Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Guerra da Rússia com a Ucrânia pode explodir preço do barril do petróleo e custar caro para todo o mundo

A visita a Rússia seria o ápice de um circuito ideal para Bolsonaro. O presidente vai ainda a Polônia e a Hungria.

Fernando Castilho
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Publicado em 24/01/2022 às 13:30
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
O presidente Bolsonaro quer visitar a Rússia, em fevereiro, retribuindo a visita de Putin ao Brasil. - FOTO: Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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No dia 1º de dezembro último, o presidente Wladimir Putin convidou o presidente Jair Bolsonaro para uma visita e disse que o Brasil é um dos "mais importantes parceiros estratégicos" da Rússia. Isolado internacionalmente, Bolsonaro que ainda não fez viagens oficiais ao país aceitou de pronto.

Deveria olhar ao redor e perceber que Putin estava numa escalada de conflito com um outro parceiro importante, os Estados Unidos, com quem efetivamente Bolsonaro não se afina especialmente o presidente Joe Biden.

Difícil acreditar que Bolsonaro aceitou para provocar o presidente americano. Na verdade, foi a oportunidade de ele ir visitar dois outros países com quem se afina politicamente. A visita a Rússia seria o ápice de um circuito ideal para Bolsonaro. O presidente vai ainda a Polônia e a Hungria.  

O problema é que enquanto o Itamaraty ajusta a viagem a crise no Leste Europeu cresceu e o Brasil pode, involuntariamente, entrar nessa confusão apenas porque oficialmente decidiu corresponder a um convite de um país amigo e de grande perspectiva comercial e porque o presidente se afina com Putin.

FERTILIZANTES FOSFATADOS

 

Ministério da Agricultura
Russos asseguram fornecimento de fertilizantes - Ministério da Agricultura

De fato. Uma visita à Rússia assegura, de cara, vendas da empresa russa PhosAgro, holding química russa que é produtora de fertilizantes, fosfatos e fosfatos para alimentação animal, sendo um dos principais fabricantes mundiais de fertilizantes fosfatados. Ponto para a ministra Tereza Cristina que garantiu um aumento de ao menos 10% das exportações de fertilizantes para o Brasil.

Ele ainda tem uma conversa para a aquisição dos ativos da Petrobras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-3), em Três Lagoas (MS). Par se ter uma ideia, as importações de produtos e insumos russos totalizaram US$ 5,7 bilhões, dos quais a compra de adubos ou fertilizantes químicos representaram 62% das importações, segundo o Ministério da Economia.

Por outro lado, em 2021, as vendas de produtos brasileiros ao país totalizaram US$ 1,6 bilhão, dos quais a soja brasileira representa 22% do valor exportado.

A comercialização de carnes de aves representou 11% das exportações entre janeiro e dezembro. Os russos jogam pesado e cortaram as importações especialmente de carne de porco. O Brasil, portanto, mira em reduzir esse déficit de US$ 4 bilhões.

O problema da viagem é a data. Em fevereiro, se ela acontecer, é possível que estejamos no auge ou até no início de um confronto armado entre Rússia e Ucrânia onde o Brasil visitando Putin sinalizaria apoio a uma possível invasão ao território da ex-colônia russa.

Se por azar de Bolsonaro, a Rússia invadir a Ucrânia a própria viagem estaria ameaçada e seria um desastre diplomático. Imagina Bolsonaro em Moscou falando bem Putin com a Guerra em movimento?

Tem mais: A questão da dependência do gás russo pela União Europeia. Segundo o analista Thiago de Aragão, da Arko Advice, a dependência que os europeus têm do gás russo é tamanha, que as sanções desenhadas pelo governo americano contra os russos, no caso de uma invasão, não encontram uma aceitação tão fácil dos governos europeus. Os europeus não conseguem ter uma visão única por conta da mencionada dependência do gás e petróleo russo.

E o que isso tem a ver com o Brasil?

Tudo e muito mais. Se a Rússia levar adiante a invasão, de cara, o preço do barril do petróleo vai explodir e chegar a US$ 100. É o pior pesadelo para o mundo pois Putin está usando a ser favor a diplomacia do inverno para deixar a União Europeia sem condições de reagir.

O gás da Rússia sai da estatal russa Gazpron. E lá, deferentemente de Bolsonaro, Putin manda na empresa. E aí a Petrobras que não compra gás russo vai pagar petróleo muito mais caro. Vai bater na bomba de gasolina do posto do Recife, de Petrolina e de todo o Brasil.

