Talvez a frase que melhor defina Mikhail Gorbachev é a de que ele encerrou a Guerra Fria sem derramamento de sangue.

O líder russo, que morreu nesta terça-feira (30), aos 91 anos, era conhecido por ter uma espécie mapa (na verdade, um sinal de nascença) na testa; por ter uma esposa classuda e inteligente que influenciou as mulheres do mundo inteiro no final dos anos 80 e por ter sido agraciado, em 1991, com o Nobel da Paz. Gorbachev foi talvez o líder russo mais admirado pelo ocidente.

O problema é que Mikhail Sergeevitch Gorbachev, além de ter sido o último presidente com poderes executivos da Rússia e saudado como autor de "mudanças radicais nas relações entre o Ocidente e o Leste", sendo responsável por importantes reformas, como a "glasnost", que visava ampliar a liberdade de imprensa, e "perestroika", com o objetivo de descentralizar a economia, acabou levando à quebra da economia soviética, que não estava estruturada para essa mudança radical. E Gorbachev não se preparou para isso.

É importante dizer que o fracasso de Gorbachev nos levou a outro tipo de líderes russos, como Boris Yeltsin, que nos legou Dmitry Medvedev, que nos legou Vladimir Putin.

A ideia, até certo ponto romântica de uma Rússia livre e atuante no livre mercado global, chocou o ovo da serpente do qual saíram os oligarcas que anos depois passaram a dividir pedaços da economia russa e que, através de Putin, sufocaram a proposta de um país com ampla liberdade de imprensa, o que Gorbachev, de fato, prezava.

Quando Gorbachev foi eleito secretário geral do PC russo, em 1985, ele era de fato verdadeiro líder da então União Soviética. E talvez só ele tivesse as condições de propor algo tão radical para uma Rússia que vinha de Joseph Stalin e Nikita Khrushchov. Sua morte nestes tempos de Putin e Ucrânia no faz lembrar como a liberdade era importante para o velho professor.