Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Informação e análise econômica, negócios e mercados

Coluna JC Negócios

Açúcar e álcool feitos na Zona da Mata de Pernambuco são cotados em dólar e jogam gasolina nas alturas. Alguém entende?

Este ano o Brasil deve produzir 41.2 milhões de toneladas de açúcar e 29.7 bilhões de litros de etanol.

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Publicado em 23/03/2022 às 15:50
ALEXANDRE GODIM /JC IMAGEM
PRODUÇÃO Brasil produz tanto álcool e açúcar que é capaz de suprir a demanda de outros países, quando há problema de safra internacional; o que torna medida difícil de entender - FOTO: ALEXANDRE GODIM /JC IMAGEM
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Para quem está acostumado ir para Porto de Galinhas, Gravatá e João Pessoa passando por dentro de canaviais parece muito estranho que possa, em breve, consumir açúcar feito na Índia e abastecer o tanque com álcool de milho feito nos Estados Unidos.

E é mesmo. Afinal, porque o Brasil, o maior produtor de açúcar e o país do etanol verde do mundo, precisa importar esses dois produtos e ainda com isenção de impostos? Este ano, o Brasil vai produzir 568,4 milhões de toneladas de cana de açúcar.

De fato, não parece razoável que, com números tão grandes (nesses dois produtos feitos aqui tão perto e com destaque na exportação), ainda seja necessário importar.

Para se ter uma ideia este ano o Brasil deve produzir 41,2 milhões de toneladas de açúcar e 29,7 bilhões de litros de etanol. Ano passado 27,2 milhões de toneladas foram enviadas a outros países no período. A receita acumulada do açúcar fechou o ano em US$ 9,18 bilhões.

Não faz sentido mesmo. Mas tudo tem a ver com a crise econômica do Brasil perda de renda inflação combinada com a guerra da Rússia com a Ucrânia.

E embora as pessoas nem sempre acreditem que o açúcar e o álcool feito na Zona da Mata (também no Sudeste e no Centro Oeste) e tão perto da gente tenha relação com Vladimir Putin. Mas o fato é que tem.

Especialmente, o açúcar.

É que o Brasil é um gigante na exportação de açúcar além de um, grande produtor de álcool. Ano passado o pais exportou

Tão grande que quando destina mais cana de açúcar para fazer etanol, por exemplo, isso tem o poder de influenciar o preço no mundo.

Outra coisa é que, quando os seus concorrentes têm problemas de produção, os produtores no Brasil ganham muito porque sozinho o Brasil tem o pode suprir o mercado global e ainda produzir muito álcool.
Isso aconteceu nos últimos anos quando a Índia teve redução de safra. Os preços só não dispararam porque o Brasil direcionou a cana para fazer açúcar.

Mas no caso do etanol, o brasileiro pagou o efeito da guerra e da alta dos preços do petróleo.
Foi assim: Quando, no começo de 2021, o preço do barril do petróleo começou a subir (de US$ 40 para US$ 80 de janeiro em dezembro) o álcool foi junto.

Foto: Elza Fiúza/Arquivo Agência Brasil
Plantações da cana-de-açúcar são usadas para a produção de açúcar e etanol - Foto: Elza Fiúza/Arquivo Agência Brasil

Primeiro, porque como ele está em 25% da gasolina. Assim, o litro do álcool nas usinas que em dezembro de 2020 era de R$ 2,04 chegou a novembro, a R$ 3,72. Ou seja, a gasolina subiu e o etanol foi junto.

O caso do açúcar também é muito interessante.

Até abril de 2021, os preços estavam estáveis próximos R$ 108,34 a tonelada. Em novembro de 2021 ele chegou a R$ 153,67, a tonelada. Foi uma subida tão grande que interferiu nos preços da inflação.

A decisão do Governo em autorizar a importação de açúcar é criticada pois, desde dezembro, o preço está baixando e em março chegou a R$ 136,28%.

No caso do álcool depois de cair para R$ 2,87, o litro em fevereiro ele voltou a subir em março e chegaram R$ 3,12 este mês.

Mas ainda assim, segundo os analistas, isso se dá porque estamos no final da entressafra do centro-sul e do sudeste. A próxima safra começa em maio e, portanto, esse aumento é tradicional nesse mês.

Outra coisa se agente contar só a a produção brasileira de etanol à base de cana-de-açúcar (na safra 2021/22) vamos chegar a 24,8 bilhões de litros. O detalhe é que o Brasil já tem 17 usinas que trabalhavam com o etanol de milho e elas produziram ano passado 3,4 bilhões, incremento de 14,9% em relação 2019/2020.

O etanol é o produto que, de fato, pode ser importado. O problema é que os preços no mercado internacional também estão subindo. Além disso, tomar a decisão de importar agora quer dizer que o etanol vai chegar no Brasil quando a safra de cana-de-açúcar começa a ser colhida e portanto vai ter muito álcool disponível.

No caso do açúcar dificilmente o brasileiro vai consumir açúcar da Índia por exemplo porque mesmo com o aumento e mesmo com a redução das taxas de importação o produto não vai chegar com preços menores.

Então porque o governo anuncia a eliminação dessas taxas?

Divulgação
Ano passado 27,2 milhões de toneladas foram enviadas a outros países. - Divulgação

Podemos dizer que é uma espécie de ameaça. Tipo se você não baixar o preço eu vou facilitar o importação. E muitos setores isso funciona, mas com uma inflação de 10,4% não vai ser o açúcar que vai fazer o índice baixar.

Embora seja muito difícil que alguém abasteça o carro com álcool feito de milho e hidratado ou que faça um doce de banana ou de caju com açúcar vindo da Índia.

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