Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Informação e análise econômica, negócios e mercados

Coluna JC Negócios

Ícone do varejo brasileiro, Mesbla volta como loja digital e sem o charme de seus grandes magazines pelo Brasil

Sucesso do varejo pôr mais três décadas, a Mesbla não viu o ano 2.000 e o século XXI. Fechou suas portas em 1999.

Fernando Castilho
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Fernando Castilho
Publicado em 05/05/2022 às 18:11 | Atualizado em 05/05/2022 às 18:38
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Sede da Mesbla no Recife nos anos 80. - FOTO: ARQUIVO JC
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Pouca gente lembra, mas nos anos 70 a Mesbla era uma marca tão forte que inventava as promoções de varejo. Numa delas, o comercial no Cassino Chacrinha, dizia: A Mesbla, blá, blá. Inventa moda, dá, dá. A Mesbla.

Foi para anunciar o seu cartão de crédito, que permitia fazer fiado, nas suas lojas. Isso está na memória do cidadão consumidor de mais de 50 anos que ainda se lembra da força de venda da companhia do senhor Henrique de Botton.

Por isso, quando após 23 anos fora do mercado, a antiga loja de departamento Mesbla voltou às vendas causou uma onda de saudosismo no varejo.

Mas, é importante não ter esperanças de visitar os amplos corredores das lojas da cadeia. Mesbla agora só pela internet.

 

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Publicidade da Mesbla on-line que só vende pela internet. - DIVULGAÇÃO

O site vende produtos eletrônicos, eletrodomésticos, móveis, artigos de casa, decoração e brinquedos estão sendo anunciados desde ontem no site mesbla.com. Para se ter uma ideia de como essa Mesbla é pequena: todo investimento para a retomada dos negócios foi de R$ 500 mil.

A Mesbla foi um caso de sucesso, liderança de mercado, agregação de novas estratégias de vendas, treinamento de pessoal e investimentos pesado em infraestrutura porque uma das marcas ada Mesbla era suas largas escadas rolantes que faziam as donas de casas se sentiram numa passarela. Mas ela não viu o ano 2.000 e o século XXI. Fechou suas portas em 1999.

Mas para quem acha que o nome Mesbla é apenas mais uma marca no segmento de Market Place, é importante conhecer um pouco da história dessa empresa icônica - propriedade de uma família de empresários perdulários que não cuidaram bem da companhia que chegou a ter 180 lojas.

A loja vendia de tudo. Do barco a motor a ventilador. De eletrodomésticos a roupas especialmente produzidas para ela. E de eletroeletrônicos importados ou feitos na incipiente Zona Franca de Manaus a carros

E ela teve uma importante participação no varejo do Recife. O Local onde hoje existem os dois edifícios da Moura Dubeux conhecidos como Torres Gêmeas foi a sede da Mesbla Náutica - a primeira loja do setor no Nordeste e que vendou a maioria dos barcos de sócios do Cabanga Iate Clube e do Iate Clube de Pernambuco - cuja sede é do outro lado da bacia do Pina.

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Sede da Mesbla no Recife da Rua da Palma - ARQUIVO

Mas a sua sede principal foi na Rua da Palma ao lado da antiga Viana Leal até que a família De Buton mandou construir uma novo magazine na Avenida Conde da Boa Vista, onde hoje é a sede da Riachuelo. Ela foi inaugurada em 1980 e foi a referência para muitas empresas pelo conceito que trouxe.

Ela foi dirigida por uma das primeiras executivas do varejo no Brasil. Laura Vieira que comandou a rede até se aposentar. O que hoje é uma loja da rede Riachuelo foi um marco até encerrar suas atividades em 1999.

PAIXÃO DE PERNAMBUCANOS

Esse prédio foi o cenário de uma curiosa disputa entre dois empresários de origem nordestina e com grande presença no varejo de Pernambuco.

