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Previsão do Banco Central prevê inflação de 7% em 2022, mas tendência dos preços aponta até 10% no ano

Desde janeiro último que o Boletim Focus vem dizendo que, exatamente, porque a inflação ficou acima de 10%, ao ano em 2022 ela não vai baixar muito.

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Fernando Castilho

Publicado em 28/03/2022 às 13:54 | Atualizado em 28/03/2022 às 15:09
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Para quem nunca se interessou por que, toda segunda feira, às 9h, o Banco Central divulga o Boletim Focus, é bom saber que ele é feito por profissionais do Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais, sendo emitido semanalmente através do site oficial do BC.

Na prática, ele resume as estatísticas calculadas considerando as expectativas de mercado financeiro coletadas até a sexta-feira anterior à sua divulgação.

O pessoal do BC pergunta aos analistas de mercado (analistas, economistas e diretores de bancos e corretoras) o que eles acham que vai acontecer.

As projeções são, portanto, do mercado, não do Banco Central. Como sai toda segunda-feira, ele vai sendo ajustado gradativamente.

Se uma pessoa pegar os relatórios emitidos no começo do ano vai ver que, em vários anos, as previsões de janeiro, por exemplo, erram feio quando chega dezembro.

Mas é importante não achar que os economistas têm bola de cristal. Não é isso. O que o Boletim Focus faz é tentar antecipar números. Nem sempre acerta, mas dá uma boa pista.

O problema é que, ano passado, as previsões feitas em 31 de dezembro de 2020 para 2021 foram um desastre. No último Boletim Focus do ano, o pessoal que confirmou a inflação de 4,38% no ano, cravou que em 2021 ela ficaria em 3,32%.

Como se viu, o IPCA ficou em 10,01%. E assim como o próprio Banco Central em relação à Selic, o mercado também passou batido. E mesmo que no último de dezembro do ano passado, o mesmo Boletim Focus tenha cravado os 10,01% para o ano, foi um erro grande.

Virou o ano e o pessoal foi bem mais cauteloso. Desde janeiro último que o Boletim Focus vem dizendo que, exatamente porque a inflação ficou acima de 10%, ao ano, para baixar em 2022 teria que haver movimentos muito fortes.

Isso explica que no dia 31 de dezembro de 2021 o Focus tenha vindo já com uma previsão de 5,03% em 2022.

Mas o fato é que, 11 semanas depois, o mesmo boletim vem subindo um pouquinho. O Boletim que saiu nesta segunda-feira, por exemplo, já fala em 6,86% no final do ano.

É muito alto. Quer dizer que, dificilmente, o Banco Central pode atuar para ajudar a baixar essa taxa, por exemplo, aumentando a taxa de juros, como já aumentou.

Dito de uma forma bem simples: Se no último boletim de março o Focus afirma que espera para dezembro uma taxa de quase 7%, é porque o bicho está pegando.

E o cenário não ajuda muito. Ano de eleição, o Governo Bolsonaro todo dia falando em mais despesas do setor público, falta de atenção com a Lei de Responsabilidade Fiscal e os dirigentes do PT afirmando (em conversas com os economistas) que esse negócio de reduzir despesas da União não vai ser adotado num eventual governo Lula, não tem porque o mercado achar que a inflação vai baixar de abril a dezembro.

Na vida real, isso quer dizer que o Brasil vai enfrentar, pelo segundo ano consecutivo, uma inflação de 10%. Para quem não tem ideia do que é isso, basta dizer que, no geral, é como se você chegasse ao açougue, pagasse um quilo de carne e levasse menos de 800 gramas.

Na mesa nossa de cada dia, isso quer dizer que alguém vai ficar sem um bife ou, se for carne moída, sem uma almôndega.

Se você radicalizar, quer dizer que, no final do ano, você vai pagar cinco pacotes de flocos de milho para cuscuz no mercadinho e levar quatro.

Por isso é que a previsão do Boletim Focus de março assusta. Ele está avisando que vamos ter, de novo, uma inflação de 10%. E isso é assustador.

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