Presidente recém-eleito da bancada evangélica na Câmara, o deputado Sóstenes Cavalcante (União-RJ) não gostou de identificar na relação dos 246 votos que aprovaram a regularização dos jogos no Brasil, os nomes de 15 parlamentares da frente que lidera.
A bancada sozinha deu 114 votos contra. Mas entre os que votaram a favor estavam nomes importantes. Especialmente Clarissa Garotinho (PROS-RJ) e Altineu Côrtes (PL-RJ). Na relação também estão outros dois nomes importantes como Joice Hasselmann (União Brasil -SP) e Fausto Pinato (PP-SP).
Entretanto, o deputado também está começando uma conversa com os representantes da CNBB para que, juntos, pressionem os senadores para que o projeto não avance na casa.
Cavalcanti agora está articulando uma reunião dos líderes de igrejas como a Universal do Reino de Deus, da Assembléia de Deus Vitória em Cristo, Internacional da Graça de Deus e da bancada da Bíblia no Congresso com o presidente Jair Bolsonaro para lhe pressionar para que vete integralmente o projeto.
Um fato importante lhe ajuda. Na Região Nordeste apenas quatro deputados evangélicos votaram a favor do projeto relatado por Felipe Carreiras (PSB.PE): Julian Lemos (União Brasil -PB), Laércio Oliveira (PP-SE), Tito (Avante-BA) e, Valdevan Noventa (PL-SE).
Não será a primeira vez que evangélicos e a Igreja católica se juntam contra a tentativa de aprovação da volta dos jogos no Brasil.
Na verdade, nessa questão não é a Igreja Católica que se alinha aos evangélicos, mas o contrário.
Para a CNBB, o voto favorável ao projeto é “um voto de desprezo pela vida, pela família e seus valores fundamentais”. E a entidade decidiu, inclusive, expor cada uma dos deputados mostrando no sue site um link com a relação de quem votou contra.
A CNBB tem um histórico de lutas conta o projeto. Em 2016, por exemplo, ela conseguiu travar a tramitação. E já naquele ano, numa dura nota a entidade disse que “os argumentos de que a legalização do jogo de azar aumentará a arrecadação de impostos, favorecerá a criação de postos de trabalho e contribuirá para tirar o Brasil da atual crise econômica, seguem a nefasta tese de que “os fins justificam os meios”.
Na nota publicada há três dias, os mesmos argumentos publicados em 2016 foram repetidos. O fato novo está na presença mais forte da bancada evangélica.
Em 1991 e 1995, a bancada evangélica era muito menor. E não havia a presença de tantos deputados que se diziam evangélicos. Foi a CNBB quem liderou a pressão contra.
No caso das lideranças evangélicas, o objetivo do deputado que pretende reunir cerca de 100 lideranças evangélicas no Palácio da Alvorada, no próximo dia 8, às 15h é mostrar unidade do eleitorado evangélico em torno do presidente. E pressionar pelo veto.
Na Câmara Federal desde 1991 que projeto de jogos de azar tramita no Congresso. O primeiro texto é do deputado Renato Vianna (MDB-SC). Mas na Câmara dezenas de deputados tentam resolver a questão.
Agora o objetivo do deputado Sóstenes Cavalcante é o Senado. “Vamos focar no Senado, em primeiro lugar no presidente Rodrigo Pacheco (PSD), que é um homem equilibrado. Vamos sentar com ele, acho que ele tem interesse em disputar a reeleição para a presidência do Senado, e vamos usar toda a nossa força para que ele não vote essa matéria”, diz Cavalcante.
Mas além do presidente da Câmara Federal, Arthur Lira e da bancada do Centrão tem gente que defende o projeto. O deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ) foi um dos que votou pela aprovação da lei que legaliza os jogos de azar no Brasil. Ele diz que a briga no ano de 2022 não faz sentido.
“Quando o [presidente Eurico Gaspar] Dutra proibiu o jogo em 1946, ele alegou que seria pela moral e pelos bons costumes. Os cassinos tinham orquestras, as maiores apresentações artísticas, grandes espetáculos e shows, enfim. Tudo isso acabou, menos o jogo. Ele apenas pegou uma ‘imoralidade’ e jogou para a contravenção”, disse Lopes.
Talvez o fato novo seja a reação que começa amanhã quando a CNBB e a bancada evangélicas vão começar uma campanha contra a proposta de forma ainda não cooperativa.
Segundo o líder do Governo, Ricardo Barros que liberou os deputados da bancada para votarem como queriam, já está acertado que o presidente Bolsonaro vai vetar o projeto integralmente.
Mas padres, bispos e pastores querem que ele simplesmente seja rejeitado no Senado.