Um estudo da Boeing estima que o mercado de aviões comerciais deve absorver 41 mil novos aviões a jato nos próximos 20 anos. E que a procura será maior na região da Ásia-Pacífico, que compreende os países da Oceania e do continente asiático, excetuando as ex-repúblicas soviéticas. Em outras palavras, a China.
Esse é um mercado disputado não apenas pela americana Boeing e pela AirBus, conglomerado europeu se consolidou como o maior fabricante mundial de aeronaves comerciais. A brasileira Embraer está em terceiro e a canadense Bombardier que vem a seguir.
Outros estudos apontam que a Embraer estima uma demanda de 10.500 aviões no segmento de até 150 assentos, incluindo turboélices, até 2036. Ela também prevê que apenas de aeronaves a jato, como as produzidas pela brasileira, poderão ser comercializadas 6.400 unidades, totalizando US$ 300 bilhões.
Mas o fato novo do ano sem dúvida é a entrada da estatal chinesa Comac, que entregou o primeiro C919, sua maior aposta, e que que já fez o seu voo inaugural – três pilotos tiveram o privilégio de levar a aeronave do Aeroporto Internacional de Shanghai Pudong para o Aeroporto Internacional de Shanghai Hongqiao.
Como tudo que acontece na China, a Comac tem a preferência nas compras das empresas chinesas que devem, também segundo estudo da Boeing, adquirir nada menos que 7.500 aeronaves de grande porte. A expectativa da empresa é até 2035 capturar 20% da participação no mercado global de aviões de fuselagem estreita.
Prova disso é que China Eastern Airlines (CEA) foi a primeira companhia aérea a receber a mais nova aeronave chinesa, o Comac C919. Com o modelo, o país oriental quer brigar com a Airbus e a Boeing no mercado de aviões de fuselagens estreitas, competindo com o A320 e o 737, os aviões mais usados no planeta.
Esse é um negócio de grande números. Por exemplo: um único Airbus A350-1000 custa nada menos que US$ 366,5 milhões (R$ 2,1 bilhões). Ele pode chegar a ter uma capacidade para até 440 passageiros. Esse jato intercontinental pode voar mais de 16 mil km sem precisar reabastecer. Com velocidade máxima de 945 km/h, o A350-100 já tem 56 unidades voando em empresas aéreas. Detalhe: a mesma China Eastern Airlines vai comprar 100 unidades do mesmo tipo, avaliadas em US$ 12,8 bilhões.
A entrada da Comac deve provocar um grande impacto no mercado. A avião chinês tem 164 lugares, sendo 8 na executiva e 156 na classe econômica. São duas fileiras de três lugares e o assento do meio é 1,5 cm mais largo que os assentos do lado (da janela e do corredor), levando um conforto extra para quem já é obrigado a se sentar entre duas pessoas.
Uma das coisas que mais chama a atenção é que o C919 é uma aeronave que tem um dois maiores índices de tecnologia chinesa embarcada no mercado. Ou seja, ele pode ser fabricado com a maioria das peças produzidas na própria China.
A Airbus opera desde 2008 uma linha de montagem em Tianjin, quinta maior cidade chinesa, para finalização do A320, e a Boeing está construindo, em parceria com a chinesa Comercial Aircraft Corporation of China (Comac), uma planta para produzir o 737 MAX em Zhoushan, no leste do país.
Até mesmo a Embraer, com seu jato E190-E2, tem o Certificado de Tipo da Administração de Aviação Civil da China, a CAAC (Civil Aviation Administration of China) para a certificação do jato E195-E2, maior aeronave comercial da Embraer, cujo processo já está em andamento, ocorra em breve. Este ano a Embraer levando seu principal jato comercial, o E195-E2, para o 14º Airshow China 2022, maior evento aeroespacial da China.
Historicamente, o mercado aeronáutico tem sido dominado por dois duopólios. De um lado, a norte-americana Boeing, líder mundial em vendas de aviões, disputa com a europeia Airbus, a vice-líder, o segmento de jatos de médio e grande porte, acima de 150 passageiros.
Do outro, a Embraer e a canadense Bombardier são rivais no segmento regional, caracterizado por aeronaves menores projetadas para voos mais curtos, muitas vezes entre aeroportos secundários. A Embraer lidera o segmento de aeronaves de até 150 assentos com 30% do mercado.
Como o produto é de alto valor – os jatos E2 custam por volta de US$ 60 milhões, enquanto um Boeing 737 MAX (138 lugares) sai por quase US$ 100 milhões –, as empresas aéreas recorrem a financiamentos de longo prazo, em grande parte supridos por organismos governamentais de fomento à exportação, para efetivar o negócio.
A aposta da China num avião próprio faz sentido. O país programa construir ou melhor as instalações de ao menos 200 aeroporto comerciais depois da pandemia. O mercado da aviação comercial na China está em forte recuperação em julho, de acordo com a Administração de Aviação Civil da China (Caac), com taxas de voos superior a dez mil por dia, atingindo o pico de 12 mil, no último fim de semana.
A Caac revelou dados de tráfego nos últimos meses, dos quais o volume de tráfego doméstico de passageiros em abril se recuperou para 14,8% em relação ao mesmo período de 2019, crescendo para 46,2% em junho.
Somente entre os dias 4 e 10 de julho, 1,2 milhão de passageiros passaram pelos aeroportos do país, 12% a mais do que no mesmo período de julho, segundo dados divulgados pelo jornal chinês Global Times.
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