E consequentemente inviabilizar aquele discurso fofo do Banco Central e do governo de que a inflação está perdendo força.

Um aumento global do barril do petróleo vai impactar na cotação do dólar e da inflação por aqui. E tudo isso pode acontecer com Jair Bolsonaro em Moscou.

A menos que o inverno na fronteira da Ucrânia esteja tão forte que Putin respeite a história de seu país e não inicie uma guerra com temperaturas abaixo de 50º negativos.

PUTIN SO TEME  GENERAL INVERNO

Divulgação
Guerra na Ucrânia é desafio para vizinha Rússia pelo inverno. - Divulgação

A guerra da Rússia com a Ucrânia seria mesmo o passo mais ousado de Putin na estratégia de ser a segunda nação mais importante do mundo. Inclusive na frente da China.

Todos os diplomatas reconhecem que Wladimir Putin sabe, como ninguém, contra-atacar com armas que não são convencionais: ciberataques, disseminação de fake news, manipulação na Opep, uso de proxies para desestabilizar terceiros etc. Os Estados Unidos sabem disso. E os países da União Europeia mais ainda. O gás da Gazpron é a face visível.

Mas a história ensina muito sobre que é uma guerra no gelo. E de ressentimentos.

Quando em 1941, alemães conquistaram rapidamente inúmeros territórios, passaram pelos chamados países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia). E cruzaram Minsk (Bielorrússia) e Kiev a capital da Ucrânia.

E por onde passavam os alemães deixavam um rastro de morte e destruição. Os ucranianos nunca esqueceram que Stalin nunca recompensou o país por ter feito a resistência no inverno daquele ano decisivo para parar a máquina de guerra de Hitler.

Pouca gente no Ocidente sabe o que depois da Segunda Guerra Mundial, no auge da crise de fome que varreu o país a Ucrânia não foi assistida por Stalin.

Tem mais: Os ucranianos não perdoam mais ainda a atenção de Moscou com a explosão de Chernobyl. A falta de cuidado e ajuda da Rússia e das suas consequências ascendeu o ressentimento contra os russos.

Resumindo. A Ucrânia luta pela sua afirmação como país livre de Putin. A Rússia por mais um território contra a o avanço da influência militar e da União Europeia.

Só que mesmo para a Rússia invadir a Ucrânia não vai ficar barato. Os ucranianos não esquecem 2013, quando um enorme movimento contra o controle político russo começou a direcionar no sentido da União Europeia.

TERCEIRO MELHOR EXERCITO

O exército ucraniano é o terceiro maior exército da Europa, atrás apenas do russo e do francês. Todos os analistas militares advertem que o exército ucraniano hoje é muito mais treinado e armado do que aquele que viu a Crimeia sumir em um piscar de olhos em 2014.

Detalhe: Todo esse treinamento é no inverno e vem desde 1941.
Putin sabe disso. E sabe que a história só se repete como tragédia ou farça. Em 1708, durante a Grande Guerra do Norte entre a Suécia e a Rússia, o exército de Carlos XII enfrentou o inverno na Ucrânia - o mais frio que a Europa havia registrado em 500 anos.

Para os guerreiros escandinavos, o frio intenso não era nenhuma novidade, mas este, definitivamente, não era páreo para os invernos que já haviam enfrentado. Carlos perdeu iniciando uma série de fracasso para quem respeita o clima.

Mas os russos sabem que precisam turbinar o aspecto logístico da operação para a chegada de equipamentos que facilitem o transporte na neve, levando munições e equipamentos, bem como acertar os bancos de sangue. Ironicamente, a questão climática pode vir a ser a mais complexa, pois dependendo do volume de neve, os tanques russos viriam a ter dificuldades na agilidade e na velocidade colocadas.

Claro que se a guerra começar e na medida que os russos fossem ingressando no território ucraniano a Rússia pode ir suprindo, mas os ucranianos estão em casa.

Quando aconteceu o ataque alemão que cercou Leningrado, conquistou Kiev e chegou a poucos quilômetros de Moscou. o ímpeto dos exércitos alemães perdeu força no final de novembro por causa do frio.

Moscou havia sido eficientemente defendida pelo general Gueorgui Zhukov um dos mais brilhantes do exército russo. Mas ele nunca desmereceu a importância do frio que matou milhares de alemães em território da Ucrânia.

Putin conhece a história sabe que se quiser ter sucesso terá que respeitar o tempo e a experiencia da Ucrânia nesse tipo de guerra.

Arquivo Nacional Rússia
O general inverno derrotou o exército alemão. - Arquivo Nacional Rússia

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