No começo de outubro quando explodiu o escândalo da milionária offshore de Paulo Guedes no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas no Caribe o nome do ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, circulou nos corredores do Planalto como um possível nome para uma eventual substituição.
Funcionário de carreira do IPEA, com participação no Ministério da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso ele é ex-secretário do Tesouro no Governo Bolsonaro. Mansueto de Almeida chegou a conversar com alguns deputados do Centrão. Mas avisou que não tinha vocação para ser o Joaquim Levy no Governo Dilma Rousseff e disse que estava muito bem como economista chefe do BTG Pactual.
Tomou o cuidado de avisar imediatamente sobre as conversas ao próprio Paulo Guedes e da movimentação dos deputados no seu bem instalado escritório no número 3.477, na Avenida Brigadeiro Faria Limar em São Paulo.
O tempo passou e, na primeira semana do ano novo, ao fazer uma análise da economia em 2021, numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Almeida surpreendeu o mercado chamando a atenção para alguns números muito bons que o Brasil teve, no ano passado, repassando um kit de informações que a própria equipe de Paulo Guedes não foi capaz de organizar.
Ele disse que o país terminou 2021 com números muito melhores do que os esperados por qualquer economista, inclusive os mais otimistas, não um ano atrás, mas seis meses atrás.
Alertou que o Brasil fechou o ano com um superávit primário entre R$ 20 bilhões e R$ 40 bilhões – o primeiro desde 2013.
Que, em 2021, a arrecadação do Governo Central deve ter ficado maior até do que no período pré-pandemia, perto de 18% do PIB.
E arrematou. “O que aconteceu foi que, em 2021, tivemos uma despesa primária no nível do pré-pandemia, de 19,5% do PIB. Nenhum país do mundo conseguiu isso”.
Calma. Isso não quer dizer que Mansueto de Almeida virou o guru econômico do Centrão que agora comanda a economia e a política do governo Bolsonaro. Ele está muito bem no BTG Pactual.
Mas os 25 deputados que se denominam bolsonaristas raiz entraram êxtase. O pacote de informações positivas de um economista com o histórico de Almeida, que saiu do Governo quando quis e ainda mais ocupando um cargo na Faria Lima era tudo que o presidente precisava para ajustar o discurso da tropa.
Ainda assim não tivemos manifestações nas redes socais bolsonaristas.
Mas não foram apenas os fiéis seguidores de Bolsonaro que leram linha por linha a entrevista de Almeida. Os deputados do Centrão "escanearam" cada informação e o mais importante deles, o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira decidiu verbalizar essa imagem de Brasil melhor escrevendo um artigo no jornal O Globo que enfureceu o comando do PT, mas cumpriu direitinho o objetivo a quem se propôs. Dizer à tropa que “Sim, nós também temos o que dizer sobre o Brasil de Bolsonaro”.
E o que disse Ciro Nogueira que tem a ver com o que disse Mansueto?
Que “não é possível um debate intelectualmente sério sem considerar que o governo Bolsonaro enfrentou a maior pandemia da História da humanidade”.
Que é preciso “comparar o desempenho econômico do Brasil ou de qualquer país do mundo com o próprio Brasil fora dessa circunstância é desonesto”.
E que o Governo “fez o maior programa assistencial da História do país sem aumentar o endividamento” E que diminuiu a taxa de juros e praticou a menor de todos os tempos da História recente do país”.
O discurso é provocativo. Esse é o seu objetivo. Tanto que quando fala da pandemia não escreve uma palavra sobre o desastre da gestão da crise nem das mais de 620 mil mortes, igual número de sequelados e mais de 10% da população contaminada.
Mas fala de temas como endividamento, diminuiu a taxa de juros e programa assistencial que estão presentes na entrevista de Mansueto quando disse que “o Brasil fechou 2021 com uma dívida bruta inferior a 81% do PIB, também muito mais baixa do que se projetava” E aproveitou para lembrar que “em 2013, quando a gente começou a ter uma piora fiscal forte, a dívida líquida era de 30% do PIB.”
Finalmente Mansueto disse que a “Selic terminou 2021 em 9,25% ao ano, mas a taxa média ficou bem abaixo disso. Com a inflação em torno de 10%, a gente ainda fechou o ano com juro negativo, como já havia acontecido em 2020”.
Ja no seu artigo, Ciro Nogueira ainda faz uma outra provocação na área economia capaz de levar o PT à cólera, Lembrou que o partido usa agora “uma “contabilidade criativa” até sobre si mesmo. Quando no poder, Dilma tinha sido a “mãe do PAC”, no Lula 1 e no Lula 2, e presidente no Dilma 1 e no Dilma 2. Ou seja, eram quatro governos Dilma. Agora, Dilma desaparece. Não houve Dilma. O PT é de... Geraldo Alckmin!”
Quem leu a entrevista de Almeida na semana passada pode perceber que, ao mesmo tempo em que relacionou números bons, o economista chefe do BTG Pactual também comparou com o governo Dilma. E o que aconteceu como decorrência dele como em 2015, o déficit primário do setor público ter sido de R$ 111 bilhões, em valores históricos, o equivalente a 1,9% do PIB, e em 2016, de R$ 156 bilhões ou 2,5% do PIB.
Pode ter sido apenas o aproveitamento político (por Ciro Nogueira) da tempestade de informações econômicas que Almeida revelou estando longe do governo e vendo aquilo que Paulo Guedes não vê.
Se o Centrão tinha dificuldades em formular um discurso para conversar com a Avenida Faria Lima, agora tem. Sabendo que os outros números na área de saúde, educação, meio ambiente são um desastre total.
Se o ajuntamento de deputados que tomou conta com governo está disposto a ampliar o que Nogueira pontuou nos seus redutos eleitorais é outra coisa. O tempo e campanha dirão.
Mas uma coisa é visível: O PT tem uma narrativa inclusive econômica. O Centrão (não confundir com Bolsonaro) também tem. O que é muito ruim para a chamada terceira via desmontar não apenas um mas dois discursos falaciosos.
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