Dois ícones do jornalismo pernambucano ensinavam aos seus alunos que "nenhum currículo muito enfeitado resiste a 15 minutos de investigação séria", dizia Fernando Menezes. E que a pior coisa "na vida de uma pessoa é um porém". O sujeito é um cara brilhante, porém... Lascou, advertia Ronildo Maia Leite.
As lições dos dois mestres formadores de mais de uma centena de profissionais ao longo dos seus 40 anos de trabalho em Pernambuco e vários jornais do Brasil, cada servem como uma luva nas desistências de Adriano Pires para presidir a Petrobras e Rodolfo Landim para a presidência do conselho da estatal.
O representante do governo na empresa estatal, o presidente Jair Bolsonaro, não entendeu que depois do escândalo da Lava Jato - que o ajudou a se eleger pela aversão do eleitor aos processos de corrupção ali constatados - a empresa optou por um caminho que dificilmente terá assento na diretoria alguém que não tinha um mínimo de transparência ao longo de sua vida profissional e que passe nos processos de compliance que a empresa adotou.
E esse evento pode também ser um alerta para os candidatos que acreditam que a companhia não evoluiu e que hoje, apesar de pressões políticas, não implantou processos que são auditados não pelos deputados do Centrão, mas pelos comitês de acionistas minoritários fora do Brasil.
A companhia ainda pode, de fato, virar uma PDVSA, a estatal venezuelana que a foi uma das cinco maiores do mundo, mas que a interferência do governo a deixou numa situação tão grave que sequer pode vender petróleo aos Estados Unidos, já que todas as refinarias estão sucateadas. Mas vai dar trabalho ao governo na vez.
Bolsonaro não entendeu não pode indicar mais quem ele queira se o sujeito não tiver currículo. Foi assim com o incensado Carlos Alberto Decotelli para a Educação. Foi assim com Landim e Pires. E assim será com qualquer outro. Ou como se diz na esquina: porque na estatal agora “tem diretoria”.
Calma. Não se deve pensar que a Petrobras atingiu todos os níveis de governança e virou uma empresa ESG, sigla que vem do inglês Environmental (Ambiental, E), Social (Social, S) e Governance (Governança, G) .
O conceito de ESG está na moda corporativa e quer dizer equilíbrio dos aspectos ambiental, social e de governança na gestão dos negócios. A Petrobras não chegou a esse nível. Mas está trabalhando.
O que poucas pessoas lembram é que quando Michel Temer chamou o ex-ministro do Apagão de FHC, Padro Parente, para implantar a tal política PPI - Preços de Paridade Internacional de preços, uma das mudanças que ele aprovou foi a criação de uma Diretor Executivo de Governança e Conformidade. E foi exatamente ela que tem feito a diferença em momentos como esse.
Pouquíssimas pessoas conhecem Salvador Dahan, o Diretor Executivo de Governança e Conformidade da Petrobras.
Aliás, fora o General Silva e Luna pouca gente conhece os demais diretores da estatal.
Isso não que dizer que acabou o tempo onde deputados como Severino Cavalcanti (PDS –PE) podiam indicar “aquela diretoria que fura poço”. Ou que depois de indicado por um algum figurão do Congresso um gerente, como Pedro Barusco, não tenha capacidade de devolver mais de R$ 180 milhões aos cofres públicos. Mas ficou mais difícil.
Indicar alguém com um currículo como o do general Silva e Luna e o do almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira para presidir o Conselho de Administração foi fácil. Os dois não chegaram ao topo da carreira militar sem um currículo impecável.
Os problemas do presidente começaram quando achou que pode indicar um apoiador bolsonarista e um consultor que lhe vendeu a ideia de um vale-gás eleitoral.
Embora incensado pelas suas habilidades como presidente do Flamengo, todo mundo no mercado sabia (antes de consultar os arquivos digitais) que Rodolfo Landim teria problemas para ser aprovado nessa nova configuração da Petrobras.
E que Adriano Pires, pelos contratos que tem de assessoria através do seu Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), não teria prestado serviços para empresas do setor com ligações com a Petrobras.
A dúvida no mercado era o que viria no resumo interno sobre os dois indicados por Bolsonaro. Ou seja, as conclusões das investigações, conhecidas internamente como BCI "Background Check de Integridade", vinculado a Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras, comandada por Salvador Dahan.
Ele nem precisou mandar os dados. Como medo de “15 minutos de investigação séria” Landim declinou, assim como Adriano Pires fugiu do “porém” que iria agregar no seu currículo.
Foi melhor assim. A torcida do Flamengo vai continuar a ter um presidente em tempo integral. E os jornalistas vão continuar a ter uma boa fonte para tirar dúvidas sobre o mercado de petróleo e gás.
Fica a lição. Para Bolsonaro e para os demais candidatos.
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