A neutralidade que o presidente Jair Bolsonaro tanto tem falado nos seus pronunciamentos tem um número: U$ 2,2 bilhões na importação de adubos e fertilizantes da Rússia, que nos vendeu 24% de todas das 41,6 milhões de toneladas internalizadas de janeiro a dezembro do ano passado.
O problema não são os fertilizantes, mas o impacto deles para viabilizar uma safra que, em dezembro, chegou a 284,3 milhões de toneladas de grãos e 580 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.
O que pouca gente na cidade percebe é que a importação de adubos e fertilizantes é determinante no campo nas culturas de milho, soja e cana-de-açúcar, especialmente em potássio, é mais determinante ainda para essa produção. O que explica a posição do Brasil em não confrontar a Rússia diretamente.
O envolvimento do Brasil com a Rússia é que, pelo seu tamanho, não tem onde comparar tanto adubo e fertilizante no mudo. A questão é que nem mesmo a China onde o Brasil também compra fertilizante tem, por exemplo, tanto potássio.
No fundo, o sucesso do agronegócio do Brasil com grãos e açúcar é que ele precisa de pelo menos 40 milhões de toneladas de adubos e fertilizantes por ano e simplesmente não tem onde encontrar. Então, a questão é que o tamanho das necessidades do Brasil como grande produtor de commodities agrícolas no mundo.
A importação de fertilizantes no ano de 2021 foi recorde, atingindo a marca histórica de 41,6 milhões de toneladas. Eles entraram principalmente pelo porto de Paranaguá (10,5 milhões de toneladas) para atender os estados do Paraná, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Pelo Porto de Santos entraram mais 10,1 milhões de toneladas direcionadas ao Mato Grosso e estados do Sudeste e Centro-Oeste.
Eles também se destinaram a uma área que é conhecida como Região do MATOPIBA ( acrônimo formado pelas siglas de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) cujos portos do Arco Norte receberam de 36% das importações de fertilizantes para a Região Norte do país e 64% dos portos localizados no Nordeste, especialmente, para serem usadas nas lavoras de cana-de-açúcar.
Em 2021, o principal estado importador de fertilizantes foi Mato Grosso, principal produtor de grãos do país, importou sozinho 8,0 milhões de toneladas de adubos.
O problema do governo brasileiro em relação aos fertilizantes é que a Rússia se constituiu no maior fornecedor. Depois da Rússia, o segundo fornecedor é o Canadá que vende 16% (US$ 1,16 bilhão) e só depois dele, outros quatro países que nos vendem, em media, 7,7% das nossas necessidades.
São a China, Marrocos, Estados Unidos e a vizinha da Rússia, Belarus que está ampliando muito as vendas para o Brasil. Juntos, ele venderam ano passado US$ 2,64 bilhões em adubos e fertilizantes.
Então, a questão não são os US$ 9,1 bilhões gastos na compra do produto importados de vários países, acréscimo de 6,1% se for comparado ao ano de 2018, mas o que o Brasil com sua tecnologia e sua terra faz com eles.
Segundo estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em 2021, o peso do agronegócio brasileiro pode ter subido de 26,6% em 2020 para 28% ano passado na composição do PIB brasileiro.
Segundo o IPEA, dos R$ 7,45 trilhões, em 2020, e o PIB do Agronegócio chegou a quase R$ 2 trilhões.
Evidentemente que em momentos de custos elevados destes insumos o setor tende a procurar por rotas mais acessíveis e que causem menos impactos no preço final de venda dos fertilizantes aos produtores rurais.
Sazonalmente, as importações de fertilizantes começam a aumentar a partir de abril, ou seja, com a finalização da colheita da soja, bem como acompanhando o ritmo de exportação da oleaginosa, milho e algodão.
Outra coisa interessante é que essa combinação de safras permite aos transportadores da utilização da modalidade de frete de retorno, visando diminuição do custo logístico, isto é, movimenta-se em direção aos portos com os grãos e retorna para as regiões produtoras com os fertilizantes.