O professor e consultor Leonardo Guimarães Neto, que nos deixou nesta terça-feira, era, certamente, uma das pessoas que melhor acompanhou a trajetória de desenvolvimento da chamada tecnologia de planejamento, quando o economista Celso Furtado (então superintendete da Sudene) começou a implantar no Nordeste na década de 60 a ciência, que legou a estruturação de todas as secretarias de planejamento dos estados da Região.
Isso visto da perspectiva de hoje - quando os governos passaram a administrar folha de pessoal e pagamento dos percentuais que a Constituição de 1988 determinou com 25% da Receita Corrente Líquida para Educação e mais 16% para a Saúde - pode parecer obvio e burocrático. Mas não é.
Quando a Sudene e o BNB começaram a puxar o desenvolvimento do Nordeste junto com a Chesf (que em muitos anos foi estratégica com seu quadro de pessoal qualificado para se começar a pensar esse conceito), os governos dos estados não tinham ferramentas de gestão para pensar o que desejavam como entre sub-nacionais.
Foi a Sudene quem começou a formar esse pessoal, e Leonardo Guimarães Neto fez parte desse núcleo junto com o seu criador, o economista Celso Furtado. E foi Leonardo quem fez parte da equipe que estruturou instituições como a Fidem - que implantou o conceito de Região Metropolitana. Anos depois, o Condepe (de Pernambuco) e a Fidem foram reunidas na atual Agência Condepe-Fidem.
Leonardo Guimarães Neto formou-se em Economia na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), no Recife, depois em Sociologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e concluiu o Doutorado em Economia pelo Instituto de Economia da Unicamp (IE-Unicamp).
Anos mais tarde, em 1996, ele se juntou como sócio na fundação da Ceplan junto com os economistas Tânia Bacelar, Aldemir Guimarães e, mais tarde, Paulo Guimarães, seu filho que chegou a dirigir a regional do BNDES.
Paulo se despediu do pai dizendo que ele foi “uma pessoa que sempre teve a preocupação no social, numa vida mais igual e de menores diferenças sociais e regionais, no nosso Brasil – era o foco de estudo dele, a região Nordeste e as questões regionais.”
Seguindo a tradição acadêmica desse grupo de amigos, ele também foi Professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da UFPE. E autor de diversas obras, entre elas Formação Econômica do Nordeste e a coletânea de artigos Brasil Caminhos e Descaminhos.
Mas uma coisa que Leonardo Guimarães sempre foi diferenciado: É que (como Tânia Bacelar), tinha uma extraordinária capacidade de explicar conceitos de economia não só a seus alunos e mais tarde seus clientes, mas a jornalistas, ajudando a produzir informação sem complicação.
Talvez porque tenha sido o professor da maioria dos economistas que viriam se tornar secretários de planejamento quando os estados do Nordeste estavam estruturando essas pastas aparatadas da secretarias de Fazenda.
A contribuição do professor Leonardo ao Nordeste talvez tenha sido esta: ensinar a quem assinava ordem de despesa que era preciso entender para onde estava destinando aquele pacote de dinheiro que o governador estava recebendo ou tomando emprestado. Naturalmente com uma visão social diferenciada.
A professora Tânia Bacelar acerta quando lembra que foi colega de Guimarães nos bancos da graduação em Economia da Unicap quando ele já era funcionário contratado como sociólogo e da Sudene.
E quando lembra que sua tese de doutorado é um marco na interpretação da dinâmica regional do Brasil industrial! Com o conceito de “integração produtiva“.
Ele explicou porque o Nordeste deixava de ir mal quando o Sudeste ia bem e passava a acompanhar a dinâmica nacional!
Também é muito justo o seu amigo Aldemir do Vale, que também faz parte da Ceplan, quando diz que ele teve um papel muito importante nas discussões sobre a economia regional, com foco no Nordeste. "Não tinha alguém que se ombreasse a ele, sobre os problemas do Nordeste, sempre uma referência a Celso Furtado, com quem trabalhou", diz Vale.
Talvez essa fosse mesmo a referência diferenciada de Guimarães. Ele estava na Sudene quando Furtado estava escrevendo as bases da formação da novas bases da economia do Nordeste e participou quando Furtado começou a falar que a função dos incentivos fiscais era a formação de grupos de capital no Nordeste.
E ele falava isso não porque alguém lhe tivesse contado ou aprendera nos livros que Furtado escreveu. Falava como testemunha desse processo.
As pessoas, nesses momentos, sempre dizem que Guimarães era um grande ser humano e profissional.
Isso é verdade. Mas talvez a maior marca do professor tenha sido o seu compromisso com o Nordeste.
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