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Moura faz bateria que usa energia solar durante a noite

Sistema de armazenamento de energia elétrica se propõe a garantir o funcionamento da ETA evitando os problemas que uma simples interrupção provoca no bombeamento de água

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Fernando Castilho

Publicado em 20/10/2021 às 11:01 | Atualizado em 20/10/2021 às 11:50
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Na semana passada, a Compesa iniciou a instalação de um sistema de armazenamento de energia elétrica na Estação de Tratamento de Água Petrópolis, em Caruaru, desenvolvido pela fabricante pernambucana Baterias Moura, que se propõe a garantir o funcionamento da ETA evitando os problemas que uma simples interrupção provoca no bombeamento de água.

O nome do sistema é pomposo: Battery Energy Storage Systems – BESS. Mas, na prática, se resume a um conjunto de baterias especialmente desenvolvidas pelo Grupo Moura, na sua unidade de pesquisa de Belo Jardim, que guarda energia gerada durante o dia, no período em que ela é mais barata e a despacha no horário de pico.

Ele serve ainda como suporte quando a energia da concessionária cai, aumentando a segurança do fornecimento. Mas possibilita ainda economia financeira, uma vez que no horário de pico o preço da energia pode dobrar de preço.

Do ponto de vista do discurso ambiental, a Moura diz que o BESS é uma alternativa sustentável para redução das emissões de gás carbônico (CO2) e demais gases poluentes.

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Battery Energy Storage Systems – BESS permite guarda energia solar gerada durante o dia. - DIVULGAÇÃO

Mas ele tem uma série de possibilidades, inclusive uma fundamental nos sistemas de energia solar fotovoltaica, que é a possibilidade de usar a energia armazenada com a luz do sol durante o dia à noite por um prazo de até oito horas.

A impossibilidade temporal de gerar energia elétrica à noite é um dos grandes argumentos dos produtores de energia térmica contra a energia solar e, de certa forma, o BESS pode eliminar esse discurso.

O sistema desenvolvido para a concessionária de águas e esgotos trabalha com as baterias da rota chumbo-carbono que a Moura domina completamente. Mas a companhia já trabalha na rota lítio que alimenta carros elétricos e outros sistemas.

No caso da Compesa, a Baterias Moura terá até um ano para instalar os equipamentos na unidade. A Moura será remunerada de acordo com a economia gerada.

Mas segundo a presidente da empresa, Manoela Marinho, o projeto piloto, certamente, será replicado em outras unidades da companhia, pois está alinhado às soluções que estão sendo desenvolvidas na perspectiva de reduzirmos custos com energia elétrica nas suas unidades.

Segundo a executiva, somente este ano, a empresa toca um pacote de investimentos de R$ 565 milhões em projetos no setor, somando recursos próprios e da iniciativa privada, a exemplo do projeto de autoprodução de energia, o que demostra o nosso compromisso com a área”.

Para a Baterias Moura, esse é um dos projetos que a companhia aposta alto pelo potencial de negócios que ele representa em termos de acumulação de energia.

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Battery Energy Storage Systems – BESS permite guardar energia solar gerada durante o dia. - DIVULGAÇÃO

O Diretor Geral Comercial Baterias Industriais, RSM e Bess, Luiz Mello, diz que a Moura está pronta para o atendimento das demandas de todos as aplicações, sintonizada no movimento de utilização global de energia limpa, mitigando impactos ao meio ambiente, viabilizando cada vez mais o uso de energias alternativas para não haver sobrecarga no sistema".

No caso ETA, por exemplo, as baterias que compõem o sistema serão carregadas nos horários de tarifas mais baixas e descarregadas nos períodos de pico. Dessa forma, as baterias evitarão o desligamento de equipamentos, diminuindo intercorrências nas operações de abastecimento.

Pouca gente imagina o estrago que um pequeno desligamento seguido de um ligamento provoca num conjunto de tubulações de água.

Quando falta a energia, cai a pressão do transporte da água na tubulação. Quando ele volta, provoca o chamado Golpe de Aríete, que pode estourar os canos e as conexões. O sistema BESS poderá dar a segurança de ter o fornecimento, em linha, sem interrupções.

O sistema desenvolvido pela Moura acondiciona um conjunto de baterias dentro de um contêiner conectado a inversores e demais sistemas de controle digitais e de segurança que entregam ao cliente uma conexão com sua rede elétrica.

Eles têm vida útil de 3.000 despachos, ou seja, podem ser usados por 10 anos, sendo despachados uma vez por dia, suprindo energia por até três horas. A Moura, porém, já tem tecnologia para sustentar o fornecimento por até 8 horas e isso já anima muita gente a se interessar pelo BESS.

Segundo o gerente de projetos BESS, da Baterias Moura, Adalberto Moreira, a companhia trabalha, sim, com a possibilidade de fornecer sistemas que permitam guardar a energia gerada em centrais fotovoltaicas e despachá-la nos horários de pico.

Esse sistema já existe na própria fábrica da Moura em Belo Jardim, onde parte da energia acumulada pelo BESS vem de energia fotovoltaica.

O Battery Energy Storage Systems, o BESS Moura, é o primeiro sistema desenvolvido e produzido no Brasil, e foi projetado para atender as características do setor elétrico Brasileiro. Seu desenvolvimento é fruto de uma parceria da Moura com o Instituto de Tecnologia Edson Mororó Moura (ITEMM), principal instituto de pesquisa, desenvolvimento e engenharia com foco em baterias e sistemas de armazenamento de energia do país.

Adalberto Moreira revela um dado que pouca gente fora do setor tem conhecimento: O Brasil tem hoje 10 gigawatts de energia produzida por geradores a diesel que são acionado exatamente nos horários de pico pelas empresas para fugir da tarifa de ponta das distribuidoras.

Não existe um conta precisa de quanto isso representa em consumo de óleo diesel, mas o aumento dos preços do combustível em 2021 já começa a preocupar as empresas, pois o custo do diesel pode já ser maior que a energia gerada pela concessionária no horário de pico.

Esse é, portanto, um espetacular mercado para BESS, por exemplo, além da central de armazenamento de unidades geradoras de energia fotovoltaicas, que poderão vender essa energia às distribuidoras com tarifas muito maiores que a que fornece durante o dia.

De qualquer forma, para a Compesa, o que interessa é se livrar dos golpes de aríete em suas ETAs todas as vezes que a Celpe interrompe o fornecimento. Daí porque a presidente da empresa, Manoela Marinho aposta tanto no sistema, inclusive na possiblidade dele vir a ser abastecido, em breve, também por energia solar.

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