Se a Câmara tivesse as regras da Petrobras, Arthur Lira não teria nome aprovado para concorrer à presidência
O mercado se assustou com a perspectiva dos dois mudarem não a Política de Paridade Internacional (PPI), mas de direcionarem as ações da companhia para o setor de gás
O presidente da Câmara, Arthur Lira, reagiu com ironia à desistência dos dois executivos indicados para a presidência (Adriano Pires) e para o Conselho de Administração (Rodolfo Landim) da Petrobras. Ambos, após a divulgação de suas atividades no passado recente, declinaram da oferta.
Disse o presidente da Câmara Federal: “Quer dizer, você tem que pegar um funcionário público para ser diretor da Petrobras? Ou pegar um arcebispo para ser diretor da Petrobras?”
Um arcebispo certamente que não. Até porque, pelas regras de compliance da Igreja Católica, ele estaria proibido. Mas se for um funcionário público, também precisa ter um currículo sem questionamentos.
Esse parece ser o grande problema da Arthur Lira. Ele acredita que pode tudo. De fato, ele pode muito. Mas não entendeu o processo.
Por exemplo, ele tinha absoluta certeza que Pires seria aceito porque era uma indicação do representante do acionista controlador da Petrobras (Jair Bolsonaro). E não percebeu que isso é assim, mas não é assim.
Primeiro, porque se o sujeito colocar o nome "Adriano Pires" no Google, virão 20 milhões de menções. Com um volume tão grande na Internet e alguns programas de refinamento, vai aparecer até a cor da camisa que ele usou quando foi diretor da ANP.
Se colocasse Rodolfo Landim, virão 4,2 milhões de menções. Outra vez: uma busca mais refinada vai mostrar ele conversando com o pessoal do PT ou numa reunião com José Dirceu nos tempos que foi presidente da Gaspetro.
Lira acha que isso não é relevante e que a indicação passaria. "Não passarão", parodiando aqui a célebre frase pronunciada pelo general francês Robert Nivelle na Batalha de Verdun, durante a Primeira Guerra Mundial.
Tem mais: em relação á Petrobras, quando surge um nome na roda, todo o mercado vai procurar e se lembrar de algum encontro ou apresentação que o sujeito tenha feito. Se não foi abonadora, alguém passa para um jornalista ou para o pessoal do GSI do General Heleno.
O problema de Pires e Landim é que os dois são a imagem do lobby do setor de gás. Não é só de Carlos Seabra Suarez, o antigo “O” da OAS, que, na década de 70, se traduzia como “Obrigado Amigo Sogro”, depois que, junto com César Mata Pires, genro de ACM, fundaram a OAS.
O problema é que o mercado se assustou com a perspectiva dos dois mudarem não a Política de Paridade Internacional (PPI) - que assusta Bolsonaro -, mas de direcionarem as ações da companhia para o setor de gás, onde os dois são especialistas.
A sugestão de Adriano Pires em distribuir um vale gás mensal aos beneficiários do Auxílio Brasil, que para Bolsonaro seria uma solução para reduzir sua rejeição no Nordeste, foi lida no mercado como uma indução do mercado de GLP que poderia beneficiar não a Suarez, mas todo o setor gesseiro nacional.
Além disso, a presença de Landim no Conselho abriria uma avenida de oportunidades para o setor que, na Petrobras, não é eixo do negócio.
Importante esse detalhe. Para a Petrobras, gás é subproduto. Vem junto da extração de petróleo. Ou seja, a Petrobras não explora gás, explora petróleo. E isso ali é estratégico.
Então, a reação viria de qualquer forma. O que se soube agora é que Pires e Landim ajudaram na formulação de parte do texto da Lei que aprovou a venda da Eletrobrás.
O que era uma coisa de bastidor virou ação escancarada de Arthur Lira, para quem a presença de Pires a Landim na Petrobras poderia significar a captura da empresa.
Como a governança que a Petrobras tem hoje, é difícil acreditar que eles teriam sucesso. Mas com certeza haveria não conflitos de interesses, mas conflito interno mesmo.