Mesmo sendo estratégica para Suape, PE-60 é um marco do descaso no setor de estradas em Pernambuco
Na inauguração do Parque de Tancagem de Suape, com o tráfego dos primeiros tanques, a PE-60 rachou no meio. Ela não foi projetada para aguentar cargas de mais de 35 toneladas
O anúncio da restauração da PE-15 depois do estrago que ela se encontra depois das chuvas e por anos de descaso chega atrasado, embora seja uma notícia positiva. Mas assim como a PE-15, na outra ponta, a PE-60 também é um péssimo cartão de visita para quem entra na RMR pelo sentido Sul.
Das estradas estaduais, a PE-60 é a mais importante do ponto de vista econômico. Ela conecta Suape à BR-101, e esta à BR-232. Deveria ser o showroom do Governo de Pernambuco. Mas assim como a PE-15, não é. E isso faz muito tempo.
Aliás, parece ser uma coisa bem PSB. O governador Miguel Arraes precisou ser pressionado para duplicar a rodovia. Mas o serviço nunca foi bem feito e a PE-60 sempre significou descaso.
É importante observar que ela foi feita antes de Suape, em pista única. Ela aguentou bem até o dia em que o então governador Roberto Magalhães transferiu o parque de tancagem da Petrobras no Porto do Recife depois do célebre incêndio do navio petroleiro Jatobá no dia 12 de maio de 1985, quando o governador - que morava no Palácio do Campo das Princesas - foi acordado com a recomendação de deixar o local devido ao risco de explosão.
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No mês seguinte à inauguração dos primeiros tanques, a PE-60 rachou no meio. Ela não foi projetada para aguentar cargas de mais de 35 toneladas. Durante anos ficou o rasgo no meio da rodovia ainda sem ser de mão dupla.
Finalmente, o governo de Pernambuco decidiu duplicá-la. Mas ainda assim sem resolver o problema da faixa simples, que foi recoberta. Ela só é duplicada até a entrada de Suape.
Eduardo Campos sabia disso, mas a rodovia nunca foi uma prioridade. Na verdade, ela deveria ser refeita com piso de concreto reforçado porque o nível de trafego é o maior do Estado.
Mas como mostrou a repórter Roberta Soares no JC desta terça-feira (5), ela é um dos belos exemplos do descaso tanto nos governos de Eduardo Campos como nos de Paulo Câmara.
O grande desafio da PE-60 é que ela tem muito tráfego. E tráfego pesado cortando o Cabo de Santo Agostinho em direção a Ipojuca e demais municípios. Por ela vem o que entra no Estado de Alagoas e demais cidades da Mata Sul. E (para ela) converge todo do tráfego em direção ao porto que vem do Nordeste da BR-101 e da BR-232.
Mas ela foi ficando ali. Aguentando o tranco. Então, com essas chuvas, o estrago ficou maior e mais visível. Só que isso custa caro ao setor de transporte de cargas.
E, justiça se faça. O segmento vem pressionando o Governo do Estado há muito tempo. Mas o fato é que a PE-60 nunca foi prioridade há mais de 15 anos.
Então agora isso ficou mais constrangedor, exatamente porque o Governo do Estado não priorizou sua rodovia economicamente mais importante.
Entretanto, isso não acontece por uma determinação de Paulo Câmara contra a rodovia. Certamente que não.
Mas pela falta de estrutura que sua gestão tem em relação ao setor de estradas.
No ano passado, o DER-PE virou uma instituição fantasma com a aposentadoria dos últimos dos seus 16 engenheiros que ainda trabalhavam como servidores públicos. O DER-PE chegou ao ponto de contratar terceirizados para fiscalizar obras que contratava de outros terceirizados.
Numa resposta a uma matéria da Coluna, a secretária de Infraestrutura, Fernandha Batista, disse que o DER-PE faria um concurso e restauraria as instalações do órgão.
Isso, naturalmente, reflete na sua pasta e ela precisou tentar uma reorganização na Secretaria de Infraestrutura.
E acaba provocando situações curiosas. O TCE - que cuida da fiscalização dos contratos - tem hoje uma estrutura e experiência bem maior que o Governo do Estado na área de rodovias. Resultado: o agente fiscalizador é muito melhor equipado que o executante.
Existem coisas que não deveriam passar despercebidas ao gestor. Se a PE-60 é a rodovia do ponto de vista econômico mais importante, ela deveria ser a primeira a receber recursos para uma restauração definitiva desde o ano passado, quando o governador Paulo Câmara decidiu lançar o Projeto Retomada. Mas não foi.
Agora com a crise, o governo anuncia a obra da PE-15. Mas com o velho problema: contratar gente para fazer o projeto básico e depois o executivo, o que certamente não vai permitir que ele inaugure a obra até dezembro.
No final, o governador parece estar preso numa armadilha burocrática que o impede de ser uma referência do setor de transporte, especialmente nas rodovias.
Demorou a contratar os projetos e agora não vai poder ver os resultados no cargo. A PE-60 poderia (se fosse reconstruída mirando sua importância estratégica para Suape) ser um marco no seu último ano de gestão.
Infelizmente, a contratação de sua restauração agora e depois da tragédia das chuvas na Zona da Mata só vai consolidar a imagem de que ele demorou muito a tomar a decisão, apesar de afirmar na sua comunicação que desde 2021 está com dinheiro no caixa para investimentos.