

Imagem do autor
Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 28/09/2021 às 7:50 | Atualizado em 28/09/2021 às 11:48
Notícia
X

Não é só um programa de microcrédito. É uma das mais altas apostas do presidente da Caixa Econômica, Pedro Guimarães, na aplicação de uma ferramenta de ação política do governo Bolsonaro, para melhorar a performance dos índices de apoio ao presidente. A própria data coincidindo com os 1.000 dias de governo dá uma pista.

Pedro Guimarães é certamente o mais fiel escudeiro do presidente Jair Bolsonaro na área econômica e mesmo em casa ele anunciou, remotamente, o programa, depois que pegou covid-19 nos Estados Unidos. A linha de empréstimos de pequenos valores via Caixa Tem poderá ser contratada por até 100 milhões de pessoas.

Guimarães aposta que essa capilaridade possa passar uma imagem de apoio do governo a quem precisa de crédito. Ele não resolve a vida de ninguém, mas vai ser anunciado como mais uma medida de apoio, já que vem junto com a perspectiva da continuidade do Auxílio Emergencial.

O veículo de acesso é o aplicativo Caixa Tem, criado em 2020 para pagar o auxílio emergencial. Guimarães aposta que os empréstimos, via aplicativo usado para pagamento a quem teve salário reduzido e o abono salarial do PIS Pasep, tem um enorme potencial de captação de apoio.

Na verdade, a Caixa tem hoje um extraordinário banco de dados do app, de 65 milhões de CPFs herdados pela instituição, e poderá ser uma base de apoio se as estratégias do Auxílio Brasil não conseguirem se viabilizar.

E deve coroar uma ação do presidente da Caixa de ter informações sobre um terço da população. Para quem não lembra, Guimarães brigou ferozmente com a Febraban para que a Caixa fosse a única a gerenciar os pagamentos, exatamente pelo acesso de dados que tem hoje.

Quando o programa do Auxílio Emergencial foi lançado, a Febraban queria em nome dos bancos que as instituições (que já pagam os aposentados do INSS) também fizessem os pagamentos. Guimarães convenceu o presidente que apenas a Caixa deveria fazer isso, e ganhou a disputa. E mesmo com a série de problemas para a implantação do cadastro, a Caixa ficou com o domínio do banco de dados.

O programa lançado ontem explica o potencial de informações que o Auxílio Emergencial deixou, podendo ser útil ao governo. Os empréstimos terão valores de R$ 300 e R$ 1.000, com taxa de juros de 3,99% ao mês e pagamento em até 24 vezes.

As ações de Pedro Guimarães em apoio ao presidente ficaram explícitas nas postagens do “Caixa Mais Brasil”. Mas, por recomendação da assessoria jurídica, a Caixa apagou publicações que enalteciam a imagem pessoal do presidente.

Num outro movimento com grande publicidade, Guimarães anunciou a redução de suas taxas de juros do crédito imobiliário, quando os bancos estão aumentando-as, devido à alta da taxa básica de juros, a Selic, elevada pelo Banco Central.

A Caixa oferece quatro modalidades de financiamento habitacional. Algumas delas têm seus juros corrigidos por taxas variáveis, que são influenciadas pela taxa básica de juros, a Selic.

O anúncio de redução dos juros de financiamento da casa própria pela Caixa ocorre em meio à expectativa de aumento da taxa Selic. Atualmente definida em 5,25% ao ano, as projeções do mercado financeiro indicam que ela encerrará o ano de 2021 em 8% ao ano.

A Caixa anunciou que as taxas na modalidade partem agora de 2,95% ao ano, o que representa uma queda de 0,4 ponto percentual. Essa taxa fixa é somada à remuneração da poupança, equivalente a 70% da taxa Selic, em ascensão no País.

Quando o Banco Central aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. A carteira habitacional da Caixa tem R$ 534,6 bilhões, com 5,8 milhões de contratos.

Pedro Guimarães também aproveitou o manifesto “A Praça É dos Três Poderes” para criar um factoide contra a Febraban e, assim, ganhar pontos com o presidente. Ele sempre defendeu que a Caixa deixasse a Febraban depois do embate com os bancos pelo Auxílio Emergencial

Ele acha que, por ter maioria formada por bancos privados, a entidade pouco atende aos interesses da instituição pública. Ao menos era isso que o presidente da Caixa dizia ao Planalto.

O presidente da Caixa viu a oportunidade para carregar ainda o Banco do Brasil em sua ação política contra a Febraban. O presidente do BB, Fausto Ribeiro, não tem força dentro do governo e foi atropelado por Guimarães, mas no final, a Caixa e o BB continuam na entidade.

O incidente rendeu a ele uma investigação da Procuradoria da República no Distrito Federal, que decidiu investigar se o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, cometeu crime na pressão política sobre a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Em outra frente, o procurador Lucas Furtado, do Tribunal de Contas da União (TCU), pediu que a Corte afaste os presidentes da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e do Banco do Brasil, Fausto de Andrade Ribeiro.

Tags

Autor