Fechada a rede Mesbla, o banco Bradesco decidiu vender o prédio em leilão. O proprietário do Shopping Boa Vista, Celso Muniz, foi ao Rio de Janeiro participar do certame quando encontrou com um concorrente de peso, Nevaldo Rocha, presidente do Grupo Guararapes e da rede Riachuelo.

Amigos de longa data, Muniz disse que queria comprar o prédio para ampliar seu shopping. Rocha disse: amigo compre não. Eu vou comprar esse prédio e ele será a primeira loja do novo padrão Riachuelo. E você vai ganhar a maior âncora que possa imaginar para o seu shopping pois se quiser abro as conexões.

Rocha comprou o prédio, fez a loja e Celso Muniz fez a ampliação do Centro Comercial sem precisar negociar uma nova ancora.
Na saída, Muniz perguntou a Rocha porque queria tanto comprar aquele prédio. O empresário norte-rio-grandense confessou que sempre achou a Riachuelo seria um dia uma Mesbla de roupas, e confecções para camas e mesa. E que por varias vezes visitou dona Laura Vieira para conversar sobre o modelo de negócios da Mesbla.

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Sede da Mesbla no Rio de Janeiro - ARQUIVO

EMPRESA CARIOCA

A história da Mesbla começou na Rua da Assembleia, número 83, no Centro do Rio. No local foi instalada, em 1912, uma filial da firma Mestre & Blatgé, com sede em Paris e especializada no comércio de máquinas e equipamentos.

No entanto, a filial brasileira tinha pouca importância dentro da organização francesa espalhada pelo mundo até que em 1916, sua administração foi entregue ao francês Louis La Saigne, até então subgerente da filial em Buenos Aires.

Já em 1924 La Saigne transformou o estabelecimento carioca em uma firma autônoma, com o nome de Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre et Blatgé, que em 1939 passou a denominar-se Mesbla S.A. segundo o pesquisador Marcelo Costa que estudou a empresa. La Saigne teve quatro filhas, e a mais velha casou-se com Henrique de Botton.

Mas Louis La Saigne morreu em sua residência na noite do dia 18 de janeiro de 1961 no seu belíssimo Solar Real, reputada casa de festas em Santa Teresa.

E com sua morte foram eleitos presidente e vice-presidente dois de seus mais antigos funcionários, respectivamente, Silvano Santos Cardoso e Henrique de Botton que tinha virado também seu genro.

De Buton turbinou a empresa e na década de 1950 a empresa tinha lojas instaladas nas principais capitais do país e em algumas cidades do interior.

Em 1952, que a Mesbla abriu sua primeira loja de departamentos, no prédio da Rua do Passeio, no centro do Rio de Janeiro. A diversificação de atividades nas décadas de 60 e 70 transformou a Mesbla em uma das maiores empresas do país.

Nos anos 1980 a Mesbla tinha 180 pontos de venda e empregava 28 mil pessoas. Suas lojas de grande porte, com áreas raramente inferiores a 3 mil metros quadrados, eram pontos de referência nas cidades onde a Mesbla se fazia presente.

Seu edifício-sede ainda chama atenção, garboso e art déco, na frente do Passeio Público; hoje, é propriedade da São Carlos Empreendimentos, e a imensa loja embaixo dele, com mais de 6.000m2, é uma gigantesca filial das Lojas Americanas.

Os funcionários diziam que a Mesbla só não vendia caixões funerários, que são para os mortos; para os vivos tinham todas as mercadorias, desde botões até automóveis, lanchas e aviões. Difícil esquecer da Mesbla Veículos, concessionária Chevrolet, ou da Icônica Mesbla Náutica, na Barra e em Botafogo.

A Mesbla encerrou suas atividades em 1999, quando decretou falência após uma tentativa do controverso empresário Ricardo Mansur de reviver seus tempos de glória. As memórias pessoais ficam.

Uma curiosidade: o famoso relógio da Mesbla, que até hoje enfeita a Rua do Passeio, no Centro, tem uma réplica em menor escala em Paquetá, de frente para o mar, na antiga sede recreativa da Companhia na ilha. Ali, depois, funcionou o Hotel Farol de Paquetá.

 

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