O preço do boi parou de subir. Mas ainda não baixou ao ponto de fazer o consumidor voltar com força. Segundo os institutos que analisam os produtos agrícolas, nos últimos seis meses o preço da arroba (15 quilos) passou de R$ 344,71 em março para R$ 313,66, numa queda de 9,01%.
Também baixaram os preços dos bezerros, de R$ 2.800,89 para R$ 2.691,92 numa queda de 3,89%. Além disso, a oferta de fêmeas para abate também têm aumentado em todo o País, por ser um animal relativamente mais barato que os machos, de modo que isso também se torna fator determinante para a redução dos preços da carne.
Finalmente, um aumento da oferta de boi gordo, em algumas regiões devido às secas fazendo que os produtores ofereçam seus animais para garantir a recuperação das pastagens e em outras regiões devido ao início das ofertas dos bois de confinamentos.
Apesar de todos esses fatores, os preços na ponta ainda não provocam um aumento de consumo devido à queda na renda do consumidor, que desde a alta de 2021 foi abandonando o consumo de carne vermelha pelo frango e a seguir pelo consumo de suínos, além do ovo.
Entretanto, em 2022, não há indicações de que o consumo no mercado interno volte a crescer a despeito das exportações no primeiro semestre que segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, realizadas com base em dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia), que apontam um faturamento de US$ 79 bilhões 26% acima de 2021.
Na verdade, o mercado de carne bovina está experimentando uma queda depois que os preços no varejo subiram 51% ao longo dos últimos dois anos, refletindo fortes volumes de exportação.
Mas antes dos preços, o consumo de carne bovina caiu ao menor nível nos últimos 16 anos, com 24,8 kg consumidos por cada brasileiro durante o ano de 2022, comparado a 2006 quando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) começou a medir.
Naquele ano, havia uma disponibilidade de 42,8 kg de carne bovina por pessoa. Há 10 anos, em 2013, baixou para 38,3 kg.
Parte desse fenômeno se deve a uma nova realidade do agronegócio, especialmente as exportações de carne. Em pouco mais de 20 anos, o crescimento dos embarques foi de 1.268,4%, oscilando de 9,8 mil a 134,0 mil toneladas/mês. São números impressionantes. Em janeiro, as exportações de carne bovina brasileira aumentaram 32,2% e chegaram a 7,1 mil toneladas, por dia.
Em julho de 2020, o Brasil já chegou a embarcar 169,2 mil toneladas, impulsionado principalmente pelo crescimento da demanda chinesa pela carne bovina brasileira.
A China não compra apenas carne de boi. As exportações de carne de frango devem crescer 6% e podem atingir um novo recorde neste ano, ultrapassando 4 milhões e setecentas mil toneladas segundo a Conab.
O crescimento das exportações brasileiras não afeta o abastecimento de carnes dentro do País. Com uma produção média em torno de 28 milhões de toneladas, a estimativa é superior a 90 quilos de carne por ano para cada brasileiro.
E no caso das aves, a produção nacional se aproxima de 15 milhões de toneladas por ano, o que garante uma disponibilidade de 48 quilos por pessoa. O problema está nos preços. Cotada em dólar, a carne no mercado interno reflete o preço internacional.
O caso da carne de porco reflete bem isso. As vendas externas dos produtos suinícolas in
natura tiveram forte incremento de junho para julho, embora o preço pago pela tonelada
da carne brasileira no mercado internacional tenha recuado. Isso ajuda o consumidor brasileiro que pode comprar carne de porco mais barata.
Mas segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) haverá aumento nas importações chinesas de carne suína. Tradicionalmente, a China eleva as aquisições neste período para a formação de estoques devido ao evento festivo Golden Week, ou Dia Nacional da China, que ocorre no começo de outubro, e à antecipação das compras para o Ano Novo Chinês, celebrado entre janeiro e fevereiro.
Além disso, a abertura de novos mercados, como Canadá e Tailândia, e as reduções tarifárias da Coréia do Sul e do Vietnã também podem favorecer a carne suína brasileira no cenário internacional.
Toda essa movimentação faz com que o consumidor brasileiro acabe comendo menos carne e mais ovo, produto cuja produção deverá alcançar extraordinárias 54,5 bilhões de unidades. Ou algo como 1.728 ovos por segundo. E que poderá chegar até 56,2 bilhões de unidades em 2022.
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